sábado, 29 de agosto de 2020

Mercados e feiras do Sabugal

Regresso do mercado ao centro do Sabugal
Tendas do mercado do Sabugal

Os mercados e as feiras do Sabugal

Há, no Sabugal, dois mercados mensais, na 1ª quinta-feira e na 3ª terça-feira de cada mês, e duas feiras anuais, a de São Pedro, dia 29 de junho, e a das melancias, na 1ª quinta-feira de setembro. 
As feiras eram muito fortes, havia muitas tendas, muita gente a vender e a comprar. Era um acontecimento para as aldeias, às vezes, dizia-se aos miúdos: “se te portares bem, se fizeres isto ou aquilo, levo-te à feira”. Nos dias de feira, até, podia haver baile, era como se fosse uma festa.
Primeiro, ia-se ao mercado de burra, aparelhava-se com a albarda e os alforges, onde se levava o que era preciso. Em cima, podia ir uma pessoa a cavalo e a segurar um “talego” ou uma cesta, com o que fosse necessário levar, dependia da época do ano e do que se tinha para vender. Num tempo em que quase não havia dinheiro, tinha de se levar o que vender – podiam ser queijos, ovos, sementes, galinhas, frangos..., o que houvesse em casa – para se poder comprar o que fizesse mais falta, com esse dinheiro que se fazia.
Tinha de se ir cedo e contar com as duas horas do caminho, para não se chegar tarde; quando isso acontecia, já não se vendiam, nem se compravam, as coisas da mesma maneira, embora os mercados fossem o dia todo. Quando se chegava, descarregava-se a burra, onde se queriam deixar as coisas e ia-se prendê-la a um certo lugar – quase todas as pessoas tinham, mais ou menos, um curral ou um sítio onde pôr a burra em segurança.
Os mercados já estiveram em vários locais, primeiro, eram dentro da vila, aí pela fonte, rua das Tílias, espaço frente à câmara e ao chafariz e noutros sítios; depois, foram mudados para a rua e o espaço perto cemitério e agora já são noutro lugar. Havia o mercado das sementes, o mercado ovos, coelhos e galinhas; o mercado do gado; e o mercado das tendas com loiça, ferragens, lata e latão, alumínio, ouro (havia muitos ourives nos mercados), roupa, calçado...

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Lojas de venda - as medidas

 

 

Uma balança de pratos iguais  

As medidas aferidas

Todas as medidas eram aferidas; vinha alguém, da câmara municipal, ver se estavam certas: da parte da taberna, aferiam o litro, o meio litro, o quartilho e meio quartilho; da parte da mercearia, o quilo, o meio quilo, os duzentos, os cem e os cinquenta gramas.

Os cartuchos

Vinham já feitos, dobrados uns em cima dos outros. Eram de papel manteiga grosso, podiam ser acinzentados ou avermelhados, havia-os de um quilo, de meio quilo e, se calhar, até, maiores e mais pequenos. Quando se queria abrir um, para pôr dentro a massa, o arroz, o açúcar..., metia-se a mão até ao fundo e o cartuxo tomava logo a forma de um saco. Para fechar por cima, juntavam-se as extremidades, dava-se uma dobra ou duas e dobrava-se, ainda, um bocadinho das pontas e virava-se; ficava um saco quase perfeito e bem fechado.[1]

As medidas rasas

Para medir cereais, pão, milho, feijão..., havia também medidas certas, feitas de madeira: o alqueire (16 litros), o meio (8 litros), a quarta (4 litros) e o litro; enchiam-se e passava-se por cima um “rasadoiro”, uma espécie de régua de madeira, para se tirar o que estivesse a mais.

Estas medidas não existiam só nas vendas, todas as pessoas as tinham em casa, estavam sempre a ser precisas para se medir uma coisa ou outra. 

 

[1]Agora, por preocupações ambientais, voltaram estes sacos, é frequente vê-los, embora o papel seja diferente.

sábado, 22 de agosto de 2020

Lojas de venda (1)

O café de aguas
Café de Águas Belas - há sessenta e tal anos era uma loja com taverna e mercearia



As lojas de venda

Mais lá atrás, houve uma taberna, do senhor Manuel Félix, ao terreiro, e uma loja, de mercearia e outros produtos, do senhor Paixão, à praça. Mas, as vendas que todos recordam são a mercearia e taberna, do senhor Diamantino Pascoal, ao cimo do povo, que depois ficou para o filho, o senhor Ilídio Pascoal, que a explorou até poder, depois, fechou e nunca mais reabriu; e outra, também mercearia e taberna, do senhor Alípio Firmino, ao fundo do povo. Esta última transformou-se em café, anos mais tarde; quando o dono morreu também esteve algum tempo fechada, mas reabriu e atualmente é explorada por uma filha, a senhora Isabel Firmino.

