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Tendas do mercado do Sabugal |
Neste blogue, vou escrever sobre Águas Belas, deixando memória de um tempo que já não existe, mas que temos a obrigação de não esquecer. Dedico-o à minha mãe, sem o saber dela, o que escrevi não teria sido possível, e a todas as pessoas de cá, andem por onde andarem.
sábado, 29 de agosto de 2020
Mercados e feiras do Sabugal
Os
mercados e as feiras do Sabugal
quarta-feira, 26 de agosto de 2020
Lojas de venda - as medidas
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Uma balança de pratos iguais |
As
medidas aferidas
Todas as
medidas eram aferidas; vinha alguém, da câmara municipal, ver se estavam
certas: da parte da taberna, aferiam o litro, o meio litro, o quartilho e meio
quartilho; da parte da mercearia, o quilo, o meio quilo, os duzentos, os cem e
os cinquenta gramas.
Os
cartuchos
Vinham já
feitos, dobrados uns em cima dos outros. Eram de papel manteiga grosso, podiam
ser acinzentados ou avermelhados, havia-os de um quilo, de meio quilo e, se
calhar, até, maiores e mais pequenos. Quando se queria abrir um, para pôr
dentro a massa, o arroz, o açúcar..., metia-se a mão até ao fundo e o cartuxo
tomava logo a forma de um saco. Para fechar por cima, juntavam-se as
extremidades, dava-se uma dobra ou duas e dobrava-se, ainda, um bocadinho das
pontas e virava-se; ficava um saco quase perfeito e bem fechado.[1]
As
medidas rasas
Para medir
cereais, pão, milho, feijão..., havia também medidas certas, feitas de madeira:
o alqueire (16 litros), o meio (8 litros), a quarta (4 litros) e o litro; enchiam-se
e passava-se por cima um “rasadoiro”, uma espécie de régua de madeira, para se
tirar o que estivesse a mais.
Estas
medidas não existiam só nas vendas, todas as pessoas as tinham em casa, estavam
sempre a ser precisas para se medir uma coisa ou outra.
[1]Agora, por preocupações ambientais, voltaram estes
sacos, é frequente vê-los, embora o papel seja diferente.
sábado, 22 de agosto de 2020
Lojas de venda (1)
Café de Águas Belas - há sessenta e tal anos era uma loja com taverna e mercearia
As lojas de venda
Mais lá atrás, houve uma taberna, do senhor Manuel Félix, ao terreiro, e uma loja, de mercearia e outros produtos, do senhor Paixão, à praça. Mas, as vendas que todos recordam são a mercearia e taberna, do senhor Diamantino Pascoal, ao cimo do povo, que depois ficou para o filho, o senhor Ilídio Pascoal, que a explorou até poder, depois, fechou e nunca mais reabriu; e outra, também mercearia e taberna, do senhor Alípio Firmino, ao fundo do povo. Esta última transformou-se em café, anos mais tarde; quando o dono morreu também esteve algum tempo fechada, mas reabriu e atualmente é explorada por uma filha, a senhora Isabel Firmino.
As vendas a granel
Quase tudo nas antigas mercearias era vendido a granel, ao peso. As pessoas diziam quanto queriam levar de arroz, de massa, de açúcar, de farinha, de sal, de café..., e os comerciantes, faziam a pesagem. Usavam-se balanças de pratos iguais: num dos pratos, punha-se o que se queria pesar e, no outro, as medidas de peso, até os ponteiros ficarem “certinhos” um com o outro. Mais tarde, houve aquelas balanças automáticas que, até ao quilo, marcavam logo o peso.
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
O comércio: vendas à porta
As
vendas à porta de casa
Durante
muito tempo vinham os compradores à porta: “tem batatas para vender? Olhe que
venho cá apanhá-las, tal dia”. Na altura das castanhas, a mesma coisa. Quem
queria vender, se via que o preço não era mau, aproveitava. Também, havia
negociantes de cá, para a batata e a castanha.
Para tudo o
que se colhia e criava, havia compradores: uns compravam vacas e bezerros,
outros cabras e cabritos, outros ovelhas e borregos, outros porcos e leitões,
outros galinhas, frangos, ovos...; até as peles das reses que se matavam se
vendiam – punham-se a secar, de modo a não ficarem com nenhuma dobra e depois
guardavam-se, até ao dia em que aparecesse um comprador.
