Neste blogue, vou escrever sobre Águas Belas, deixando memória de um tempo que já não existe, mas que temos a obrigação de não esquecer. Dedico-o à minha mãe, sem o saber dela, o que escrevi não teria sido possível, e a todas as pessoas de cá, andem por onde andarem.
Mostrar mensagens com a etiqueta O dia a dia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta O dia a dia. Mostrar todas as mensagens
domingo, 12 de janeiro de 2020
O dia a dia - Os serões
O dia a dia - ir à lenha
Ir à lenha
Gastava-se
muita lenha, tudo era feito e aquecido ao lume, mas o inverno não se podia
comparar ao verão, no que toca a gastar lenha; o lume estava sempre aceso. Quem
tinha pinhais e tapadas, com giestas e piornos, ia buscar lenha, na burra ou no
carro das vacas; preocupava-se, a tempo e horas, em arranjar e em arrecadar
lenha miúda e também lenha grossa, cavacos, para o tempo ruim.
Ir ao feixe
As pessoas
que não tinham lenha, eram as que mais iam ao feixe; iam de fugida, com medo
que aparecesse o dono. Traziam feixes de giestas, de piornos, de ramos e de
galhos; não havia giestas grandes, como agora que ninguém vai à lenha. Às
vezes, tinham de ir longe, para a Fonte Ferrenha, para o Grilo, para a
Malhadinha...; havia rapazes fortes que traziam feixes tão grandes que nem se
viam debaixo deles.
Mas, podia
acontecer que o dono dissesse: - “Olha, vai, além, ao meu pinhal ou à minha
tapada, buscar uns feixes de mato”. Então, a pessoa ia com ordem, sem medo de
ser apanhada, levava uma burra ou um carro e trazia a lenha.
Se fosse
apanhar pinhas não havia problemas; sempre se pôde ir aos pinhais alheios, os
donos não diziam nada. As pessoas de mais idade, que não podiam andar ao feixe,
nem tinham quem fosse a ele, quase só gastavam pinhas; entrava-se naquelas
cozinhas e o que via era um “canto” cheio de pinhas.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2020
O dia a dia - o trabalho do vivo
Na loja
Na pastagem
Um lameiro de feno e pastagem |
Havia certas
pastagens, com paredes ou arame farpado e cancelas, onde se podia fechar o
vivo, nesses casos, ia-se levar de manhã e só se ia buscar à tarde, mas o que
acontecia, mais vezes, era ter-se de guardar.
Guardar o
vivo era um trabalho que ocupava os mais velhos e também as crianças; não era
difícil, mas exigia responsabilidade, não podiam deixá-lo saltar para os
“chões” das outras pessoas, a comer o renôvo ou a fazer outros estragos.
Sempre, os pais recomendavam: “não tires os olhos do vivo, cuidado com as
cabras, não quero que saltem para lado nenhum, não quero queixas de ninguém”.
Podia, uma vez, isso acontecer, mas quem guardava o vivo tinha todo o cuidado.
sábado, 28 de dezembro de 2019
O dia a dia - ir à fonte
A fonte Velha |
Ir à fonte
Era um
trabalho que todos os dias se tinha de fazer, até, mais do que uma vez. Ia-se
de manhã, à noite e quando se precisava; quem gastava muita água, andava o dia todo
a caminho da fonte.
A fonte era
também um ponto de encontro e de conversa, nunca se ia lá que não se
encontrasse alguém a ir, a vir ou parada no caminho a descansar; trazer um
cântaro cheio, em cada mão, não era fácil, pelo menos para os que tinham menos
força. Era até mais fácil trazer dois do que só um, porque ficava a força dos
braços mais equilibrada.
O carrinho da fonte
Muitas
pessoas, pelo menos, as que viviam mais afastadas da fonte, tinham um carrinho
de mão, com uma espécie de estrado, com dois buracos circulares, onde se
colocavam os cântaros. Facilitava muito, mas era preciso saber levá-lo, ter
força, direção e escolher o caminho; não era para os mais novos que podiam, sem
querer, deixá-lo virar.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2019
O dia a dia - a limpeza da casa
Varrer
Havia sempre
uma vassoura feita de giestas para varrer as casas e as varandas. Arranjava-se
um molhinho de giestas, com os toros para um lado e a rama para o outro,
punha-se um “arganel”, feito também de giesta, a unir os toros, e, com uma faca
ou uma podoa, arredondava-se a rama – estava a vassoura feita. Também se faziam
de junça; depois de seca, fazia-se um entrançado, na parte de cima, para a
junça ficar toda virada para baixo, arredondava-se e punha-se-lhe um cabo de
pau. Eram mais bonitas e duravam mais; as vassouras de giestas secavam rápido e
depois varriam mal.
