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domingo, 15 de março de 2020

As árvores de todos - as cerdeiras

Havia várias cerdeiras e uma amoreira que eram públicas, quem quisesse podia subir e colher os frutos.

As cerdeiras


Havia cerdeiras públicas, na Fonte Velha, quando se ia para as hortas, e junto ao adro da igreja, no caminho que ia para a Quinta do Clérigo. Algumas eram árvores grandes, difíceis de subir, só os rapazes mais fortes subiam sem dificuldade. As cerejas nem chegavam a amadurar, começavam a comê-las, mal começavam a pintar; depressa se acabavam. Às vezes, só já se viam cerejas, nas pontas dos ramos mais altos; mas, mesmo a essas arranjavam maneira de lá chegar, com uns galhos, que tivessem um gancho na ponta, puxavam os ramos para baixo e colhiam as cerejas.

segunda-feira, 9 de março de 2020

Bens públicos: os baldios, o campo de futebol...


Os baldios

São terrenos do povo que a junta de freguesia administra. Alguns eram arrematados todos os anos a quem mais desse; outros ficavam por arrendar e quem quisesse podia andar lá, sobretudo, os que davam mato e pastagens, como os baldios dos Barreiros, do Brejo, da Açude….
Ao longo do tempo, a maior parte dos baldios foi vendida; mas, ainda hoje, a junta de freguesia recebe a renda das torres eólicas do campo da bola, um baldio.

O campo de futebol

O campo da bola fica num baldio, lá para os lados da Sangrinheira. Há muito que não é utilizado, mas tempos houve em que os jovens, daqui, jogavam lá à bola, entre eles. ou com equipas de aldeias vizinhas, da Sobreira, da Quarta-feira...

As lajes

Para malhar o pão, havia lajes com grandes e boas “laijeiras”, algumas em propriedades que pertenciam a determinadas famílias, embora se pudesse malhar nelas, tinha de se ter ordem dos donos. Pedia-se-lhes: “posso levar o pão para a vossa laje?” Ninguém dizia que não.
Mas, a laje da Rã é pública, as pessoas que queriam punham lá o pão e o milho sem terem de pedir ordem ou favor ao dono da laje. Lá para o cimo do povo, bem perto da escola e também do lado de cima, há várias lajes. Há ainda a laje da Reduta, não longe do fundo do povo; não é do povo, pertence a uma família, mas punha-se lá o que se queria, pão ou milho, sem ser preciso pedir ordem, os donos não diziam nada a ninguém.

sexta-feira, 6 de março de 2020

A rede de água - os chafarizes



Os chafarizes

 
O chafariz do fundo do adro
Talvez, no início dos anos oitenta, explorou-se a água, para os lados da Sangrinheira, ainda lá está o depósito, e canalizou-se para três chafarizes: à capela, à praça e ao fundo do povo. Passados anos, foram construídos mais chafarizes: ao fundo do adro, à cruzinha e ao calvário.

A rede da água do povo


Alguns anos mais tarde, canalizou-se esta água para as habitações das pessoas. Como tinha sido explorada pelo povo, ligava-se a canalização das casas à rede e não se pagava nada. Nem sempre tinha a pressão adequada, às vezes, falhava, sobretudo, no verão, quando havia muita gente, mas foi uma coisa muito boa; quando há poucos anos se teve de ligar a rede doméstica à rede municipal, todos puderam ver a despesa que a água dá.

domingo, 1 de março de 2020

As presas do ribeiro e do ribeirinho



As presas do ribeiro e do ribeirinho


Durante o inverno e grande parte da primavera, lavava-se também a roupa em dois ribeiros: o ribeiro do cimo do povo e o ribeirinho ao fundo do povo. A água é de uma barroca que vem lá dos lados da Sangrinheira, atravessa o povo e corre para os lados de Vale Mourisco. Entancava-se a água numa espécie de presa e lavava-se lá bem, tinha lavadoiros e sítios para pôr a corar e para estender, embora pequenos; quando havia água no ribeirinho, as pessoas do fundo do povo não iam para outro lado lavar a roupa, tal como as do Calvário, quando havia água no ribeiro, não iam lavar a outro lado. O problema é que, ainda antes de entrar o verão, a água da barroca já não era suficiente para poder ser desviada para estas presas, chegando mesmo a secar.
Mais tarde, quando começou a haver água em casa, as pessoas compraram pequenos tanques de cimento para lavarem a roupa e deixaram de lavar nas presas. Agora, já nem esses tanques se usam, todas as pessoas têm máquinas para lavar a roupa.


