segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Contos Tradicionais - A cigarra e a formiga

 

9. A cigarra e a formiga   

Era uma vez uma cigarra que, durante todo o verão, passou os dias a cantar, sempre em grande diversão. Um dia encontrou-se com uma formiga que levava um grãozinho de cereal para o buraco e perguntou-lhe:

- Por que trabalhas tanto? Vem divertir-te, aproveitar estes dias de sol, gozar a vida, enquanto podes.

A formiga convenceu-se que era verdade, juntou-se à cigarra e puseram-se as duas a cantar. Passados dois ou três dias, apareceu a formiga rainha que lhe disse:

- No mundo das formigas, todas têm de trabalhar, não é umas a trabalhar e outras a olhar, vem já para o formigueiro fazer a tua parte, senão no inverno não comes o que as companheiras guardaram.

A formiga viu que a formiga rainha estava certa, deixou a cigarra e foi para o formigueiro fazer o seu trabalho. A cigarra não quis saber, continuou a cantar e a descansar. No inverno, não tinha nada, nem para comer nem para se aquecer. Estava a passar muito mal, quando resolveu bater à porta do formigueiro a pedir ajuda:

- Ajudem-me que tenho muito frio e muita fome!

- Passaste os dias de verão a cantar, não trabalhaste, agora, não te podemos ajudar – responderam as formigas que vieram à porta.

- Se não me ajudam vou morrer, já estou muito mal!

Chamaram a formiga rainha e contaram-lhe o que se passava com a cigarra. Decidiram, então, ajudá-la, por essa vez, apenas. Mandaram-na entrar e deram-lhe comida.

Mas, a cigarra aprendeu a lição: ficou a saber que tem de trabalhar e de guardar o alimento suficiente no verão para ter o que comer no inverno.

 

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Contos tradicionais - A lenda da mulinha doirada

 

8. A lenda da mulinha doirada

Dizem que no tempo dos romanos, que andaram por estes lados, um senhor muito rico enterrou, no campo, um tesouro para que os mouros o não levassem: uma mulinha de oiro com freio e sela. Do cabeço das Fráguas, Pousafoles, a olhar na direção da Guarda, até ao cabeço do São Cornélio, Dirão da Rua, a olhar na direção de Sortelha, quem o tesouro procurar o irá encontrar, sem muito cavar. Um tesouro que será encontrado por sacho de homem ou relha de arado, em sítio cultivado.

Apesar destas pistas, ainda, ninguém o encontrou.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Contos tradicionais - Nosso Senhor, o discípulo e as cerejas

  

7. Nosso Senhor, o discípulo e as cerejas

No tempo em que Nosso Senhor andava por este mundo, ia muitas vezes pregar de terra em terra. Certo dia, deslocava-se, acompanhado por um discípulo, debaixo de um sol abrasador. A certa altura do caminho, viram uma moeda caída no chão.

- Apanha a moeda – disse Nosso Senhor ao acompanhante.

- São só cinco réis, não dão para nada. Não vale a pena apanhá-la.

Então, Nosso Senhor baixou-se, apanhou a moeda e meteu-a no bolso.

Quando chegaram à terra mais próxima, com a moeda, comprou cerejas.

Continuaram o caminho e o calor cada vez era mais forte. O discípulo começou a sentir muita sede, mas não havia fonte, onde pudesse beber água. Ao vê-lo aflito com tanta sede, Nosso Senhor meteu a mão ao bolso, tirou uma cereja e deixou-a cair.

O discípulo ao ver a cereja no chão, baixou-se, rapidamente, apanhou- a e comeu-a.

A seguir, Nosso Senhor deixou cair, uma a uma, todas as cerejas que tinha comprado. E sempre o discípulo se baixou para apanhar cada uma das cerejas que o Mestre deixava cair ao chão, para as comer e assim ir matando a sede.

No final, Nosso Senhor disse-lhe:

- Então, não te quiseste baixar, uma única vez, a apanhar a moeda e baixaste-te tantas vezes para apanhar as cerejas que eu fui deixando cair?

- Tinha muita sede, Senhor!

- Ah, meu amigo, quem deita fora o achado, por pouco que seja, vem mais tarde a pedir, com trabalho dobrado, o que tinha desaproveitado.

 

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Contos tradicionais - O sapateiro pobre

  

O sapateiro pobre         

Era uma vez um sapateiro pobre que vivia com a mulher e os muitos filhos que tinha. Ganhava pouco, mas vivia feliz. À noite, pegava na sua viola, tocava e cantava com os filhos à volta.

Em frente da casa do sapateiro pobre, vivia um homem muito rico que, ao ver aquela pobreza, pensou em dar um saco cheio de dinheiro ao sapateiro. Chamou-o e disse-lhe:

- Tenho pena que passe tanta necessidade, aqui tem este saco cheio de dinheiro para poder melhorar a sua vida e a dos seus filhos.

