segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Tradições festivas - o magusto

  

O magusto

O magusto do povo era, quase sempre, no dia dos Santos. Escolhia-se um caminho, onde houvesse um largo para se fazer a fogueira e que não ficasse longe de um pinhal para se ir à caruma.

Depois de se ir à caruma, preparava-se o magusto: começava-se com uma base circular de caruma, a seguir punha-se uma camada de castanhas, outra vez caruma, depois mais castanhas, até se colocarem todas as que as pessoas tinham levado. Deitava-se o fogo e, com um pau comprido, ia-se mexendo, mexendo..., virando de um lado para o outro, para que toda a caruma ardesse e as castanhas ficassem bem assadas.

A seguir, tiravam-se para fora, faziam-se uns montinhos e todas as pessoas descascavam e comiam castanhas. Para beber, alguns levavam uma pinguinha de jeropiga, ou de sumo, o que calhava. Nesta altura, era quase certo, que todos já estavam mais ou menos de cara negra; havia aquelas brincadeiras de se enfarruscarem uns aos outros. Era uma tarde divertida e bem passada.

Ainda hoje se faz o magusto organizado pela junta de freguesia e todas as pessoas são convidadas a participar.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Tradições festivas - a bica

 

A bica/ O santoro  

É uma tradição ligada ao dia dos Santos, 1 de novembro. Nesse dia, os padrinhos dão aos afilhados, um pão especial, a que chamam «bica» ou «santoro», feito de propósito. Tem a forma alongada, 50/60 cm, com 15 cm de largura, muito fino, feito de farinha de trigo e coberto de azeite. É um pão muito saboroso.

Noutro tempo, em que não havia venda de pão, eram pessoas de fora que vinham, com alforges cheios de bicas, em burros, vendê-las. Nunca faltavam. Talvez, muitos recordem, ligadas ao «santoro», os saborosos doces de «botelha» e marmelada que, por esta altura, de início de outono, muitas pessoas faziam.

Agora, todos os padeiros trazem bicas e não só nos Santos, durante o ano todo. A tradição foi perdendo algum do seu significado, mas mantêm-se ainda, muitos padrinhos continuam a oferecer as bicas.

 


segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Tradições festivas - O São João

Pelo São João, de 23 para 24 de junho,  era tradição acender fogueiras e às vezes também um mastro. 

 as fogueiras

Quase todas as pessoas faziam uma fogueira à porta de casa, até os mais velhos iam buscar rosmaninhos para queimarem, nessa noite. A certa hora, a seguir à ceia, cada morador acendia a sua fogueira e quem queria ia “sarnar” as fogueiras, rua abaixo e rua acima.

Sarnar era saltar as fogueiras; às vezes, o lume estava forte e era difícil saltá-las, tinha de se deixar arder até não ser perigoso, mas, alguns mais afoitos saltavam com o lume alto, era uma brincadeira bonita e uma noite animada. Na manhã seguinte, ainda havia no ar o cheiro a rosmaninho; um cheiro forte, mas agradável.

 

O mastro

Havia anos em que não eram só as fogueiras, juntavam-se três ou quatro rapazes e raparigas e faziam o mastro. Era um pinheiro forrado de rosmaninhos que se compunha no chão e que depois se levantava, sempre no centro de um largo, podia ser ao fundo do povo, à capela, à fonte velha... Era bonito ver arder o mastro, as pessoas ficavam à volta a conviver, a contar histórias e a rir; às vezes, havia baile.

 

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Tradições festivas - Páscoa

 

Ganhar as alvíssaras

Quando acabava a Quaresma, em cima da meia-noite, já no dia de Páscoa, tocava-se o sino com força e durante bastante tempo. Às vezes, os rapazes punham-se a guardar o sino, à espera que chegasse a hora, sempre a ver quem era o primeiro. Quando eram muitos, para todos ganharem as alvíssaras[1], atavam uma corda ao badalo do sino e, à meia-noite, todos pegavam na corda para tocar ao mesmo tempo. Não ganhavam nada, claro está, mas tinham a alegria de terem sido os primeiros.

 

A amendoeira

Quase sempre, no dia de Páscoa, vinha uma amendoeira do Sabugal – a senhora Laurinda – à saída da missa, depois da procissão, já estava com o tabuleiro composto, ao fundo do adro. Era um tabuleiro dos do pão que pedia emprestado cá, cobria-o com um pano branco, tipo um lençol, e punha as amêndoas, os chupa-chupas, as santinhas, os balões, os rebuçados, os bonecos cheios de bolinhas doces, os pífaros de plástico, as cornetas...; os miúdos já não deixavam as mães, queriam sempre alguma coisa.

À tarde, se havia baile, no largo da capela, a amendoeira mudava-se para lá e sempre ia vendendo uma coisa e outra. Só à noite é que ia embora. 



[1] Alvíssaras era uma gratificação que se dava a quem trazia boas notícias. Ia-se a correr, a correr, e o primeiro a chegar e a dar a notícia recebia alvíssaras.

domingo, 8 de agosto de 2021

Tradições da quaresma - deitar compadres

 

Era um tempo um pouco triste, não se dançava, durante a quaresma, havia tradições mais de acordo com o tempo que se vivia.

 

Deitar os compadres

Quarta-feira de cinzas, ia-se à missa e, depois, no tempo mais antigo, a “mocidade” toda ia dar uma volta ao povo. Entrava-se em todas as casas, começava-se ao fundo do povo e acabava-se ao calvário. Comiam-se filhoses e outras coisas, figos secos, nozes… o que as pessoas punham na mesa.

Depois, ia-se para aquela “abrigadinha” da casa do Senhor Padre, agora, esse curral está fechado, mas antes não, ia-se para aí, faziam-se uns bilhetinhos com os nomes das raparigas e uns bilhetinhos com os nomes dos rapazes. Punham-se num dos chapéus os nomes dos rapazes e no outro os nomes das raparigas; uma pessoa tirava ora de um chapéu ora do outro e o par que calhava ficava compadres.

Estes compadres iam por toda a Quaresma, até à Páscoa, nesse dia o compadre dava as amêndoas à comadre. Durante esse tempo em que eram compadres, quando passavam um pelo outro, diziam:

 - Bom dia compadre.

- Bom dia comadre.