As presas para lavar a roupa



As presas



Perto das fontes, havia uma presa para lavar a roupa. A presa da fonte Velha já não existe, foi desfeita, tiraram os lavadouros e aterraram-na, primeiro para fazer um grande largo, onde faziam os bailes, pelas festas e outros encontros e convívios; mais tarde, fizeram a sede da Associação e o pavilhão multiusos.

A presa da Fonte Velha


Junto à presa da fonte Velha, havia uma lameirinha, sempre de erva rente, para se pôr a roupa a corar – quando se punha roupa a corar, ensaboava-se muito bem e ia-se molhando, de vez em quando, porque, se secasse, ficava com uns vincos difíceis de sair – o sol tirava as nódoas e punha tudo branquinho. Não havia nem fios, nem molas, a roupa punha-se a secar naquelas paredes e silvas. Era preciso muito cuidado, para não rasgar a roupa.

A presa da Fonte Nova


A presa da fonte Nova ainda hoje lá está, ao cimo da rua da Carreira, do lado direito[1]. A água vem da fonte Nova atravessa a rua, por um pequeno aqueduto, empedrado, agora, com manilhas de cimento. Os lavadoiros, ainda lá estão, são pedras retangulares, grandes e linhas para se poder lavar sem romper a roupa. Como ficava num lameiro com dono, havia pouco espaço para pôr a corar e para estender, por isso, muitas pessoas preferiam a outra presa, embora a água da presa da fonte Nova estivesse mais limpa que a da fonte Velha.



[1] Foi há muito pouco tempo reabilitada; pode lavar-se nela, mas as pessoas já não têm esse costume.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

As fontes e os bebedouros



As fontes

A fonte nova
Havia duas fontes, que ainda existem, para abastecer de água toda a aldeia: a fonte Nova e a fonte Velha. De início, eram fontes de mergulho, funcionavam como poços, onde as pessoas com cântaros de barro e depois com cantaras ou baldes de plástico, iam buscar água para a sua alimentação e higiene e também para a comida do vivo e a limpeza das casas.
Mais tarde, fecharam as fontes, com uma porta de ferro e puseram em cima uma bomba manual; era preciso dar à bomba, para encher os cântaros. Era a mesma água, mas já não se mergulhava, ficava mais limpo; nas fontes de mergulho, muitas pessoas não tinham cuidado e a água sujava-se com palhiço e outras coisas, às vezes, até criava limos. Uma vez por ano, ou mais, era preciso limpar as fontes; despejava-se a água e roçava-se tudo bem “roçadinho”: o chão, as paredes e o teto. A limpeza das fontes era feita pelo povo, num dia combinado.

Os bebedouros     

O bebedouro da fonte velha
Junto às fontes, havia um bebedouro para o vivo; eram feitos de pedra, com uma fundura suficiente para todos os animais beberem. De vez em quando, mais à noite, quando vinham do campo, formava-se uma fila de vacas a querer beber; era preciso esperar pela vez. Os donos tinham de estar de olho nas vacas, senão, até, se podiam marrar. Primeiro, quando as fontes eram de mergulho, tirava-se a água da fonte com baldes, depois dava-se à bomba manual e a água corria para o bebedouro.
Mais tarde, construíram-se outros bebedouros, junto aos chafarizes, na Cruzinha, à igreja, ao cimo do povo... 



