domingo, 23 de fevereiro de 2020

As fontes e os bebedouros



As fontes

A fonte nova
Havia duas fontes, que ainda existem, para abastecer de água toda a aldeia: a fonte Nova e a fonte Velha. De início, eram fontes de mergulho, funcionavam como poços, onde as pessoas com cântaros de barro e depois com cantaras ou baldes de plástico, iam buscar água para a sua alimentação e higiene e também para a comida do vivo e a limpeza das casas.
Mais tarde, fecharam as fontes, com uma porta de ferro e puseram em cima uma bomba manual; era preciso dar à bomba, para encher os cântaros. Era a mesma água, mas já não se mergulhava, ficava mais limpo; nas fontes de mergulho, muitas pessoas não tinham cuidado e a água sujava-se com palhiço e outras coisas, às vezes, até criava limos. Uma vez por ano, ou mais, era preciso limpar as fontes; despejava-se a água e roçava-se tudo bem “roçadinho”: o chão, as paredes e o teto. A limpeza das fontes era feita pelo povo, num dia combinado.

Os bebedouros     

O bebedouro da fonte velha
Junto às fontes, havia um bebedouro para o vivo; eram feitos de pedra, com uma fundura suficiente para todos os animais beberem. De vez em quando, mais à noite, quando vinham do campo, formava-se uma fila de vacas a querer beber; era preciso esperar pela vez. Os donos tinham de estar de olho nas vacas, senão, até, se podiam marrar. Primeiro, quando as fontes eram de mergulho, tirava-se a água da fonte com baldes, depois dava-se à bomba manual e a água corria para o bebedouro.
Mais tarde, construíram-se outros bebedouros, junto aos chafarizes, na Cruzinha, à igreja, ao cimo do povo... 



O forno

O forno comunitário 

A casa do forno fica na rua do Meio, entre a praça e o cimo do povo. Entra-se e tem, à frente, o forno circular, todo de pedra, do lado direito, o local onde se colocavam os tabuleiros do pão, e, do lado esquerdo, uma pia onde se colocava a água que servia para molhar o varredouro que varria o chão do forno. Foi reconstruído, há pouco tempo, tem no exterior uma placa: “forno comunitário”; na verdade assim era, foi usado durante muito tempo por toda a comunidade.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

A cantina escolar



A cantina escolar

 Numa certa altura, nos anos sessenta, o Estado dava uma espécie de almoço: uma sopa, um copo de leite (leite em pó, dissolvido em água), uma fatia de pão com um queijo alaranjado (holandês) e uma colher de óleo fígado bacalhau (recordo que tinha um sabor muito ruim e de nem todos os meninos o conseguiam tomar). Esta cantina funcionava numa espécie de loja[1], com mesas e cadeiras, lá mesmo no alto Calvário; quem fazia o almoço e cuidava da cantina era uma senhora chamada Marcelina.


[1] Pertencia ao senhor António Costa. Houve outras senhoras e outros locais, posteriormente.

A escola



A escola




A primeira escola foi na praça, no tempo da senhora professora Andrade, as pessoas mais antigas, ainda, se recordam. Depois, foi construída a escola que hoje existe, embora desativada, há muito, por falta de alunos. Foi construída naquele sítio, por causa das crianças do Dirão da Rua que vinham cá à escola, sempre ficava um bocadinho mais perto.
É uma escola do plano centenário (um modelo de construção do Estado Novo para edifícios escolares, por muitos lados, há escolas iguais a esta, neste caso, com uma sala de aula, um telheiro, duas casas de banho, uma para os alunos e outra para a professora (mas sempre fechadas, porque não havia água canalizada), um campo de recreio murado e um portão de entrada.

A sala de aula

A sala de aula com três ou quatro filas de carteiras, de madeira, antigas, ainda, daquelas que tinham tinteiros, na parte de cima, onde se sentavam duas crianças; uma secretária e uma cadeira para a professora; na parede da frente, um quadro preto, ao fundo da sala, um armário com livros e a um canto um fogão a lenha que, no inverno, é impossível estar-se sem aquecimento.
Por cima do quadro, havia uma cruz e dois quadros, um com o presidente da república e o outro com o presidente do concelho (no meu tempo, eram o Américo Tomás e o Salazar). Todos os dias, quando chegávamos à escola, antes de começar a aula, rezava-se e cantava-se o hino nacional. A seguir ao 25 de Abril, esta prática terminou, tiraram-se, das escolas, a cruz e as fotografias dos presidentes.

