sexta-feira, 28 de maio de 2021

Dias de Festa - A romaria da Senhora da Póvoa (2)

 

O arraial

Depois da missa, ia-se comer o jantar, toda a gente levava uma merenda; depois do jantar, juntavam-se grupos, uns, cantavam à senhora da Póvoa, outros, começavam pequenos bailes.

 

As merendas

Cada pessoa levava o que entendia e o que podia: pão com queijo, chouriça, presunto..., um coelho assado ou guisado com batatas, bolos de bacalhau, doces..., o que cada um podia arranjar, porque a posses não eram as mesmas.

Ia-se para aqueles terrenos, logo do lado de fora do recinto, debaixo de uma oliveira ou num sítio que se encontrasse bom, estendia-se a toalha e comia-se. As pessoas estavam próximas umas das outras, podiam oferecer comida ou bebida, se fosse o caso, mas todas as famílias tinham a sua merenda.

 

Os cantares

Havia muitos grupos de cantadores, uns daqui e outros dali; juntavam-se, por terras ou por freguesias e começavam a cantar, algumas vezes, ao despique, versos à Senhora da Póvoa.

- Senhora da Póvoa/Nossa Senhora da Póvoa/ dizei-me onde morais/ ao fundo da serra de opa/ no meio dos olivais.

- Senhora da Póvoa/Nossa Senhora tão linda/ chegou a vossa nomeada/aos arrabaldes de Coimbra.

- Senhora da Póvoa/Nossa Senhora tão bela/ chegou a vossa nomeada à freguesia de Águas Belas.

- Refrão: Senhora da Póvoa/ Nossa Senhora da Póvoa/ viva a velha viva a nova/ viva a Senhora da Póvoa.

 

Os bailaricos

Havia também muitos bailaricos, com concertina, até. Quem queria e tinha vontade de se divertir, ia com outros rapazes e raparigas conviver um pouco.

 

terça-feira, 25 de maio de 2021

Dias de festa: A romaria à Senhora da Póvoa (1)

  Nessa altura, ir em romagem à Senhora da Póvoa, por promessa ou não, era um costume de muitas pessoas. Algumas iam todos os anos. Como todas as romarias, tinha uma parte religiosa e também uma parte de arraial e de diversão.

 

O caminho

Havia muita fé e devoção à Senhora da Póvoa; em horas de aflição muitas pessoas prometiam ir lá, no dia da festa, sempre, numa segunda-feira, do mês de maio. No domingo antes, grupos de raparigas e rapazes cantavam, pelas ruas do povo, à Senhora da Póvoa. Nesse dia, já passavam, por cá e por outros lados, grupos de romeiros, que cantavam e rezavam, pelo caminho.

Os grupos daqui abalavam no dia da festa, juntavam-se e iam a pé e nas burras, até lá. Tinham de abalar cedo, porque ainda são uns bons quilómetros, mesmo indo por caminhos antigos que encurtavam as distâncias, entre as terras. O santuário fica mesmo à saída da aldeia do Vale da Senhora da Póvoa, já do concelho de Penamacor.

 

A missa e as procissões

Há no recinto da Senhora da Póvoa uma igreja, mas no dia da festa, como havia muita gente, faziam uma missa campal, cá fora, junto ao coreto; havia um sermão e uma procissão ao redor do recinto.

À tarde, havia também uma procissão que levava o andor da Senhora da Póvoa para dentro da igreja, era como uma procissão do adeus.

Todas as pessoas visitavam a igreja, para rezar, deixar uma esmola e recolher “um santinho” com a imagem. Às vezes, até se levava uma esmola de uma pessoa que não tinha podido lá ir e trazia-se também uma imagem para ela.

 

sábado, 22 de maio de 2021

Dias de festa - A festa de Santo António (6)

 

Os bailes

Os bailes também faziam parte da festa, quase sempre, eram dois dias, domingo e segunda-feira. Havia um tocador ou até dois, um para cada dia. Começavam logo à tarde e iam pela noite dentro. No dia da festa, o baile era forte, toda a gente dançava, de cá e de fora, vinha gente de muito lado.

Primeiro, os bailes eram, quase sempre, no largo da capela, depois, passaram-se a fazer no largo da fonte velha, onde ainda se fazem; este espaço tem outras condições, um palco, um recinto arranjado, com bancos para as pessoas se sentarem.[1]

 

O jantar

Era um jantar de festa, com pratos típicos. A sopa era canja de galinha; depois, havia três pratos: cabrito ou borrego guisado, com batatas cozidas; carnes assadas (um bocado do cabrito ou do borrego, um coelho, um galo...) com batatas e “arroz-gordo”, feito com carne. Para a sobremesa usava-se o arroz-doce e a aletria; mais tarde, começaram-se a fazer os pudins. Por fim, vinham os doces (bolos secos, individuais), o pão leve, o bolo pardo e as filhoses.

Faziam-se grandes quantidades de tudo, sempre sobrava comida. Convidavam-se muitas pessoas, da família e dos amigos e, às vezes, apareciam poucas, à hora do jantar, embora, algumas passassem, à tarde – a mesa da festa ficava posta – e outras fossem à hora da ceia.