O forno

O forno comunitário 

A casa do forno fica na rua do Meio, entre a praça e o cimo do povo. Entra-se e tem, à frente, o forno circular, todo de pedra, do lado direito, o local onde se colocavam os tabuleiros do pão, e, do lado esquerdo, uma pia onde se colocava a água que servia para molhar o varredouro que varria o chão do forno. Foi reconstruído, há pouco tempo, tem no exterior uma placa: “forno comunitário”; na verdade assim era, foi usado durante muito tempo por toda a comunidade.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

A escola



A escola




A primeira escola foi na praça, no tempo da senhora professora Andrade, as pessoas mais antigas, ainda, se recordam. Depois, foi construída a escola que hoje existe, embora desativada, há muito, por falta de alunos. Foi construída naquele sítio, por causa das crianças do Dirão da Rua que vinham cá à escola, sempre ficava um bocadinho mais perto.
É uma escola do plano centenário (um modelo de construção do Estado Novo para edifícios escolares, por muitos lados, há escolas iguais a esta, neste caso, com uma sala de aula, um telheiro, duas casas de banho, uma para os alunos e outra para a professora (mas sempre fechadas, porque não havia água canalizada), um campo de recreio murado e um portão de entrada.

A sala de aula

A sala de aula com três ou quatro filas de carteiras, de madeira, antigas, ainda, daquelas que tinham tinteiros, na parte de cima, onde se sentavam duas crianças; uma secretária e uma cadeira para a professora; na parede da frente, um quadro preto, ao fundo da sala, um armário com livros e a um canto um fogão a lenha que, no inverno, é impossível estar-se sem aquecimento.
Por cima do quadro, havia uma cruz e dois quadros, um com o presidente da república e o outro com o presidente do concelho (no meu tempo, eram o Américo Tomás e o Salazar). Todos os dias, quando chegávamos à escola, antes de começar a aula, rezava-se e cantava-se o hino nacional. A seguir ao 25 de Abril, esta prática terminou, tiraram-se, das escolas, a cruz e as fotografias dos presidentes.

Os meninos do Dirão-da-Rua

Quero aqui homenagear estas crianças que faziam mais ou menos três quilómetros de manhã e outros tantos à tarde para virem à escola, chovesse, fizesse sol, houvesse frio ou calor. Pode imaginar-se a situação difícil em que o faziam, sempre a pé, com a sacola dos livros às costas e, muitas vezes, ainda, com o saco da merenda.  
Apesar destas condições, não facilitarem o aproveitamento escolar, havia bons alunos.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

A Casa Paroquial




A casa paroquial

Antigamente, os senhores padres residiam nas aldeias, em casas quase sempre construídas com a ajuda de toda a freguesia. Esta casa paroquial para a época da sua construção, tinha tudo o que era preciso, mas, agora, não tem condições para ser habitada. É uma construção de pedra, rebocada e pintada de branco, com janelas em todas as divisões. Com divisões espaçosas, soalho e tetos de madeira, o material da época. Pode dizer-se que está desaproveitada, embora possa servir para arrumações de coisas da igreja.

A horta do senhor padre

Havia na fonte velha uma horta ligada à casa paroquial, onde se cultivavam hortaliças e legumes. Deixou de ser cultivada e esteve muitos anos ao abandono. Anos mais tarde, exploraram a água, nesta horta, construíram dois poços.[1]



[1] Uma parte da horta, é hoje o bar da Associação

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Os cemitérios



O cemitério antigo          

O cemitério antigo

O primeiro cemitério foi dentro da igreja, era assim há mais de duzentos anos. Quando essa prática foi proibida, no século XIX, fizeram o cemitério junto à igreja, em 1878, e trasladaram para lá os ossos que encontraram na igreja. Havia, pessoas antigas que ainda se lembravam disso.
Este cemitério tem uma inscrição à entrada, do lado direito do portão, que diz: “Ó tu, quem quer que és, repara como eu estou, eu já fui como tu és e tu serás como eu sou” – é como que um pedido, um clamor, para os que passam tomem consciência de tudo termina ali.[1]
É pequeno e sem ordenação adequada; as pessoas sepultavam, mais ou menos, onde calhava; havia um sítio para os “anjinhos”, logo à entrada, de um lado e do outro, o restbens pante terreno foi todo ocupado, com sepulturas. As famílias guardavam as campas dos familiares falecidos para enterrarem outras pessoas da família – ainda agora é assim.
Parecia haver sempre lugar, mas quando se começaram a colocar as campas, e a junta de freguesia começou a vender o terreno das mesmas, já nos anos oitenta, o espaço foi diminuindo, até ao ponto de não haver lugar livre. Agora, neste cemitério, continuam a ser enterradas as pessoas que desejam ficar nas campas de familiares.