Os meninos do Dirão-da-Rua

Quero aqui homenagear estas crianças que faziam mais ou menos três quilómetros de manhã e outros tantos à tarde para virem à escola, chovesse, fizesse sol, houvesse frio ou calor. Pode imaginar-se a situação difícil em que o faziam, sempre a pé, com a sacola dos livros às costas e, muitas vezes, ainda, com o saco da merenda.  
Apesar destas condições, não facilitarem o aproveitamento escolar, havia bons alunos.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

A Casa Paroquial




A casa paroquial

Antigamente, os senhores padres residiam nas aldeias, em casas quase sempre construídas com a ajuda de toda a freguesia. Esta casa paroquial para a época da sua construção, tinha tudo o que era preciso, mas, agora, não tem condições para ser habitada. É uma construção de pedra, rebocada e pintada de branco, com janelas em todas as divisões. Com divisões espaçosas, soalho e tetos de madeira, o material da época. Pode dizer-se que está desaproveitada, embora possa servir para arrumações de coisas da igreja.

A horta do senhor padre

Havia na fonte velha uma horta ligada à casa paroquial, onde se cultivavam hortaliças e legumes. Deixou de ser cultivada e esteve muitos anos ao abandono. Anos mais tarde, exploraram a água, nesta horta, construíram dois poços.[1]



[1] Uma parte da horta, é hoje o bar da Associação

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Os cemitérios



O cemitério antigo          

O cemitério antigo

O primeiro cemitério foi dentro da igreja, era assim há mais de duzentos anos. Quando essa prática foi proibida, no século XIX, fizeram o cemitério junto à igreja, em 1878, e trasladaram para lá os ossos que encontraram na igreja. Havia, pessoas antigas que ainda se lembravam disso.
Este cemitério tem uma inscrição à entrada, do lado direito do portão, que diz: “Ó tu, quem quer que és, repara como eu estou, eu já fui como tu és e tu serás como eu sou” – é como que um pedido, um clamor, para os que passam tomem consciência de tudo termina ali.[1]
É pequeno e sem ordenação adequada; as pessoas sepultavam, mais ou menos, onde calhava; havia um sítio para os “anjinhos”, logo à entrada, de um lado e do outro, o restbens pante terreno foi todo ocupado, com sepulturas. As famílias guardavam as campas dos familiares falecidos para enterrarem outras pessoas da família – ainda agora é assim.
Parecia haver sempre lugar, mas quando se começaram a colocar as campas, e a junta de freguesia começou a vender o terreno das mesmas, já nos anos oitenta, o espaço foi diminuindo, até ao ponto de não haver lugar livre. Agora, neste cemitério, continuam a ser enterradas as pessoas que desejam ficar nas campas de familiares.



O cemitério novo        

O cemitério novo


O cemitério novo, não muito longe do antigo, foi construído num terreno, doado pela D. Emília Saldanha, e cumpre as regras para a construção de cemitérios, desta dimensão: muros altos, um portão de ferro; uma ala central, empedrada, e uma mesa em pedra para colocar a urna, enquanto se fazem as últimas orações; dois campos de enterramento, um de cada lado, com tabuletas numeradas; um passeio interior a toda a volta do muro; e um chafariz com água. O enterramento faz-se de forma ordenada.




[1] Foi uma oferta de…

Bens Públicos - a capela

A capela

A Capela de Águas Belas

A capela, em honra de São Sebastião, fica ao cimo do povo; não tem nenhuma data, mas sabe-se que, no século XVIII, já existia. Todos os anos, no dia 20 de janeiro, aí se celebra uma missa em honra deste santo.
Na capela, fazem-se também os terços das pessoas que morrem. Serve, ainda, desde que os mortais deixaram de ser velados em casa, para se fazer o velório de quem morre.
Tirar disso, só abrem a porta da capela, quando há procissões: na Páscoa, no Corpo de Deus e nos dias de festa. Na procissão, o mordomo, ou alguém a quem este pode pedir, vai tocando a sineta, um toque lento: dlim…, dlim…, dlim…, sem pausas. Toca-se desde que se começa a ver o pálio com o senhor padre, no final da rua da Carreira, até que a procissão dá a volta e desaparece pela rua do Meio.
Há pouco tempo, teve grandes obras de beneficiação no seu interior: chão, paredes, altar, bancos e objetos de decoração, com o contributo do povo, mas graças à iniciativa e empenho do mordomo[1].



[1] O senhor João Nunes Leal e esposa.