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quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Tradições Festivas - do Natal

  

No Natal, um mês muito frio, costuma-se fazer um madeiro para aquecer a noite ao Menino Jesus.

 

O madeiro

De vinte e quatro para vinte e cinco de dezembro – na noite de Natal – faz-se um grande madeiro no adro da igreja. O madeiro é uma fogueira muito grande, feito com troncos secos, há sempre alguém que os dá, e que os rapazes acartam, dias antes, juntamente com um carro de giestas e de piornos.

Antes, traziam esses troncos em carros de vacas, mas, claro, eram eles que puxavam; agora, com os tratores é muito mais fácil acartar a lenha e não é preciso começar muito tempo antes. Empilham a lenha, cobrem tudo com as giestas e os piornos, põem pneus velhos, pelo meio, para ajudar o lume a atear e deitavam-lhe o fogo.

Muitas pessoas vão ao madeiro para ver arder aquela imensa fogueira e também para conviver um pouco; alguns ficam até tarde e há mesmo quem fique até de manhã, antes, era costume os rapazes fazerem uma borga junto ao madeiro, com carne e bebidas.

 

O Menino Jesus desce pela chaminé

Não havia a tradição da árvore de Natal. Aqui, era o Menino Jesus que descia pela chaminé e deixava qualquer coisa às crianças. Pouca coisa que não havia muito para dar: uns rebuçados, umas bolachas, umas laranjas, umas meias, umas moedinhas... 

De manhã, os meninos, que tinham posto o sapatinho junto a chaminé, iam entusiasmados ver o que o Menino Jesus tinha deixado. E ficavam todos contentes, mesmo que fosse pouco.

 

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Tradições festivas - o magusto

  

O magusto

O magusto do povo era, quase sempre, no dia dos Santos. Escolhia-se um caminho, onde houvesse um largo para se fazer a fogueira e que não ficasse longe de um pinhal para se ir à caruma.

Depois de se ir à caruma, preparava-se o magusto: começava-se com uma base circular de caruma, a seguir punha-se uma camada de castanhas, outra vez caruma, depois mais castanhas, até se colocarem todas as que as pessoas tinham levado. Deitava-se o fogo e, com um pau comprido, ia-se mexendo, mexendo..., virando de um lado para o outro, para que toda a caruma ardesse e as castanhas ficassem bem assadas.

A seguir, tiravam-se para fora, faziam-se uns montinhos e todas as pessoas descascavam e comiam castanhas. Para beber, alguns levavam uma pinguinha de jeropiga, ou de sumo, o que calhava. Nesta altura, era quase certo, que todos já estavam mais ou menos de cara negra; havia aquelas brincadeiras de se enfarruscarem uns aos outros. Era uma tarde divertida e bem passada.

Ainda hoje se faz o magusto organizado pela junta de freguesia e todas as pessoas são convidadas a participar.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Tradições festivas - a bica

 

A bica/ O santoro  

É uma tradição ligada ao dia dos Santos, 1 de novembro. Nesse dia, os padrinhos dão aos afilhados, um pão especial, a que chamam «bica» ou «santoro», feito de propósito. Tem a forma alongada, 50/60 cm, com 15 cm de largura, muito fino, feito de farinha de trigo e coberto de azeite. É um pão muito saboroso.

Noutro tempo, em que não havia venda de pão, eram pessoas de fora que vinham, com alforges cheios de bicas, em burros, vendê-las. Nunca faltavam. Talvez, muitos recordem, ligadas ao «santoro», os saborosos doces de «botelha» e marmelada que, por esta altura, de início de outono, muitas pessoas faziam.

Agora, todos os padeiros trazem bicas e não só nos Santos, durante o ano todo. A tradição foi perdendo algum do seu significado, mas mantêm-se ainda, muitos padrinhos continuam a oferecer as bicas.

 


segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Tradições festivas - O São João

Pelo São João, de 23 para 24 de junho,  era tradição acender fogueiras e às vezes também um mastro. 

 as fogueiras

Quase todas as pessoas faziam uma fogueira à porta de casa, até os mais velhos iam buscar rosmaninhos para queimarem, nessa noite. A certa hora, a seguir à ceia, cada morador acendia a sua fogueira e quem queria ia “sarnar” as fogueiras, rua abaixo e rua acima.