O cemitério novo        

O cemitério novo


O cemitério novo, não muito longe do antigo, foi construído num terreno, doado pela D. Emília Saldanha, e cumpre as regras para a construção de cemitérios, desta dimensão: muros altos, um portão de ferro; uma ala central, empedrada, e uma mesa em pedra para colocar a urna, enquanto se fazem as últimas orações; dois campos de enterramento, um de cada lado, com tabuletas numeradas; um passeio interior a toda a volta do muro; e um chafariz com água. O enterramento faz-se de forma ordenada.




[1] Foi uma oferta de…

sábado, 25 de janeiro de 2020

Os Cruzeiros



Há três cruzeiros: duas Alminhas e um Calvário.

As Alminhas

As Alminhas da Cruzinha
 
As Alminhas do Fundo do Povo

As Alminhas ficam ao fundo do povo e à cruzinha, à entrada e à saída da aldeia, para lembrar, a quem passa, que devemos rezar pelas almas do purgatório. Têm uma representação do purgatório e um dizer: “Vós que estais passando lembrai-vos dos que estão penando”.

A Cruz



Adicionar legenda


O Calvário é a cruz que está ao fundo do adro, com a inscrição: JNRJ (Jesus Nazareno Rei dos Judeus). A parte superior tem símbolos da paixão e morte de Cristo: a coroa de espinhos, ao centro; o martelo e os pregos, de cada um dos lados. A parte vertical tem um cálice. Está assente sobre uma base, onde se encontra o desenho de uma caveira a lembrar-nos de que somos mortais. 

O adro da igreja



O adro




O adro é o mesmo espaço que ainda existe hoje, mas sem muros e sem portões; não era raro, ver cabras ou burros a pastar no adro e pessoas às “leitugas” ou às ervas para os coelhos. Talvez, ainda na década de oitenta, foi murado com um muro em blocos de cimento e colocados dois portais, um bastante grande ao fundo e outro menor à frente do alpendre. Há pouco tempo, houve o melhoramento do adro, tiram os blocos de cimento e puseram um muro de pedra.
Ao longo do tempo, houve pessoas que plantaram árvores dentro o adro, pinheiros mansos, mimosas..., e outras plantas e flores junto à igreja e aos muros do cemitério, algumas já bastante grandes.

A mesa de pedra

 
A mesa onde colocavam as ofertas da festa
A mesa de pedra, em frente à varanda do sino, foi ali colocada para servir para a arrematação das janeiras dos santos – cá arrematavam as janeiras de Santo António e de São Sebastião – e também para pôr os tabuleiros das ofertas nas festas de Santo António.


As arrematações no fim da missa



As arrematações nas escadas da varanda

A varanda das arrematações de antigamente 
A seguir à missa, os mordomos arrematavam, nas escadas da varanda do sino, as esmolas que as pessoas tinham dado em géneros. Podiam ser enchidos, queijos, azeite, um coelho, uma galinha…, o que se tivesse em casa e se visse que podia render a importância que a pessoa desejava dar de esmola.

Os mordomos faziam as arrematações

Se eram esmolas para o Santíssimo, era o mordomo da igreja que fazia as arrematações; mas se fosse para Santo António ou outro santo, eram os mordomos desses santos que arrematavam as esmolas. O mordomo perguntava, a quem oferecia: “peço quanto?” E a pessoa dizia uma quantia. Era essa quantia que, depois, pedia:
- “Vai a arrematar por tanto (dizia o preço), quem dá mais?”
E assim começava a arrematação. Às vezes, havia várias arrematações, mas não era confuso, as pessoas ouviam, levantavam o braço e ofereciam dinheiro, para cobrir o lance anterior. Quando duas ou mais pessoas estavam interessadas na mesma coisa, assistia-se a um despique, o valor subia e rendia bem; outras vezes, não era assim, havia poucos interessados e rendia menos.
Só muito mais tarde, as pessoas deixaram de dar géneros, as esmolas passaram a ser dadas apenas em dinheiro, como ainda hoje acontece.