Nesse tempo
da ditadura, num país sem liberdade e sem direitos, não faltavam leis e
polícias de todas as naturezas (segurança pública, segurança do Estado, guarda
fiscal, guarda republicana...).
A guarda republicana vinha a toda a hora
Aqui, era a
guarda republicana que vinha. A toda a hora, apareciam, sempre de espingarda ao
ombro. Quando chegavam, era um desassossego, iam fazer a ronda, rua acima e rua
abaixo, falavam sempre com o Presidente da Junta e com o Regedor, as
autoridades de cá, e, se calhava, com mais uma ou outra pessoa. Também, iam à
escola. A professora abria-lhes a porta, tinha de ser simpática, claro, os
garotinhos, alguns, ficavam com medo, eles lá diziam umas coisas e saiam.
Queriam
saber tudo o que se passava nas terras: “Há cá algum passador? Há aqui alguém
que esteja a planear abalar (a salto para a França)? Há cá pessoas que fazem
isto ou que fazem aquilo?” Enfim, o inquérito usual do Estado Novo, no
cumprimento da lei e da ordem.
Mas, alguns exageravam, implicavam com tudo: era
a licença do cão que faltava, era o carro das vacas que não tinha a chapa, era
a bicicleta que não tinha a matrícula, eram as galinhas que andavam na rua
(houve um tempo em que tinham de estar fechadas, senão os donos eram multados),
era a lenha que ocupava a rua, era o bueiro que cheirava mal... Enfim, também,
fariam alguma coisa boa, mas o que mais se recorda são as outras.