Sarnar era saltar as fogueiras; às vezes, o lume estava forte e era difícil saltá-las, tinha de se deixar arder até não ser perigoso, mas, alguns mais afoitos saltavam com o lume alto, era uma brincadeira bonita e uma noite animada. Na manhã seguinte, ainda havia no ar o cheiro a rosmaninho; um cheiro forte, mas agradável.

 

O mastro

Havia anos em que não eram só as fogueiras, juntavam-se três ou quatro rapazes e raparigas e faziam o mastro. Era um pinheiro forrado de rosmaninhos que se compunha no chão e que depois se levantava, sempre no centro de um largo, podia ser ao fundo do povo, à capela, à fonte velha... Era bonito ver arder o mastro, as pessoas ficavam à volta a conviver, a contar histórias e a rir; às vezes, havia baile.

 

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Tradições festivas - Páscoa

 

Ganhar as alvíssaras

Quando acabava a Quaresma, em cima da meia-noite, já no dia de Páscoa, tocava-se o sino com força e durante bastante tempo. Às vezes, os rapazes punham-se a guardar o sino, à espera que chegasse a hora, sempre a ver quem era o primeiro. Quando eram muitos, para todos ganharem as alvíssaras[1], atavam uma corda ao badalo do sino e, à meia-noite, todos pegavam na corda para tocar ao mesmo tempo. Não ganhavam nada, claro está, mas tinham a alegria de terem sido os primeiros.

 

A amendoeira

Quase sempre, no dia de Páscoa, vinha uma amendoeira do Sabugal – a senhora Laurinda – à saída da missa, depois da procissão, já estava com o tabuleiro composto, ao fundo do adro. Era um tabuleiro dos do pão que pedia emprestado cá, cobria-o com um pano branco, tipo um lençol, e punha as amêndoas, os chupa-chupas, as santinhas, os balões, os rebuçados, os bonecos cheios de bolinhas doces, os pífaros de plástico, as cornetas...; os miúdos já não deixavam as mães, queriam sempre alguma coisa.

À tarde, se havia baile, no largo da capela, a amendoeira mudava-se para lá e sempre ia vendendo uma coisa e outra. Só à noite é que ia embora. 



[1] Alvíssaras era uma gratificação que se dava a quem trazia boas notícias. Ia-se a correr, a correr, e o primeiro a chegar e a dar a notícia recebia alvíssaras.

domingo, 8 de agosto de 2021

Tradições da quaresma - deitar compadres

 

Era um tempo um pouco triste, não se dançava, durante a quaresma, havia tradições mais de acordo com o tempo que se vivia.

 

Deitar os compadres

Quarta-feira de cinzas, ia-se à missa e, depois, no tempo mais antigo, a “mocidade” toda ia dar uma volta ao povo. Entrava-se em todas as casas, começava-se ao fundo do povo e acabava-se ao calvário. Comiam-se filhoses e outras coisas, figos secos, nozes… o que as pessoas punham na mesa.

Depois, ia-se para aquela “abrigadinha” da casa do Senhor Padre, agora, esse curral está fechado, mas antes não, ia-se para aí, faziam-se uns bilhetinhos com os nomes das raparigas e uns bilhetinhos com os nomes dos rapazes. Punham-se num dos chapéus os nomes dos rapazes e no outro os nomes das raparigas; uma pessoa tirava ora de um chapéu ora do outro e o par que calhava ficava compadres.

Estes compadres iam por toda a Quaresma, até à Páscoa, nesse dia o compadre dava as amêndoas à comadre. Durante esse tempo em que eram compadres, quando passavam um pelo outro, diziam:

 - Bom dia compadre.

- Bom dia comadre.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Tradições festivas do carnaval: os entrudos, partidas...

  

Os entrudos

Alguns rapazes vestiam-se de entrudo, disfarçados, a jeito de ninguém os conhecer, com roupa velha e a cara tapada, com uma meia ou um pano. Na noite do entrudo, já se estava à espera deles. Chegavam às cozinhas, cumprimentavam, faziam gestos, moafas…, mas não falavam, para não se darem a conhecer.