Roçar
As casas
também se roçavam, com água e sabão: ia-se molhando o soalho, com um pano do
chão, punha-se sabão por todo o lado, roçava-se com uma escova de “piáça”, no
fim, limpava-se outra vez com água limpa. Havia casas que estavam sempre num
“brinquinho”, mais, as que tinham raparigas novas que se davam a esse brio;
havia outras que era como calhava, umas pessoas varriam todos os dias e roçavam
todas as semanas e outras só o faziam de vez em quando, pelo menos roçar.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2019
O dia a dia - a lida da casa
A casa
ocupava grande parte da vida das mães e até das filhas, logo que podiam fazer
alguma coisa, começavam a ajudar as mães.
A lida da casa
Pela manhã,
ainda cedo, todas as pessoas acendiam o lume para fazer uma sopa de feijão, de
couves ou só de batatas, temperada com um bocadinho de "untura" e um
fio de azeite, para o almoço. Ao meio-dia, era o jantar – não se chamava
almoço, como agora – comiam-se batatas no molho, com azeite e cebola, ou algum
enchido, se havia.
Pela tarde,
podia-se comer um bocado de pão seco, sem nada, ou com um bocadinho de queijo,
chouriça, carne gorda, azeitonas..., dependia sempre das posses das pessoas e
da época do ano. À noite, à ceia, outra vez sopa de couves, de feijão, de
nabo..., fazia-se de muita coisa. Tudo cozinhado
em panelas de ferro e ao lume; só, no princípio dos anos setenta se começaram a
comprar os primeiros fogões a gás.
A loiça
Como se tinham
de fazer as viandas dos porcos, passava-se a loiça primeiro em água quente,
para tirar a gordura e depois em água limpa; lavava-se em alguidares de lata,
em barranhas de barro ou em caldeiros. Depois de lavada, deborcava-se numa
barranha e cobria-se com um pano, até à próxima refeição.
quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
O dia a dia - o convívio na rua
A vida
decorria com momentos bons e maus, dificuldades e preocupações, mas, apesar de
tudo, muitas pessoas recordam esse tempo como um tempo em que havia alegria e
união entre as pessoas.
O convívio na rua
As ruas eram
a continuação das casas, quase todas muito pequenas. Estavam sempre cheias de
gente: sentadas a uma “abrigadinha”, se era inverno, a uma sombra se fosse
verão e fizesse calor, ou resguardadas, debaixo de cabanais e de varandas, se
houvesse chuva.
Eram o lugar
das brincadeiras, dos jogos, das conversas, com os irmãos, os primos, os amigos
e os vizinhos... Como a aldeia era pequena, todas as pessoas se conheciam e
eram amigas. Havia um forte sentido de entreajuda, de amizade, de andar na
malta, de estar uns com os outros e de aproveitar o que se tinha, mesmo que
fosse pouco.
Subscrever:
Mensagens (Atom)
-
Dependendo da época do ano, assim era o trabalho no campo. Não era só o trabalho nos “chões”, a semear e a tratar o renovo, era também t...
-
. O rato-do-monte e o rato do moinho Um dia um rato-do-monte encontrou-se com um rato do moinho e começaram a conversar. - Estás t...
-
A Igreja de Águas Belas Ser daqui é ter uma raiz, um chão, um lugar, onde regressamos, sempre que precisamos, de verdade ou em pensam...
-
A casa paroquial Antigamente, os senhores padres residiam nas aldeias, em casas quase sempre construídas com a ajuda de toda a...
-
Era assim o minério (volframite) O minério do Brejo Uma vez, ainda nem a gente sabia bem o que era aquilo, além para o cimo do p...
-
Há três cruzeiros: duas Alminhas e um Calvário. As Alminhas As Alminhas da Cruzinha As Alminhas do Fundo do Povo As A...
-
Era assim...Um caniço cheio de enchido (Foto: Capeia Arraiana) Os enchidos Só as morcelas se faziam o dia da matança, o resto do e...
-
Café de Águas Belas - há sessenta e tal anos era uma loja com taverna e mercearia As lojas de venda Mais lá atrás, houve uma taberna, do sen...
-
Pode dizer-se que a vida do país começou a mudar, a partir do 25 de Abril de 1974; todos começaram a perceber o que significava viver em d...
-
A bica/ O santoro É uma tradição ligada ao dia dos Santos, 1 de novembro. Nesse dia, os padrinhos dão aos afilhados, um pão esp...