O sapateiro pobre nem queria acreditar, com aquele dinheiro podia mudar a sua vida para muito melhor. Nessa noite já não tocou viola e já não houve cantoria. Meteu-se num quarto com a mulher a contar o dinheiro. Mas os filhos, que andavam pela casa a fazer barulho, fizeram com que ele se enganasse mais do que uma vez. Foi difícil contarem tanto dinheiro, mas o pior veio a seguir, não sabiam o que fazer com ele.

- Metemos o dinheiro dentro de um cântaro de barro e vamos enterrá-lo – disse a mulher.

-Não, podemos esquecer-nos do sítio e perder o dinheiro, para sempre.

- Então, vamos metê-lo numa arca cá em casa.

- Não, porque podem vir cá e roubar a arca.

- O melhor, então, é comprar terras que ninguém as leva.

- Não, o melhor é levantar a casa e arranjar a oficina.

- Não, se levantamos a casa, gastamos tudo e ficamos outra vez sem nada.

Discutiram e voltaram a discutir, sobre o que fazer com o dinheiro, mas não chegaram a um acordo. O homem zangou-se, ralhou com a mulher e com os filhos e, nessa noite, em vez de alegria, houve choro e tristeza. O sapateiro pobre pensou: “se eramos felizes antes termos o saco do dinheiro o melhor é entregá-lo de volta ao vizinho rico”.

Assim fez. Foi entregar o saco do dinheiro ao vizinho rico. 

- Ó homem, então, traz-me o dinheiro de volta?

- Não quero esta riqueza, porque só me trouxe tristeza. Quero voltar para a minha vida de sapateiro pobre, ganhar o pão de cada dia e, à noite, tocar e cantar, como dantes, com os meus filhos à volta.

Afinal, ter muito dinheiro, pode não fazer as pessoas mais felizes.

 

sábado, 13 de novembro de 2021

Contos tradicionais - O rato do monte e o rato do moinho

 

. O rato-do-monte e o rato do moinho

Um dia um rato-do-monte encontrou-se com um rato do moinho e começaram a conversar.

- Estás tão magrinho. Estás doente ou passas fome no monte – perguntou o rato do moinho?

- Estou magrinho, porque no monte há pouca comida.

- Anda comigo para o moinho que lá nunca falta nem grão nem farinha de trigo, de centeio e de milho. Olha para mim como estou gordinho!

- Não sei se me vou lá dar bem, sempre vivi no monte.

- Vais-te dar bem, sim; de barriguinha cheia, só podes ficar melhor, mais gordinho e mais luzidio.

Assim foi. Lá foram os dois a caminho do moinho. Chegados à porta, o rato-do-monte disse para o rato do moinho:

- Entra tu primeiro que sabes os cantos ao moinho e eu vou atrás.

Mas, mal entraram, apareceu um gato que saltou logo para cima deles. O rato do moinho, que conhecia bem todos os cantinhos, enfiou-se, logo, num buraco para fugir das garras do gato. O rato-do-monte, que não conhecia os cantos ao moinho e não sabia onde se esconder, só teve uma saída: saltar porta fora e fugir de novo para o monte.

Já no monte e a salvo, pensou: “mais vale magro no mato, do que gordo na barriga do gato”.

 

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Contos tradicionais - O pastor e o lobo

 

4. O pastor e o lobo         

Era uma vez um pastor que guardada um rebanho de ovelhas. Todas as manhãs, saia para o monte, mesmo nos dias mais frios de inverno, quando a neve cobria tudo de branco. Nos dias mais quentes de verão, nem sequer vinha a casa, as ovelhas ficavam no bardo, durante a noite, guardadas por um cão, enquanto ele dormia na choça.

Às vezes, cansava-se daquela vida de pastor, de andar tanto tempo sozinho no monte, sem falar com ninguém. Um dia, resolveu pregar uma partida às pessoas da aldeia e começou a gritar:

- Aí vem lobo, aí vem lobo… é o lobo, é o lobo…

As pessoas, ao ouvirem aquele grito de aflição, tocaram o sino para juntar o povo e todos juntos foram ajudar o pastor a salvar o rebanho do lobo.

Mas, chegaram lá e não viram lobo nenhum, nem lobo nem pastor e as ovelhas continuavam a pastar descansadas no campo.

Disseram, então, uns para os outros:

- O malandro do rapaz enganou-nos, nunca houve lobo nenhum. Foi só para se rir à nossa custa.

E era verdade, o pastor tinha-se escondido, atrás de um monte, a ver tudo e a rir-se por ter enganado as pessoas.

Passados uns tempos, resolveu repetir o que tinha feito e começou a gritar:

- Aí vem lobo, aí vem lobo…, acudam-me, acudam-me…

As pessoas, ao ouvir os gritos do pastor, disseram:

- Pode ser engano, mas também pode ser verdade, vamos lá outra vez ajudá-lo.

