Finais dos
anos cinquenta e princípios dos anos sessenta, foi a altura da maior emigração
para a França. Aqui no povo, mas igualmente no concelho, no distrito e no país.
Quem pôde sair, para trabalhar e melhorar a sua vida, saiu.
Ida para a França
Naquela
altura, a França era uma realidade diária, nesta terra. Estava nas conversas e
nas vidas de todos os habitantes. Não havia família que não tivesse alguém
naquele país. Em muitos casos, todos estavam lá, tinham ficado, apenas, os avós
já de idade.
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Por montes e vales, a caminho da França
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A salto
Nos
primeiros tempos, muitos emigrantes iam “a salto”, clandestinos, sem quaisquer
papéis. Eram, sobretudo, jovens casados, pais de família, que queriam ganhar o
sustento dos filhos, mas eram também rapazes solteiros, alguns muito jovens,
que abalavam, antes dos dezoito anos, para fugirem à tropa.
Saíam de
noite, levados por passadores, a quem pagavam oito ou nove contos de réis. É
bom de ver que nem todos tinham aquele dinheiro, pediam-no emprestado; quando
chegavam à França, já estavam endividados até ao pescoço. Eram explorados, por
muita gente, havia enganos, falsas promessas..., cá e lá.
Um passador
português levava-os para Espanha e, aí, podiam passar por vários, até chegarem
à fronteira de Hendaya, já em França, onde apanhavam o comboio até Austerliz,
em Paris, estação de destino de quase todos os emigrantes que daqui foram.
Passar a
Espanha, era o mais difícil, andavam dias e dias, até semanas, a pé, por
veredas, montes e caminhos ruins, atravessando ribeiros, para fugirem à guarda
civil espanhola; passavam o dia em casebres e de noite, quando havia menos
policiamento, caminhavam ou eram levados de carro. Se fossem apanhados pela
guarda civil, eram trazidos até à fronteira e entregues às autoridades
portuguesas. A Pide, a polícia política, interrogava-os, prendia-os,
ameaçava-os, mas acabava por libertá-los.
Muitos
homens de cá tentaram atravessar a fronteira, a salto, por mais de uma vez, até
conseguirem. Outros não conseguiram e tiveram de aguardar por cartas de chamada
– a maneira legal de emigrar.