segunda-feira, 30 de março de 2020

As casas -a sala, os quartos e o sobrado


A sala

Era a divisão maior da casa, com uma janela ou mais, sempre dependia das posses da pessoa, com uma mesa grande, cadeiras e um armário para a loiça, feito numa das paredes, com portas de madeira e vidro, e ainda uma ou mais arcas. Muitas vezes, das salas entrava-se para quartos interiores da casa.

Os quartos

Os quartos eram pequenos, em muitos, cabia à justa uma barra de ferro ou uma cama feita com bancos e tábuas que as pessoas faziam para pôr a enxerga. Não havia espaço para mais nada, até a candeia, para terem luz para se deitarem, se pendurava na parede ou no “frexal”. Mesmo os quartos, que tinham porta para o corredor, muitas vezes, eram pequenos e sem luz.

O sobrado

Nem todas as casas tinham sobrado, as mais pobres não eram forradas; mas, nas que tinham forro e a madeira dava segurança, utilizava-se o sobrado para arrecadação.

sexta-feira, 27 de março de 2020

As casas - a cozinha e o alçapão


  

A cozinha

A cozinha era muito pequena, com a chaminé, quando existia, nem todas tinham, um lar, uma pedra grande, para o lume, o canto para a lenha e um armário para a loiça, algumas vezes, até sem portas, apenas com cortinas de pano. Todas as chaminés tinham umas cadeias, para se porem as panelas e os caldeiros ao lume, e uma "pilheira" para se colocar a cinza. Tinham também um caniço para se pôr o enchido, feito logo quando se forrava a cozinha. A luz entrava por um janelo ou uma janela pequena.

O alçapão

No canto da lenha, a uma ponta, ou noutro sítio da cozinha, havia casas que tinham um alçapão. Era uma porta quadrada, pequena, que se levantava e dava para uma escada que descia para a loja. Nos dias de chuva ou de muito frio, podiam utilizar o alçapão, quando iam tratar do vivo ou a buscar qualquer coisa.

terça-feira, 24 de março de 2020

As casas - o corredor, a cantareira e o lavatório


Ainda que houvesse casas rasteiras, a maioria era de rés-do-chão, onde ficava a loja do vivo, e primeiro andar, onde viviam as pessoas. Construídas de pedra, tinham telhados com traves e "caibros" de madeira grossa e soalho, divisões e forro com tábuas mais finas. Nalgumas casas, a madeira era pintada.

O corredor


No corredor, ficava a cantareira, o lavatório e ainda as portas de entrada para a cozinha, a sala e podia ser, nas casas maiores, para um ou outro quarto.

A cantareira


Quase todas tinham à entrada um corredor com uma cantareira, onde colocavam os cântaros da água. Por cima dos cântaros, duas ou três prateleiras, para colocar loiça ou outras coisas, com portas, cortinas de pano ou sem nada. Por baixo dos cântaros, ficava um espaço para baldes, para o caldeiro das viandas, colocado numa espécie de estrado, feito em palha, para não queimar o "solho" e também o sítio para a cesta das batatas ou outra coisa que se precisasse de colocar lá.

O lavatório


Também, junto à cantareira, ficava o lavatório; havia-os com uma bacia, um espelho e um balde para apanhar a água ou só o lavatório com sítio para a bacia e a toalha; a água deitava-se logo para a rua ou para o curral.



quarta-feira, 18 de março de 2020

Bens Privados - os terrenos



Bens privados


Talvez os bens privados mais importantes fossem uns “bocadinhos” de terra e a casa; mas há um outro tipo de bens, os móveis, os utensílios e o vestuário, igualmente importantes, de que aqui também falo.
  