O ferro velho
Com o ferro
velho, igual, guardava-se até ao dia em que um comprador chegava e levava tudo,
pagava pouco ou nada, mas as pessoas livravam-se daquilo que não servia para
nada. Ainda agora é assim, o homem do ferro velho já não vem de burra e de saco
às costas, mas vem de carrinha e leva o que já não presta.
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
O comércio - as trocas diretas
O comércio era muito pouco desenvolvido. Só se comprava o indispensável, para as pessoas, as casas e a vida do campo. Talvez, os mercados e as feiras fossem os locais mais importantes, para a compra e venda de produtos, embora existissem outros locais e outras formas de o fazer.
Loiça de barro |
As
trocas diretas
Vinham cá ao
povo vender coisas que se podiam adquirir, por troca com produtos de cá. Da
Idanha, vinham louceiros vender pratos, malgas, em barro vidrado e fino; mas
também barranhas, barranhões, cântaros e bilhas de barro mais grosso; não havia
plástico, toda a loiça era de barro. Montavam a tenda ali à praça, quase sempre
no curral da ti Conceição e aí ficavam dois ou três dias.
Trocava-se a
loiça por sementes; mais, por pão, mas também podia ser por batatas, feijão,
milho…, conforme o valor do que se comprava, assim era a quantidade de semente
que se dava em troca. Por exemplo, podia-se comprar uma barranha por uma malga
de feijão ou duas de milho; também se podia comprar a dinheiro, mas pouca gente
o tinha.
Não era só
loiça, também vinham vender, por exemplo, laranjas: uma barranha de laranjas
por uma de batatas; como cá não havia laranjas, era uma festa para os miúdos se
as mães fossem trocar batatas por laranjas.
quinta-feira, 13 de agosto de 2020
Artes e ofícios - os carpinteiros e os serradores
Os
carpinteiros
Não havia
oficinas de carpintaria abertas, mas havia carpinteiros que faziam portas,
janelas e todo o trabalho de madeira que era preciso fazer nas casas que se construíam.
Cá havia um senhor chamado Carlos Costa e na Quinta do Clérigo um senhor
chamado Fernando que trabalhavam muito bem na madeira.
Os
serradores
Um outro
trabalho do tempo antigo, feito com a força dos braços, era a serração de
madeira. Com umas serras grandes, dois homens, um em cada ponta, serravam um
pinho ou outra árvore, em tábuas mais grossas ou mais finas, conforme o destino
da madeira. Saber serrar bem era uma coisa que tinha de se aprender; os
serradores tinham de ter movimentos certos, um com o outro; também, tinham de
saber como colocavam o tronco, como o seguravam ou como o moviam.
Havia no
Espinhal um senhor, chamado Sebastião, que era um grande serrador, ensinou os
filhos, todos serravam, e até rapazes de cá aprenderam com ele a arte de serrar
madeira.
segunda-feira, 10 de agosto de 2020
Costureiras, alfaiates e sapateiro
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Uma máquina de costura antiga |
As
costureiras
Apesar de em
quase todas as casas haver uma máquina de costura e de, bem ou mal, todas as
senhoras darem um jeito na costura – fazerem para casa – havia costureiras que
trabalhavam para fora.
No tempo
mais antigo, uma senhora chamada Etelvina e uma senhora chamada Amélia faziam
roupa de mulher, combinações, saiotes, saias, blusas e casacos; a primeira,
também, fazia roupa de homem, camisas, calças, ceroulas e camisas.
Os alfaiates
Só faziam
roupa de homem, calças, camisas e casacos; houve, primeiro, um senhor chamado
Joaquim Ângelo que trabalhou até ir para a França. A seguir, houve outro
alfaiate que era da Bendada, um senhor chamado Júlio. Mas não esteve muito
tempo, começou a haver fábricas de confeção e a aparecer roupa feita nos
mercados e o trabalho dos alfaiates foi acabando.
O
sapateiro
Havia cá uma
oficina de sapateiro, montada com tudo o que era preciso para fazer sapatos de
raiz, com moldes e todas as ferramentas necessárias, de um senhor chamado
Manuel Fernando, que funcionou durante algum tempo. Mas, quando começaram a
aparecer sapatos a vender nos mercados, esta e outras oficinas semelhantes
foram acabando.
terça-feira, 4 de agosto de 2020
As tecedeiras
Tecedeira num tear antigo |
Fiar,
fazer meadas e novelos
Mantas
de farrapos
sábado, 1 de agosto de 2020
Artes e ofícios - Os ferreiros
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O ferreiro |
Os
ferreiros
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