- Olá, estás muito bonito! De onde é que vens, vestido dessa maneira? Estás muito bem, sim senhor!

No dia de Carnaval, também, andavam os entrudos; de vez enquanto, aparecia uma maltinha, até, com crianças pequenas que vinham pela mão dos mais velhos, lá iam todos dar a volta ao povo. Os garotinhos, às vezes, tinham medo, porque os entrudos corriam atrás deles, com aqueles paus grandes que traziam, mas era só para assustar, não faziam mal, eram até divertidos.

Continua esta tradição, mas agora quase já não há entrudos de cara tapada, vão com disfarces engraçados.

 

As partidas de Carnaval

Uma partida que os rapazes faziam, nesse tempo, era trocarem os vasos das flores que as raparigas tinham nas varandas. Punham os do cimo ao meio ou em baixo, os de baixo em cima ou ao meio, uma mistura. De manhã, quando as raparigas davam conta do que tinha acontecido, iam à procura dos vasos que lhes pertenciam.

Era uma brincadeira divertida, ninguém levava a mal. Os rapazes em geral faziam isto às raparigas com quem tinham mais confiança.

 

O galo para a professora

Todos os anos, os alunos da escola compravam um galo para oferecerem à senhora professora, no último dia de aulas, antes das férias do Carnaval. Enfeitavam-no com fitas e punham-no numa cesta de verga. A professora costumava, nessa altura, dar qualquer coisa às crianças, quase sempre, uns rebuçados. 

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Tradições festivas do carnaval: os chocalhos (1)

 

 

O Carnaval

 

Quando nos lembramos do Carnaval, vêm-nos logo à ideia os chocalhos, os entrudos e outras partidas divertidas. Era um tempo alegre.

 

Os chocalhos        

Duas semanas antes do Carnaval, começavam a tocar os chocalhos; esta tradição teve lugar até há poucos anos, terminou por não haver crianças e jovens suficientes. O grupo de rapazes reunia-se, cada noite, para ir aos chocalhos. Não tocavam só chocalhos, também batiam em latas e em tachos velhos.

Lá andavam, rua abaixo, rua acima, parando uma noite numas casas e a noite seguinte noutras, para darem vivas aos moradores.

Um dos rapazes dizia: - Viva o senhor tal (diziam o nome)! Viva a mulher! Vivam os filhos!

Todo o grupo repetia: - Viva! Viva! Vivam!

As pessoas iam à porta, agradeciam e algumas davam rebuçados, vinho, dinheiro ou outras coisas. No último dia, antes do Carnaval, paravam em todas as portas e davam vivas a todas as pessoas. Como a tradição era oferecer vinho, entre outras coisas, alguns dos rapazes bebiam uns copinhos a mais e, pela primeira vez na vida, começavam a ver o caminho a dobrar.[1]



[1]Claro que se pode dizer: “é incompreensível dar vinho a rapazes tão jovens”, mas temos de situar esta e outras tradições no tempo, bem lá atrás.

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Tradições festivas: a borga das janeiras

  

A borga das janeiras

 

No dia 1 de janeiro, era dia de pedir as janeiras, mas não era para os Santos, era para a malta nova fazer uma festa. Ia-se de casa em casa, a pedir a janeira. Muitas vezes, cantava-se:

- Ainda agora aqui cheguei/ logo pus o pé na escada/ logo o meu coração me disse/ aqui mora gente honrada.

- Levante-se lá senhora/ desse banco de cortiça/ venha-nos dar a janeira/ ou morcela ou chouriça.

As pessoas davam coisas do porco; nessa altura, quase toda a gente matava. Ia-se para uma casa desabitada, que alguém arranjava, onde se pudesse fazer lume e fazia-se a festa. Levavam-se umas panelas de ferro grandes, numa cozia-se o enchido, na outra coziam-se as batatas. Muitas vezes, a seguir, havia baile.