Os terrenos




Há várias qualidades de terrenos: hortas, perto de casa, para a hortaliça; “chões”, com terra boa e água, para cultivar batatas, feijão, milho...; lameiras para erva e feno; lameiros para feno e pastagem; tapadas com mato e ervagens, na primavera; tapadas com mato e terreno “secadal”, para pão; pinhais, com pinheiros para madeira, caruma e pinhas; os soitos, com castanheiros que davam castanha e lenha e pão.
Ter terrenos era muito importante para a vida daquele tempo, sem uns “bocadinhos” para se poder cultivar renovo, dificilmente se podia governar a vida. Mas, muita gente tinha só umas leiras que não davam para quase nada.


domingo, 15 de março de 2020

Árvores de todos - a amoreira




A amoreira 



Ficava ao fundo do adro, quase no meio da estrada que ia para o Quinta do Clérigo e do caminho que ia para o Vale de Igreja. Lá esteve, anos e anos, até atingir aquela altura e aquela quantidade de ramos. Foi arrancada, quando arranjaram a estrada, lá pelos finais dos anos oitenta. Dava muitas amoras, mesmo que os miúdos começassem a comê-las, ainda, meias verdes, as que sobravam tinham tempo de ficar maduras, doces e saborosas.
Parece que cresceu já com a intenção de ser de toda a gente, com um tronco grande, alto, mas fácil de subir. Também, tinha ramos fortes, uns mais altos, outros mais baixos, para que, em segurança, todos pudessem comer amoras, à vontade. Havia crianças, rapazes e raparigas, que, no tempo das amoras, todos os dias, subiam à amoreira. As mãos fincavam tingidas, a roupa igual, mas isso não importava.
Quando já havia menos gente, muitas amoras caiam no chão, pareciam um tapete negro, de tantas que eram e de tão maduras que estavam!

As árvores de todos - as cerdeiras

Havia várias cerdeiras e uma amoreira que eram públicas, quem quisesse podia subir e colher os frutos.

As cerdeiras


Havia cerdeiras públicas, na Fonte Velha, quando se ia para as hortas, e junto ao adro da igreja, no caminho que ia para a Quinta do Clérigo. Algumas eram árvores grandes, difíceis de subir, só os rapazes mais fortes subiam sem dificuldade. As cerejas nem chegavam a amadurar, começavam a comê-las, mal começavam a pintar; depressa se acabavam. Às vezes, só já se viam cerejas, nas pontas dos ramos mais altos; mas, mesmo a essas arranjavam maneira de lá chegar, com uns galhos, que tivessem um gancho na ponta, puxavam os ramos para baixo e colhiam as cerejas.

segunda-feira, 9 de março de 2020

Bens públicos: os baldios, o campo de futebol...


Os baldios

São terrenos do povo que a junta de freguesia administra. Alguns eram arrematados todos os anos a quem mais desse; outros ficavam por arrendar e quem quisesse podia andar lá, sobretudo, os que davam mato e pastagens, como os baldios dos Barreiros, do Brejo, da Açude….
Ao longo do tempo, a maior parte dos baldios foi vendida; mas, ainda hoje, a junta de freguesia recebe a renda das torres eólicas do campo da bola, um baldio.

O campo de futebol

O campo da bola fica num baldio, lá para os lados da Sangrinheira. Há muito que não é utilizado, mas tempos houve em que os jovens, daqui, jogavam lá à bola, entre eles. ou com equipas de aldeias vizinhas, da Sobreira, da Quarta-feira...

As lajes

Para malhar o pão, havia lajes com grandes e boas “laijeiras”, algumas em propriedades que pertenciam a determinadas famílias, embora se pudesse malhar nelas, tinha de se ter ordem dos donos. Pedia-se-lhes: “posso levar o pão para a vossa laje?” Ninguém dizia que não.
Mas, a laje da Rã é pública, as pessoas que queriam punham lá o pão e o milho sem terem de pedir ordem ou favor ao dono da laje. Lá para o cimo do povo, bem perto da escola e também do lado de cima, há várias lajes. Há ainda a laje da Reduta, não longe do fundo do povo; não é do povo, pertence a uma família, mas punha-se lá o que se queria, pão ou milho, sem ser preciso pedir ordem, os donos não diziam nada a ninguém.

