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domingo, 16 de fevereiro de 2020

A cantina escolar



A cantina escolar

 Numa certa altura, nos anos sessenta, o Estado dava uma espécie de almoço: uma sopa, um copo de leite (leite em pó, dissolvido em água), uma fatia de pão com um queijo alaranjado (holandês) e uma colher de óleo fígado bacalhau (recordo que tinha um sabor muito ruim e de nem todos os meninos o conseguiam tomar). Esta cantina funcionava numa espécie de loja[1], com mesas e cadeiras, lá mesmo no alto Calvário; quem fazia o almoço e cuidava da cantina era uma senhora chamada Marcelina.


[1] Pertencia ao senhor António Costa. Houve outras senhoras e outros locais, posteriormente.

A escola



A escola




A primeira escola foi na praça, no tempo da senhora professora Andrade, as pessoas mais antigas, ainda, se recordam. Depois, foi construída a escola que hoje existe, embora desativada, há muito, por falta de alunos. Foi construída naquele sítio, por causa das crianças do Dirão da Rua que vinham cá à escola, sempre ficava um bocadinho mais perto.
É uma escola do plano centenário (um modelo de construção do Estado Novo para edifícios escolares, por muitos lados, há escolas iguais a esta, neste caso, com uma sala de aula, um telheiro, duas casas de banho, uma para os alunos e outra para a professora (mas sempre fechadas, porque não havia água canalizada), um campo de recreio murado e um portão de entrada.

A sala de aula

A sala de aula com três ou quatro filas de carteiras, de madeira, antigas, ainda, daquelas que tinham tinteiros, na parte de cima, onde se sentavam duas crianças; uma secretária e uma cadeira para a professora; na parede da frente, um quadro preto, ao fundo da sala, um armário com livros e a um canto um fogão a lenha que, no inverno, é impossível estar-se sem aquecimento.
Por cima do quadro, havia uma cruz e dois quadros, um com o presidente da república e o outro com o presidente do concelho (no meu tempo, eram o Américo Tomás e o Salazar). Todos os dias, quando chegávamos à escola, antes de começar a aula, rezava-se e cantava-se o hino nacional. A seguir ao 25 de Abril, esta prática terminou, tiraram-se, das escolas, a cruz e as fotografias dos presidentes.

Os meninos do Dirão-da-Rua

Quero aqui homenagear estas crianças que faziam mais ou menos três quilómetros de manhã e outros tantos à tarde para virem à escola, chovesse, fizesse sol, houvesse frio ou calor. Pode imaginar-se a situação difícil em que o faziam, sempre a pé, com a sacola dos livros às costas e, muitas vezes, ainda, com o saco da merenda.  
Apesar destas condições, não facilitarem o aproveitamento escolar, havia bons alunos.