 

As vendas a granel

Quase tudo nas antigas mercearias era vendido a granel, ao peso. As pessoas diziam quanto queriam levar de arroz, de massa, de açúcar, de farinha, de sal, de café..., e os comerciantes, faziam a pesagem. Usavam-se balanças de pratos iguais: num dos pratos, punha-se o que se queria pesar e, no outro, as medidas de peso, até os ponteiros ficarem “certinhos” um com o outro. Mais tarde, houve aquelas balanças automáticas que, até ao quilo, marcavam logo o peso.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

O comércio: vendas à porta

 


As vendas à porta de casa

Durante muito tempo vinham os compradores à porta: “tem batatas para vender? Olhe que venho cá apanhá-las, tal dia”. Na altura das castanhas, a mesma coisa. Quem queria vender, se via que o preço não era mau, aproveitava. Também, havia negociantes de cá, para a batata e a castanha.

Para tudo o que se colhia e criava, havia compradores: uns compravam vacas e bezerros, outros cabras e cabritos, outros ovelhas e borregos, outros porcos e leitões, outros galinhas, frangos, ovos...; até as peles das reses que se matavam se vendiam – punham-se a secar, de modo a não ficarem com nenhuma dobra e depois guardavam-se, até ao dia em que aparecesse um comprador.

O ferro velho

Com o ferro velho, igual, guardava-se até ao dia em que um comprador chegava e levava tudo, pagava pouco ou nada, mas as pessoas livravam-se daquilo que não servia para nada. Ainda agora é assim, o homem do ferro velho já não vem de burra e de saco às costas, mas vem de carrinha e leva o que já não presta.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O comércio - as trocas diretas

 

O comércio era muito pouco desenvolvido. Só se comprava o indispensável, para as pessoas, as casas e a vida do campo. Talvez, os mercados e as feiras fossem os locais mais importantes, para a compra e venda de produtos, embora existissem outros locais e outras formas de o fazer.

Louça de Barro Foto de Padroense | Olhares - Fotografia Online
Loiça de barro

 

As trocas diretas

Vinham cá ao povo vender coisas que se podiam adquirir, por troca com produtos de cá. Da Idanha, vinham louceiros vender pratos, malgas, em barro vidrado e fino; mas também barranhas, barranhões, cântaros e bilhas de barro mais grosso; não havia plástico, toda a loiça era de barro. Montavam a tenda ali à praça, quase sempre no curral da ti Conceição e aí ficavam dois ou três dias.

Trocava-se a loiça por sementes; mais, por pão, mas também podia ser por batatas, feijão, milho…, conforme o valor do que se comprava, assim era a quantidade de semente que se dava em troca. Por exemplo, podia-se comprar uma barranha por uma malga de feijão ou duas de milho; também se podia comprar a dinheiro, mas pouca gente o tinha.

Não era só loiça, também vinham vender, por exemplo, laranjas: uma barranha de laranjas por uma de batatas; como cá não havia laranjas, era uma festa para os miúdos se as mães fossem trocar batatas por laranjas.

 

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Artes e ofícios - os carpinteiros e os serradores



Os carpinteiros

Não havia oficinas de carpintaria abertas, mas havia carpinteiros que faziam portas, janelas e todo o trabalho de madeira que era preciso fazer nas casas que se construíam. Cá havia um senhor chamado Carlos Costa e na Quinta do Clérigo um senhor chamado Fernando que trabalhavam muito bem na madeira.

 

Os serradores

Um outro trabalho do tempo antigo, feito com a força dos braços, era a serração de madeira. Com umas serras grandes, dois homens, um em cada ponta, serravam um pinho ou outra árvore, em tábuas mais grossas ou mais finas, conforme o destino da madeira. Saber serrar bem era uma coisa que tinha de se aprender; os serradores tinham de ter movimentos certos, um com o outro; também, tinham de saber como colocavam o tronco, como o seguravam ou como o moviam.

Havia no Espinhal um senhor, chamado Sebastião, que era um grande serrador, ensinou os filhos, todos serravam, e até rapazes de cá aprenderam com ele a arte de serrar madeira.


segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Costureiras, alfaiates e sapateiro

Maquina Costura Antiga - Antiguidades e Coleções no Mercado Livre ...

Uma máquina de costura antiga 

 

 

As costureiras

Apesar de em quase todas as casas haver uma máquina de costura e de, bem ou mal, todas as senhoras darem um jeito na costura – fazerem para casa – havia costureiras que trabalhavam para fora.