 

A segunda-feira de festa

Na segunda-feira, a festa continuava, da parte da manhã, havia missa na igreja, toda a gente ia, e a seguir a procissão que levava o andor de São Sebastião para a capela. À tarde e à noite, o baile.

 



[1]Na fonte velha, existem o bar (da Associação) e o Pavilhão Multiusos, feitos há poucos anos; embora separados do que são as festas podem dar algum tipo de apoio, se necessário.

domingo, 16 de maio de 2021

A festa de Santo António - os tabuleiros das ofertas (5)

Os tabuleiros das ofertas

Havia o uso de oferecer ofertas, um tabuleiro dos do pão, com doces, filhoses, carne assada, bebidas e outras coisas, o que as pessoas entendessem; colocavam as coisas de maneira a que o tabuleiro ficasse cheio e bonito.

Eram os mordomos que davam as ofertas, para eles era uma obrigação, mas havia outras pessoas que, por promessa ou porque queriam dar uma oferta melhorzinha, ofereciam, também, uma oferta para o Santo António, podia ser num tabuleiro pequeno ou num cestinho.

As ofertas ficavam cá fora, na mesa de pedra que está ao pé da igreja. Mas, quando saia a procissão, também iam a dar a volta ao povo. Eram levadas à cabeça, por uma rapariga que tivesse força, pudesse aguentar o peso e não a deixasse cair. Quando acabava a procissão, voltavam à mesma mesa, para serem arrematadas, uma a uma, no fim de tudo, na varanda do sino.

- Como é que se sabia o valor de uma oferta?

- Algumas pessoas davam um preço: “até este preço, fico com ela”. E ficavam; quase sempre eram os mordomos que arrematavam as próprias ofertas. Mas, podiam ser arrematadas por qualquer pessoa, de cá ou de fora, quem dava mais, levava a oferta. Às vezes, havia pessoas que vinham à festa e não tinham família onde comer o jantar, arrematavam uma oferta, comiam à vontade e ainda levavam para casa.

Havia muito brio nas ofertas; um brio bom, porque todos queriam que a sua não ficasse atrás das outras.

 

sábado, 8 de maio de 2021

A festa de Santo António - os andores (4)

 

Os andores

Nesse tempo, quase todos os santinhos tinham andores e saiam na procissão. À frente, ia Santo António, depois, Nossa Senhora do Rosário, Santa Maria Madalena, Nossa Senhora de Fátima, São Sebastião, o Menino Jesus e os outros mais.

Os andores eram muito diferentes dos de agora, uns tinham arcos, outros, uma espécie de árvore. Enfeitavam-se com tules brancos e de outras cores, com florinhas, fitas, bolinhas...; primeiro, forrava-se tudo com papel, depois, fazia-se em cima do arco ou de cada ramo, um plissado, preguinhas, com papel frisado ou de seda, e colocavam-se flores. O trono do andor também se enfeitava com tules e flores pequeninas, presas com um alfinete dos santos; os quatro ramos eram de flores de plástico, mas muito bonitos, a condizer com o resto do andor.

A cor dos enfeites variava, tinha a ver não só com o gosto das mordomas, mas também com o santinho a que se destinavam, por exemplo, São Sebastião e Santo António eram em tons de vermelho, Santa Maria Madalena e Nossa Senhora do Rosário em tons de azul, a Senhora de Fátima em branco.... Era um trabalho demorado, quase de artistas. Estes enfeites guardavam-se de umas festas para as outras, mas sempre se comprava alguma coisa nova que fosse necessária.[1].

Para levar o andor, no dia da festa, eram precisos quatro pessoas, primeiro, convidavam-se só rapazes, depois, também, as raparigas passaram a levar os andores.

Agora, já não se enfeitam os andores à moda antiga; foram modificados e tanto o trono como os ramos são de flores naturais.



[1]Há uma casa de venda de artigos religiosos, na Guarda, a Véritas, onde se podia comprar tudo o que fosse preciso para a festa.

terça-feira, 4 de maio de 2021

A Festa de Santo António - A missa e a procissão (3)

 

A missa

A missa era a parte mais importante da festa. A igreja estava toda enfeitada e cheia de andores. Os músicos iam para o coro e acompanhavam toda a missa a tocar.

 

O sermão

Havia um pregador que vinha fazer o sermão da festa. Um senhor padre com o dom da palavra que do púlpito fazia um sermão adequado à festa de Santo António. As pessoas gostavam e ouvia-se dizer: “que grande pregador esteve cá este ano”! 

 

A procissão

A seguir à missa fazia-se a procissão pelo povo. Era muito ordenada, havia um senhor que orientava a saída e depois a dirigia pelas ruas, as pessoas iam nos seus lugares e em filas.

Os guiões, a bandeira e o pálio

Saiam os três guiões, indo à frente o do Santo António, levados por homens, também, saía a bandeira levada por um rapaz mais novo. Atrás, ia o pálio, de seda e brocado, em tons de amarelo e beije claro, quase branco, levado por seis homens, onde ia o senhor padre.

Os andores

Nesse tempo, quase todos os santinhos tinham andores e saiam na procissão. À frente, ia Santo António, depois, Nossa Senhora do Rosário, Santa Maria Madalena, Nossa Senhora de Fátima, São Sebastião, o Menino Jesus e os outros mais.