 

terça-feira, 6 de julho de 2021

Tradições festivas - Cantigas de roda

 

Cantigas de roda 

Não era preciso haver bailes, para a malta nova se divertir. Cantavam e dançavam, ao mesmo tempo, quadras como estas:

-“Ó menina que vai passar/que leva na canastrinha/ Que a fruta para ser boa/ deve ser bem madurinha. A fruta é boa/ todos a podem comprar/ É laranja escolhida/ para gente particular/Se o senhor duvida disso/ posso lha dar a provar.

- Ó sopeira encantadora/ onde vais tão apressada/ Quem tem tanta formusura/ não devia ser crida. Que lhe importa a onde eu vou/ se vou depressa ou devagar/ Se eu ganho muito ou pouco é deitar-se a adivinhar/ com os seus elogios pouco pode aproveitar.

- Palavras leva-as o vento/ aquelas que leves são/ mas a mim ninguém me leva/ as penas do coração.

- Não se prenda quem é livre, nem se pratique a maldade, fechando numa gaiola quem nasceu para a liberdade.

- Está o céu enevoado/ está para chover não chove/ está o meu amor doente/ está para morrer não morre.

- Meu amor, amor de outra/ não te posso chamar meu/ tu amas a quem tu queres/ e só na fama fico eu. O meu amor eras tu/ se não te fosses gabar/ pela língua morre o peixe/ quem te manda a ti falar.

 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Tradições festivas - as «Bicas» e o dia da inspeção

  

As bicas

 

Sempre que uma jovem rapariga ficava noiva de um rapaz “de fora”, um rapaz que não fosse da terra, tinha de pagar as “bicas”. Era uma festa, havia quase sempre um baile e uma “borga”, comida e bebida para toda a malta. Eram os rapazes solteiros que iam pedir as bicas ao noivo. Também se dizia “pagar o vinho”, ouvia-se dizer: - já se vão casar, o rapaz já pagou o vinho.

 

O dia da inspeção

 

Iam à inspeção os rapazes da freguesia que, nesse ano, fizessem dezoito anos. Era um alvoroço nas terras, nesse dia, havia alegria e tristeza, ao mesmo tempo.

Os que ficavam apurados, não tinham razões para festejar, pois, a partir de 1961, a maioria, era quase certo, acabaria na guerra colonial, a não ser que pudessem ficar como “amparo de mãe”, se já não tivessem pai e fossem eles a trabalhar para o sustento da família. Os que ficavam livres, poucos, por terem algum problema de saúde ou não terem a capacidade física exigida, também sentiam também alguma tristeza, compreensível.

Ainda assim, quase sempre, a malta da inspeção ajustava um tocador e havia, logo que chegavam, uma ronda pelo povo, foguetes e um baile.

 

domingo, 6 de junho de 2021

Os bailes - a ronda, chamar as raparigas

 Os bailes

Havia bailes com concertina, em dias assinalados: Carnaval, Páscoa, São João, dia da inspeção militar, bicas, dias de festa e noutros dias; havia alturas, que todos os domingos havia baile. Havia cá dois tocadores, o senhor Aníbal e o senhor Clemente, mas também vinham tocadores de outras terras. 

Dançava-se ao fundo do povo, mas a maior parte das vezes, era no largo da capela, ao fundo das escadas do ti João da Costa ou atrás da capela.

 

A ronda

Nessa altura, os bailes eram à tarde e à noite. Quando chegava o tocador, os rapazes da malta davam logo umas voltas ao povo, a anunciar que o baile ia começar. Às vezes, podiam começar poucos, mas, no fim da ronda, era já uma “maltinha” grande; eram só rapazes, as raparigas não andavam à ronda. Nos dias de festa, havia sempre um foguete ou outro que alguém, dos da ronda, deitava.

 

Chamar as raparigas

Antigamente, os rapazes iam às casas, a seguir à ceia, chamar as raparigas para o baile. Se não as fossem chamar, os pais não as deixavam ir de noite, a não ser que tivessem irmãos mais velhos. Era uma espécie de responsabilidade:

- Deixa ir a sua filha para o baile?

. Deixo-a ir, porque tu a vieste chamar. Mas vê lá, não quero que aconteça nada de mal.

- Fique descansado.

Este uso acabou há muito tempo.