No tempo mais antigo, uma senhora chamada Etelvina e uma senhora chamada Amélia faziam roupa de mulher, combinações, saiotes, saias, blusas e casacos; a primeira, também, fazia roupa de homem, camisas, calças, ceroulas e camisas.

 

Os alfaiates

Só faziam roupa de homem, calças, camisas e casacos; houve, primeiro, um senhor chamado Joaquim Ângelo que trabalhou até ir para a França. A seguir, houve outro alfaiate que era da Bendada, um senhor chamado Júlio. Mas não esteve muito tempo, começou a haver fábricas de confeção e a aparecer roupa feita nos mercados e o trabalho dos alfaiates foi acabando.

 

O sapateiro

Havia cá uma oficina de sapateiro, montada com tudo o que era preciso para fazer sapatos de raiz, com moldes e todas as ferramentas necessárias, de um senhor chamado Manuel Fernando, que funcionou durante algum tempo. Mas, quando começaram a aparecer sapatos a vender nos mercados, esta e outras oficinas semelhantes foram acabando.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

As tecedeiras

CURIOSIDADES: – TEARES PELO MUNDO (c/fotos e vídeo) | A Tecelagem ...
Tecedeira num tear antigo


Havia vários teares cá no povo, uma pessoa ou outra teciam para fora, por exemplo, uma senhora chamada Josefa Máxima. Primeiro, quando ainda se cultivava o linho, urdiam-se teias de linho fino, para fazer lençóis, toalhas de mesa e lavatório e até camisas para os homens..., e teias de linho grosso, estopa, para fazer sacos para o pão, para as batatas e para o que fosse preciso.
Quando se começou a comprar tecido nos mercados, as tecedeiras quase deixaram de urdir teias de linho, muitas passaram só a tecer mantas de farrapos.

Fiar, fazer meadas e novelos

O linho fiava-se com uma roca e um fuso. Colocava-se na roca, depois de passar pelo “sedeiro”, na posição correta; o fio passava pela roca, era torcido pelos dedos e enrolava-se no fuso.
Depois de fiado, tirava-se do fuso e colocava-se numa “rodinha” para se fazerem as meadas. As meadas eram cozidas e lavadas, várias vezes, as que fossem precisas, até ficarem branquinhas; usavam-se cestos com palha e cinza, como se fazia nas “barrelas”. Quando estivessem bem lavadas, punham-se a enxugar.
Por último, depois de tratadas e secas, as meadas eram colocadas, uma a uma, num “argadilho” para se fazerem os novelos que serviam para urdir as teias nos teares.

Mantas de farrapos

Os farrapos faziam-se da roupa velha, já rota; cortavam-se em tirinhas, um centímetro e meio, era a olho, e enrolavam-se num novelo. Iam-se guardando os novelos que se iam fazendo, uns ao pé dos outros, e, quando se tivesse o suficiente, mandava-se tecer uma manta. Nesse tempo, serviam para tudo, até na cama se deitavam, faziam peso sobre as mantas de pêlo e ajudavam a aquecer.

sábado, 1 de agosto de 2020

Artes e ofícios - Os ferreiros



É hoje impossível imaginar como era a vida, nas aldeias desse tempo. “Ia-se pelo povo acima e o que se ouvia era o baralho dos teares e das máquinas de cozer”. Também, existiam pequenas oficinas para transformar produtos ou fazer pequenas reparações.

Profissões Antigas - Ferreiro. | Profissões, Fotos antigas, Antiga
O ferreiro

Os ferreiros

As forjas eram pequenas oficinas, onde trabalhavam os ferreiros. Cá houve sempre a de um senhor chamado Júlio Tracana, primeiro, aqui ao terreiro, quando se volta para a travessa que vai para a rua da Carreira, uma casinha pequena; depois, mudou-se lá para o cimo do povo. Nas forjas, havia sempre o lume aceso e uma grande “borralha”, onde o ferreiro punha o ferro a aquecer, para o destemperar, para ficar “a modo” de poder ser batido, com um martelo; o ferro destemperado, tomava a forma que o ferreiro queria.
Não havia soldas, nem nada, consertavam as coisas com pequenos arranjos; partia-se um pé a uma panela de ferro, tinha de se arranjar maneira de não vazar a água, colocavam-lhe uma espécie de parafuso, com uma chapinha. Os ferreiros, daqui, não faziam peças de ferro: sachos, enxadas, panelas, cadeias…, eram só um fraco remedeio.
Os ferreiros, também, ferravam as burras e as éguas, nessa altura, o meio de transporte mais usado e, por isso, tinham de andar sempre bem “calçadas”.
No Espinhal, havia um ferreiro, um senhor chamado José, que já fazia outras coisas, portas e janelas para as casas e grades para as varandas e os varandins.