sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Contos tradicionais - A lebre e o caracol

 

Contos tradicionais

 

Todas as crianças gostam de ouvir histórias e quase todos os adultos as sabem contar, mesmo que lhes acrescentem um ponto ou outro. O mesmo faço aqui, conto algumas das histórias que ouvi e que todos ouviram às mães, aos pais e aos avós, para que não se percam e continuem a ser contadas.

 

1- A lebre e o caracol

Era uma vez uma lebre e um caracol que combinaram fazer uma corrida, a ver quem chegava primeiro à meta. A lebre riu-se e pensou para si: “pobre caracol, como vai ele fazer uma corrida comigo”!

Partiram ao mesmo tempo e, num instante, a lebre apanhou uma grande dianteira. Quando olhou para trás, viu que o caracol, ainda, tinha andado muito pouco.

- Posso bem descansar, aqui debaixo desta árvore, que o caracol não me apanha tão depressa – pensou a lebre.

Assim, foi. Pôs-se a descansar, mas logo se deixou dormir. O caracol continuou a corrida, devagar, como são os passos do caracol, mas sem nunca parar. Quando passou pela lebre, ao vê-la a dormir, pensou que podia chegar, ao final da corrida, em primeiro lugar.

E foi isso o que aconteceu. Quando a lebre finalmente acorda, olha para todos os lados e não vê o caracol, começa a correr o mais que pode, mas o caracol já a tinha ultrapassado há muito tempo e preparava-se para cortar a meta.

A lebre teve de aceitar a vitória do caracol. Se não se tivesse posto a dormir, a pensar que era muito fácil vencer o caracol, não tinha perdido a corrida.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Mezinhas - ventosas, defumadoiros e lavagens

 

As ventosas

Serviam de remédio para dores e inflamações. Eram como pequenos copos, acendia-se um bocadinho de algodão em rama, molhado em álcool, para aquecer a ventosa; depois de quente, era colocada no sítio onde a pessoa sentia as dores, em cima da pele. “Deitar ventosas” era uma prática corrente, mas, como nem toda a gente as tinha, quem precisava de as deitar e não as tinha pedia a caixa das ventosas emprestada a alguém.

 

Os defumadoiros

Colocavam-se determinadas ervas, numa malga ou numa barranha pequena, misturava-se tudo com azeite e deitava-se-lhes o lume. Ao arder aquela mistura, acreditava-se que o fumo que penetrava no sítio do mal, fazia bem.

 

As lavagens

Havia ervas que eram consideradas boas para desinfetar feridas ou outras “inflamações” do corpo: as malvas e as urtigas. Coziam-se, coavam-se e com aquela água lava-se a parte do corpo que se queria desinfetar.

 

 

 

 

sábado, 16 de outubro de 2021

Mezinhas - chás, mel e aguardente

 

Mezinhas

 

Eram remédios feitos em casa. Para quase todas as maleitas, havia qualquer coisa que se podia fazer e tomar. Os mais usados eram os chás, mas também se usava o mel, a aguardente, os defumadoiros, as lavagens e outros.

Por exemplo:

- Para a dor de dentes, punha-se uma pedrinha de sal no buraco do dente, ou bochechava-se com aguardente, ou punha-se a cara a apanhar o vapor de uma panela com água a ferver, ou fumava-se um cigarro, na esperança que o fumo adormecesse a dor.


- Para calar os bebés, faziam-se chupetas de açúcar. Pegava-se num pano limpinho, podia ser de linho, de pano cru ou um farrapinho que fosse mole, cortava-se e punha-se-lhe dentro um bocadinho de açúcar; a seguir dobrava-se, atava-se com uma linha e dava-se a chupar aos meninos; eles sossegavam.

 

Os chás

Os chás eram ervas que se apanhavam nos campos, nos lameiros, nas tapadas e nos montes. Escolhiam-se, lavavam-se bem lavadas, secavam-se e guardavam-se para poderem ser utilizadas para fazer o chá.

Os poejos e as “marcelas” eram para a dor de barriga; as barbas do milho e as flores do sabugueiro eram indicados para as constipações; a pimpinela era para o fígado; a flor da laranjeira e a flor da tília eram utilizadas como calmantes. Para além destes, mais usados, havia muitos outros chás.

