sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Serviços e Tradições Religiosas - As Mordomias (3)

 

O mordomo de São Sebastião

O mordomo de São Sebastião tem de zelar pela capela, é quem tem a chave. Sempre que é necessário, quando há procissões, tem de limpar, compor o altar, abrir a porta e tocar a sineta. Também, prepara a festa do santinho, no dia 20 de janeiro, tira a esmola e manda dizer a missa, em honra e louvor de São Sebastião.

Se for ano de festa, o mordomo tem ainda de compor o andor e de se encarregar de tudo o que diz respeito à participação de São Sebastião nas cerimónias da festa.

 

Os mordomos de Santo António

Primeiro, os mordomos de Santo António eram os rapazes solteiros, depois, passaram a ser os homens casados. Os mordomos faziam tudo o que tivesse a ver com a organização da festa: pediam as janeiras e a esmola, antes da festa; procuravam e contratavam o pregador, a banda da música, os foguetes e o fogueteiro, as licenças necessárias e, a partir de determinada altura, até o acordeonista ou o conjunto.

Agora, deixaram de nomear novos mordomos, já não pedem a janeira nem as esmolas pelas portas, quem quer dá igual, antes, ou no dia da festa. Ultimamente, estes mordomos têm sido voluntários, quem quer e tem devoção propõe-se a organizar a festa e trata de tudo.

 

O mordomo das Almas

O mordomo das almas tira a esmola, nas missas do domingo e toma conta de tudo o que lhe pertence fazer durante o ano em que serve.

 

As mordomas dos altares

Antes, cada altar tinha umas mordomas, raparigas que compunham cada domingo e se encarregavam de tudo o que tivesse a ver com esse altar, fosse o andor, o trono de Nossa Senhora, fosse o presépio... Também, colaboravam na limpeza da igreja.

Há já muito que deixou de ser assim; esse trabalho foi distribuído pelas senhoras do povo, cada mês é um grupo.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Pessoas, serviços e tradições religiosas (2)

   

A comissão da igreja

São as pessoas que tomam conta de todos os assuntos da igreja, nomeadamente, as receitas e as despesas correntes, mas também do resto que é necessário fazer, considerando o bem de toda a paróquia. É um trabalho exigente e de responsabilidade. A toda a hora, é preciso tomar conta de alguma coisa e isso exige tempo e vontade em ajudar a comunidade.[1]

 

As mordomias

Todas as pessoas servem nas mordomias, incluindo os emigrantes, o trabalho é anual e quem sai, nomeia os mordomos do ano seguinte. As mais importantes são a da igreja, a de Santo António, a de São Sebastião e a das Almas; havia outras, naquele tempo, todos os santinhos tinham mordomos, para enfeitarem os andores, cuidarem das esmolas e tratarem do que fosse preciso.

 

O mordomo da igreja

É a mordomia que dá mais trabalho, começa e termina no mês de junho. O mordomo da igreja é também mordomo da Nossa Senhora do Rosário, antes, tocava às Ave-marias, logo, de manhã cedo, antes do nascer do sol, e às Trindades, ao anoitecer. Nos domingos, toca o sino, tira a esmola para o Santíssimo e ajuda à missa. Está também encarregue, durante esse ano, se houver batizados, casamentos, funerais, confissões ou outro serviço religioso, de preparar o que for necessário. Faz, ainda, a Volta dos Reis.[2]

 



[1] Nesta altura, o presidente da comissão da igreja é o senhor Raul José Luís.

[2] Neste ano de 2020-2021, são mordomos da igreja Armindo Firmino e Isabel Firmino.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Serviços e tradições religiosas - o pároco

  A religião ocupava um lugar central na vida de todas as pessoas. As crianças batizavam-se logo de pequeninas e nunca mais deixavam de ir à igreja, faziam a catequese, a primeira comunhão, o crisma, o casamento e depois a morte.

 

Pessoas e serviços 

A pessoa mais importante na paróquia é o senhor padre, mas para que tudo esteja bem organizado e a funcionar como dever ser muitas outras dão o seu trabalho e o seu contributo.

 

O pároco

Nessa altura, os párocos da freguesia de Águas Belas eram também da freguesia de Penalobo, mas residiam cá. Deslocavam-se de mota de um lado para o outro. Talvez, o que tenha estado mais tempo, tenha sido o senhor padre Proença, que vivia com a família, a mãe e duas irmãs, mas só uma estava habitualmente, chamava-se Lucinda e teve um papel muito importante, na catequese, nas rezas e na vida igreja.

A côngrua

Os senhores padres residiam na casa paroquial e recebiam uma côngrua, um rendimento anual que lhes permitia viver. Primeiro, era dada em géneros, sobretudo, pão, conforme as possibilidades das famílias (dois, um, alqueires, um meio, uma quarta...). Mais tarde, passou-se a pagar a côngrua em dinheiro.

Tinham, também, o dinheiro das missas e de outros serviços religiosos – batizados, casamentos, enterros... – ainda, assim, não parecia ser uma coisa demasiada, a não ser nas paróquias grandes.

domingo, 17 de janeiro de 2021

Tradições alimentares - a marmelada, a geleia e a «botelha»

  

As compotas/Os doces

Cá no povo, os doces que mais se costumavam fazer eram a marmelada e a botelha (abóbora), mas também havia quem fizesse de ginjas e de outros frutos.