Tocaram o sino, juntou-se a gente e lá foram para o monte salvar o rebanho do lobo. Mas quando chegaram, foi outra vez a mesma coisa, não viram nem lobo nem pastor e as ovelhas continuavam a pastar. Ele lá estava no mesmo sítio, escondido e a rir-se por ter de novo enganado o povo.

Mas desta vez, as pessoas ficaram ainda mais zangadas e disseram umas para as outras:

- Não voltamos cá a vir. Então, não tem nenhum jeito esta brincadeira do rapaz! Quando voltar a pedir ajuda, já ninguém vai acreditar nele.

E assim foi. Um dia o lobo apareceu de verdade, entrou para dentro do bardo e preparava-se para dar cabo do rebanho. O pastor começou a gritar com toda a força que tinha:

- É lobo, é lobo…, é mesmo o lobo, é mesmo o lobo…, ajudem-me…

Mas, desta vez, as pessoas, julgando que era outra mentira do rapaz, cumpriram o que tinham dito, não foram ajudá-lo.

O pastor sozinho não pode lutar contra o lobo que comeu mais de metade das suas ovelhas. Nem a ajuda do cão lhe valeu.

Tantas vezes mentiu que, quando disse a verdade, ninguém acreditou nele. É assim que acontece aos mentirosos.

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Contos Tradicionais - O velho, o rapaz e o burro

 

3.O velho, o rapaz e o burro

Era uma vez um homem já de idade que vivia sozinho com um neto, numa aldeia, no cimo de um monte. Um dia foram até ao mercado da vila com o burro que tinham. Saíram de casa com o burro aparelhado, com a albarda e os alforges, o velho à frente e o rapaz atrás.

Passaram por umas pessoas que ao vê-los disseram:

- Ora, ora, com um burro tão forte e vão os dois a pé!

Disse, então, o velho para o neto:

- Rapaz, sobe para o burro que eu continuo a pé.

O rapaz assim fez, saltou logo para cima do burro.

Passado algum tempo, passaram por outro grupo de pessoas e ouviram dizer:

- Ora, ora, que jeito tem, o rapaz novo sentado no burro e o pobre do velho a pé.

- Salta do burro rapaz que agora monto eu, a ver se já não têm que dizer.

O rapaz assim fez. Desceu do burro, para subir o avô.

Mas, pouco depois, voltaram a passar por outro grupo de pessoas e ouviram dizer:

- Ora, ora, uma destas, o velho descansado em cima do burro e o pobre do rapaz a pé.

- Rapaz sobe também, vamos os dois no burro.

Mas não tardou nada, passaram por outro grupo de pessoas que logo disseram:

- Ora, ora, os dois em cima do pobre burro que mal pode com um!

- Rapaz: andámos de todas as maneiras e sempre houve quem dissesse que não estava bem, vamos descer do burro e caminhar os dois a pé, eu à frente e tu atrás, como quando saímos de casa.

Não podemos agradar a todos, umas pessoas pensam de uma maneira e outras pensam de outra, por isso cada um deve pensar pela sua cabeça e fazer o que acha melhor.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Contos tradicionais - O rapaz e o ceguinho

 

2- O rapaz e o ceguinho              

Era uma vez um ceguinho que andava, de porta em porta, a pedir esmola, guiado por um rapaz. Naquele dia, uma senhora deu-lhe um bocado de pão com chouriça.

O rapaz, que era muito espertalhão, pensou logo em meter a chouriça no bornal, para a ir comendo às escondidas e dar o pão seco ao ceguinho.

O ceguinho começou a comer o pão e disse ao rapaz:

- Cheira-me o pão a chouriça!

- Não cheira a chouriça. Pode acreditar que não me deram chouriça, só me deram pão seco.

- Nada disso, meu velhaco, comeste a chouriça e deste-me o pão sozinho.

Começaram, logo, uma discussão: um a dizer que não, outro a dizer que sim, até que o ceguinho pegou no bordão e deu umas bordoadas nas costas do rapaz.

- Também não é para tanto – grita o rapaz cheio de dores.

Ficou tão zangado que pensou logo que o cego lhe ia pagar aquelas pancadas. Mais à frente, no caminho, quando passaram junto de umas árvores, o rapaz orientou o ceguinho para uma árvore e disse-lhe:

- Salte que é um muro.

O ceguinho, julgando que era um muro, saltou e bateu com a cara no tronco de um sobreiro. Ficou com a cara toda esmurrada e também cheio de dores.

O rapaz disse-lhe, então:

- Cheira-lhe o pão a chouriça e não lhe cheira o sobreiro a cortiça!

- Seu velhaco, não posso confiar em ti!

O ceguinho andava pela mão do rapaz, pensando que ele era de confiança e afinal não podia confiar nele.