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quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

A lei e a ordem



Nesse tempo da ditadura, num país sem liberdade e sem direitos, não faltavam leis e polícias de todas as naturezas (segurança pública, segurança do Estado, guarda fiscal, guarda republicana...).

A guarda republicana  vinha a toda a hora


Aqui, era a guarda republicana que vinha. A toda a hora, apareciam, sempre de espingarda ao ombro. Quando chegavam, era um desassossego, iam fazer a ronda, rua acima e rua abaixo, falavam sempre com o Presidente da Junta e com o Regedor, as autoridades de cá, e, se calhava, com mais uma ou outra pessoa. Também, iam à escola. A professora abria-lhes a porta, tinha de ser simpática, claro, os garotinhos, alguns, ficavam com medo, eles lá diziam umas coisas e saiam.
Queriam saber tudo o que se passava nas terras: “Há cá algum passador? Há aqui alguém que esteja a planear abalar (a salto para a França)? Há cá pessoas que fazem isto ou que fazem aquilo?” Enfim, o inquérito usual do Estado Novo, no cumprimento da lei e da ordem. 
Mas, alguns exageravam, implicavam com tudo: era a licença do cão que faltava, era o carro das vacas que não tinha a chapa, era a bicicleta que não tinha a matrícula, eram as galinhas que andavam na rua (houve um tempo em que tinham de estar fechadas, senão os donos eram multados), era a lenha que ocupava a rua, era o bueiro que cheirava mal... Enfim, também, fariam alguma coisa boa, mas o que mais se recorda são as outras.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

A ausência de apoio social




Nenhuma ajuda do Estado



Não havia nenhum apoio, nenhuma ajuda; o Estado não dava nada a ninguém, era mais fácil tirar do que dar. Não havia reformas, nem assistência médica, nem abonos de família..., se alguém ficasse doente e precisasse de ser internado no hospital, a família tinha de arranjar atestados, da junta de freguesia e da câmara municipal, a dizerem que era pobre, que não tinha posses para poder pagar as despesas.



Mortes por falta de assistência  



A saúde era uma miséria, muitas pessoas, nasciam e morriam sem ir ao médico; havia três médicos de clínica geral no Sabugal, para o concelho todo, mas era preciso pagar a consulta e comprar os medicamentos, tudo por conta própria. Quantas e quantas vezes, as pessoas tinham de pedir dinheiro emprestado para irem ao médico. Se havia uma doença grave numa casa, quase sempre se arruinava a vida daquela família. Muitas mortes eram por falta de assistência. Havia viúvas que ficavam com quatro, cinco ou mais filhos, nos braços, sem saberem como iriam governar a vida delas.


A primeira ajuda só nos anos setenta  




O primeiro apoio foi dado pelo governo de Marcelo Caetano, no início dos anos setenta, altura em que abriu a Casa do Povo no Sabugal, os trabalhadores rurais passaram a inscrever-se numa espécie de segurança social. Tenho ideia de que a primeira prestação que deram aos trabalhadores rurais, com mais de setenta anos, que nunca descontaram, foi de cem escudos, cinquenta cêntimos do dinheiro atual. É tal o abismo, entre esse tempo e o que vivemos, hoje, que custa a acreditar.

sábado, 30 de novembro de 2019

A guerra colonial


 Portugal foi o último país a descolonizar, mesmo depois de quase todos os países europeus (Bélgica, Holanda, França, Grã-Bretanha...) já terem dado a independência às suas colónias africanas.
A guerra colonial começou na Guiné, em Angola e em Moçambique, em 1961. Só em Cabo Verde e em São Tomé e Príncipe não houve guerra declarada, com movimentos de libertação a lutar contra as tropas portuguesas. 
Era uma guerra lá longe, mas parecia aqui ao pé da porta, porque todos os jovens, em idade de ir à tropa, eram alistados e muitos acabavam mobilizados para o Ultramar. Os soldados do exército que, a seguir à recruta, fossem para Santa Margarida, terminavam a combater em África. Muitos morreram, também houve mortos desta freguesia, morreu um jovem de Vale Mourisco e outro do Espinhal[1]. Foi, por isso, para fugirem à guerra, que muitos jovens, antes de fazerem dezoito anos, partiram a salto para a França.



[1] Os seus nomes constam no monumento que o concelho do Sabugal erigiu para honrar os seus mortos na guerra colonial.