 

A marmelada

Descascavam-se os marmelos, lavavam-se e coziam-se; depois de cozidos, esmagava-se a massa com as mãos, um garfo ou o passe-vite. A seguir, media-se a massa e punha-se de lado a mesma quantidade açúcar. Numa panela, colocavam-se, alternadamente, camadas de massa de marmelo e camadas de açúcar; deixava-se ferver, até atingir o ponto que se queria; depois, deitava-se em malgas, cobriam-se com papel vegetal, para não entrar nada para dentro, e ia-se comendo ao longo do tempo.

A geleia de marmelos

Guardava-se a água onde se tinham cozido os marmelos; coava-se bem coada e punha-se ao lume com açúcar; cozia até se obter uma geleia, um doce, quase líquido, que servia também para pôr no pão.

 

A botelha/a abóbora

Partia-se a abóbora em pedaços pequenos e cozia-se; depois de cozida, escoava-se bem, esmagava-se e media-se, para se pôr de lado a mesma quantidade de açúcar; ia outra vez ao lume, numa panela, colocando, alternadamente, uma camada de massa de abóbora e uma porção de açúcar. Tinha de se mexer sempre para não se deixar pegar; quando se visse que estava pronta, deitava-se em malgas.

 

 

 

 

 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Tradições alimentares; arroz doce e aletria

 

As sobremesas: arroz doce e aletria

Nessa altura, quase só se faziam doces de sobremesa pelas festas ou pelos jantares de família em que havia muita gente à mesa, por isso, faziam-se vários pratos e travessas de arroz doce ou aletria e enfeitavam-se com canela.

Para fazer o arroz doce, punha-se o leite ao lume, também com alguma água e um bocadinho de sal, quando começasse a ferver, deitava-se o arroz, mexia-se e deixava-se cozer; quando estivesse bem cozido, tirava-se a panela para fora do lume, para se pôr o açúcar; mexia-se muito bem e punha-se outra vez ao lume, até levantar fervura, mexendo sempre, para não deixar pegar o arroz ao fundo da panela – quem tinha caldeiras de cobre usava-as, porque não deixavam queimar o arroz doce.

A aletria era outra sobremesa que também se fazia pelas festas. O processo de preparação era o mesmo.

                            

domingo, 10 de janeiro de 2021

Tradições alimentares - Doces, pão leve e bolo pardo

 

A doçaria

 

Nos doces tradicionais que toda a gente fazia, incluímos os bolos individuais e de fatia, as sobremesas e também as compotas e geleias. 

 

Os doces

Levavam ovos, açúcar, farinha e fermento em pó. A “ciência” está em bater bem a massa, dar-lhe a consistência adequada para se poderem fazer bolinhos individuais que cresçam e sejam doces. Antes de se colocarem nas “latas” para irem ao forno, a massa deve descansar um bocadinho de tempo.

 

Os bolos de fatia

O pão leve e o bolo pardo não faltavam, pelas festas, pelos casamentos ou em dias especiais vividos nas famílias.

 

O pão leve

O pão leve é um bolo muito apreciado. Leva 12 ovos, doze colheres de açúcar, doze colheres de farinha. Partem-se os ovos, separando as gemas das claras. Às gemas, junta-se o açúcar e bate-se tudo bem batido, até a massa fazer fio; depois, juntam-se as claras batidas em castelo e por fim a farinha; mistura-se bem, deita-se numa forma untada – cá chama-se uma “lata” – e vai ao forno.

 

O bolo pardo

É um bolo de canela. Partem-se oito ovos, batem-se com meio quilo de açúcar; a seguir, deita-se um pacote de canela, uma colher de bicarbonato, um copo de leite e um copo pequeno de azeite; quando tudo estiver bem batido, junta-se, pouco a pouco, meio quilo de farinha. A massa coloca-se numa forma untada e vai ao forno.

 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Tradições alimentares - as filhoses

  

As filhoses

 

Sempre que havia uma festa, um casamento, um batizado e também pelo carnaval faziam-se filhoses. Eram muito amarelinhas e boas.

Ainda hoje muitas pessoas as fazem. Para cada dúzia de ovos, punha-se um quilo de farinha, um bocadinho de fermento de padeiro, dissolvido num pouco de água morna a que se juntava o sal.

Partem-se os ovos e batem-se; a seguir, põe-se o fermento e continua-se a misturar tudo muito bem; depois, deita-se a farinha e bate-se com força, durante algum tempo, até a massa ter bolhas, ficar elástica e se desprender da mão. Estendem-se com as mãos e fritam-se em óleo. 

 

sábado, 2 de janeiro de 2021

Tradições alimentares - O guisado de cabrito ou borrego

O cabrito/ o borrego

 

Sempre que havia festas, fossem casamentos ou outras, um prato típico era o cabrito ou o borrego guisado. Partia-se aos bocadinhos, punha-se sal, azeite, cebola, alho, loureiro, pimento-de-cor (pimentão) e sem pôr água (ou pondo uma coisinha de nada) punha-se a guisar lentamente, mexendo, de vez em quando, para não se deixar “esturrar”.

Podia deixar-se temperado de um dia para o outro, para que os sabores se misturassem bem. Também se punha um bocadinho de vinho branco; podia haver pessoas que pusessem outros condimentos, mas no geral era assim.