 

O mel

O mel das abelhas foi desde sempre considerado um remédio natural. Muitas pessoas tomavam-no simples, uma colher de mel, como um fortificante que fazia bem aos ossos e a outras doenças.

Também se faziam remédios com o mel, por exemplo, leite quente com uma colher de mel para as constipações, as dores de garganta e a gripe.

 

A aguardente

Era usada como desinfetante e como remédio para curar as gripes e as constipações. Fazia-se uma ferida, limpava-se e desinfetava-se com aguardente; doía que eu sei lá, mas, como era para curar, aguentava-se.

Também se usava tomar com leite quente, quando se tinha dor de garganta, se estava constipado ou com gripe. Tinha de ser tomado antes de ir para a cama para servir de remédio.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Pessoas que tratavam - o barbeiro e o bento

 

O barbeiro

Era uma espécie de médico, alguns até pareciam saber mais, davam receitas da farmácia mais “inteligentes” do que os médicos. Também davam remédios caseiros, davam dietas tiravam os dentes... O de Pousafoles era um grande barbeiro; ao médico quase ninguém ia naquele tempo.

 

O bento

Acreditava-se que era uma pessoa com poderes especiais; viam e sabiam tudo, nem era preciso a pessoa, que precisava de ajuda, estar presente, bastava levar uma peça de roupa, para o bento ou a benta falar e poder ajudar na cura da doença ou na solução do assunto que se tinha lá ido tratar.

Era uma coisa quase secreta, quem acreditava, ia, quase em segredo, tomava e fazia o que lhe era recomendado e esperava-se que o mal desaparecesse ou o assunto se resolvesse. Não levavam nada, mas, quem lá ia, sempre deixava alguma coisa.

 

sábado, 9 de outubro de 2021

Pessoas que tratavam doenças

  Por aqui, havia pessoas entendidas que tratavam doenças. Não eram médicos, não tinham estudos, mas tinham um saber, que não se sabe bem de onde lhes vinha, e em quem as pessoas confiavam.

 

O endireita

Era uma pessoa que entendia dos ossos, das articulações, da coluna... Sempre que alguém dava um mau jeito, “desmanchava” ou partia um braço, uma perna, um pé..., ia ao endireita. Conforme o mal e as queixas, assim o endireita fazia.

Andava sempre alguém, com um braço, um pé ou uma perna ligada; por vezes, punha-se uma “vima” e esperava-se que a entorse, ou o mau jeito, passasse; mas, muitas vezes, o problema, tinha uma gravidade que estava muito para além do que o endireita podia fazer. Por isso, antigamente, muitas pessoas ficavam aleijadas, desde novas, por partirem braços, pernas…, e não terem a assistência necessária. 

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Crenças - rezar às trovoadas

 

Rezar às trovoadas          

Quando havia uma trovoada muito forte, as pessoas rezavam:

 

Santa Bárbara bendita,

que no céu está “escrita”,

com um raminho de água benta,

arramai esta tormenta.

Levai-a para bem longe,

onde não haja nem pão, nem vinho

e nem flor de rosmaninho.

Em louvor de Santa Bárbara

Padre-nosso e ave-maria

                                                                                                       Rezava-se três vezes.

domingo, 3 de outubro de 2021

Rezas - o responso

 

 

O responso

Era uma reza para encontrar as coisas perdidas. Quando alguém perdia alguma coisa com valor, que queria muito encontrar, rezava ou mandava rezar, a quem soubesse, o responso a Santo António. Rezava-se, assim:

 

Santo António se levantou

E seus sapatinhos calçou.

Suas benditas mãos, lavou

e pôs-se ao caminho.

No caminho, Jesus encontrou.

Jesus lhe disse:

- Onde vais, Santo António?

- Senhor, eu Convosco vou.

- Tu Comigo não irás,

volta atrás e o (diz-se o nome do objeto perdido) tu o encontrarás.

Em louvor de Santo António

Um Padre-Nosso e uma Ave-maria.

                                                                                                      Rezava-se três vezes.