sexta-feira, 6 de março de 2020

A rede de água - os chafarizes



Os chafarizes

 
O chafariz do fundo do adro
Talvez, no início dos anos oitenta, explorou-se a água, para os lados da Sangrinheira, ainda lá está o depósito, e canalizou-se para três chafarizes: à capela, à praça e ao fundo do povo. Passados anos, foram construídos mais chafarizes: ao fundo do adro, à cruzinha e ao calvário.

A rede da água do povo


Alguns anos mais tarde, canalizou-se esta água para as habitações das pessoas. Como tinha sido explorada pelo povo, ligava-se a canalização das casas à rede e não se pagava nada. Nem sempre tinha a pressão adequada, às vezes, falhava, sobretudo, no verão, quando havia muita gente, mas foi uma coisa muito boa; quando há poucos anos se teve de ligar a rede doméstica à rede municipal, todos puderam ver a despesa que a água dá.

domingo, 1 de março de 2020

As presas do ribeiro e do ribeirinho



As presas do ribeiro e do ribeirinho


Durante o inverno e grande parte da primavera, lavava-se também a roupa em dois ribeiros: o ribeiro do cimo do povo e o ribeirinho ao fundo do povo. A água é de uma barroca que vem lá dos lados da Sangrinheira, atravessa o povo e corre para os lados de Vale Mourisco. Entancava-se a água numa espécie de presa e lavava-se lá bem, tinha lavadoiros e sítios para pôr a corar e para estender, embora pequenos; quando havia água no ribeirinho, as pessoas do fundo do povo não iam para outro lado lavar a roupa, tal como as do Calvário, quando havia água no ribeiro, não iam lavar a outro lado. O problema é que, ainda antes de entrar o verão, a água da barroca já não era suficiente para poder ser desviada para estas presas, chegando mesmo a secar.
Mais tarde, quando começou a haver água em casa, as pessoas compraram pequenos tanques de cimento para lavarem a roupa e deixaram de lavar nas presas. Agora, já nem esses tanques se usam, todas as pessoas têm máquinas para lavar a roupa.


As presas para lavar a roupa



As presas



Perto das fontes, havia uma presa para lavar a roupa. A presa da fonte Velha já não existe, foi desfeita, tiraram os lavadouros e aterraram-na, primeiro para fazer um grande largo, onde faziam os bailes, pelas festas e outros encontros e convívios; mais tarde, fizeram a sede da Associação e o pavilhão multiusos.

A presa da Fonte Velha


Junto à presa da fonte Velha, havia uma lameirinha, sempre de erva rente, para se pôr a roupa a corar – quando se punha roupa a corar, ensaboava-se muito bem e ia-se molhando, de vez em quando, porque, se secasse, ficava com uns vincos difíceis de sair – o sol tirava as nódoas e punha tudo branquinho. Não havia nem fios, nem molas, a roupa punha-se a secar naquelas paredes e silvas. Era preciso muito cuidado, para não rasgar a roupa.

A presa da Fonte Nova


A presa da fonte Nova ainda hoje lá está, ao cimo da rua da Carreira, do lado direito[1]. A água vem da fonte Nova atravessa a rua, por um pequeno aqueduto, empedrado, agora, com manilhas de cimento. Os lavadoiros, ainda lá estão, são pedras retangulares, grandes e linhas para se poder lavar sem romper a roupa. Como ficava num lameiro com dono, havia pouco espaço para pôr a corar e para estender, por isso, muitas pessoas preferiam a outra presa, embora a água da presa da fonte Nova estivesse mais limpa que a da fonte Velha.



[1] Foi há muito pouco tempo reabilitada; pode lavar-se nela, mas as pessoas já não têm esse costume.