quinta-feira, 21 de maio de 2020

O cultivo e o trabalho do linho

Linho em flor

O linho       

Há muito que deixou de se cultivar. Mas, nos anos cinquenta, ainda se semeava por cá muito linho. Era semeado das sementes da linhaça, uma sementinha espalmada. Nascia e tinha de se sachar, mondar e regar, até a planta crescer, a uma altura de 50/60 centímetros, ter flor e começar a secar. Nessa altura, arrancavam-se mãos cheias de linho e colocavam-se umas em cima das outras, cruzando-as sempre, para ficarem separadas.

Ripar

Depois, com a ajuda de um ripanço, uma tábua larga, dentada numa das extremidades, passavam-se mãos cheias de linho, por entre aqueles dentes de madeira, até cair toda a baganha; a baganha era a semente que se aproveitava para se semear no ano seguinte.

Curtir

A seguir, faziam-se feixes, atavam-se e punham-se debaixo de água, numa ribeira, de preferência onde houvesse água a correr. “Íamos pô-los na ribeira do Pomar, quando se vai para a Quarta-feira, ficavam na água oito dias ou até mais, quando o linho já estava a ficar mole, tirava-se e estendia-se ao sol, para ficar bem seco. Muita gente punha-o a secar, em pé, encostado a uma parede ou encostado um ao outro, a fazer uma espécie de “palheirinhos”, o importante era secar bem.

Maçar

Depois de seco, tornava-se a pôr em feixes e voltava para a água. O linho ia duas vezes à água e duas vezes era seco, tinha de curtir bem. Quando se via que estava molinho e já se podia manobrar bem, tirava-se e maçava-se com uma maça de madeira: batia-se, batia-se...

Espadelar

Com um utensílio de madeira, uma espadela, davam-se pancadas no linho, seguro pelas raízes, de cima para baixo, para tirar os “tomentos” e o resto que não fosse bom. Estes “tomentos”, a parte grossa do linho, não se deitavam fora, podiam fiar-se e fazer-se sacos mais grosseiros, como os das batatas.

“Assedar”

Quando já estava bem espadelado, ia para o “sedeiro”, uma tábua comprida, com uma espécie de reguinhos e de picos finos e bastos. Aí, saía o linho grosso todo, a estopa, ficava só o linho fino; deste linho faziam-se lençóis, toalhas e até camisas para os homens, “já não foi na minha lembrança, mas antes até faziam ceroulas de linho; mas 

domingo, 17 de maio de 2020

A vinha, o vinho e a aguardente


A vinha

Quase todas as pessoas tinham uma vinha, umas latadas ou uns cordões de “vides” (videiras), junto às paredes dos “chões”. Colhiam-se as uvas, quando estivessem bem maduras, para se fazer o vinho

O vinho

Quem tinha mais vinho, esmagava as uvas em lagariças, primeiro, tanques de pedra e, mais tarde, de cimento. Se as uvas não eram muitas, esmagavam-se em baldes e ia-se deitando o conteúdo para uma dorna. O vinho tinha de se mexer, com um pau alto, até ferver, nessa altura, o bagaço vinha para a parte de cima e o vinho ficava na parte de baixo.
A seguir, tirava-se das lagariças ou das dornas para as barricas ou para os pipos, às vezes, saia já da dorna muito limpinho. Estas barricas ficavam nas lojas ou nas adegas, quem as tinha, deitadas na posição horizontal, assentes em calços de madeira, para ficarem quase todas no ar e, assim, o vinho não se estragar. Depois do vinho aclarar, tapava-se a abertura de cima, com uma rolha de cortiça, colocando cinza à volta, para ficar bem vedada; também se lhe colocava uma torneira, na parte da frente, em baixo.
O vinho novo estava pronto. Mas, só depois do São Martinho é que se começava a beber, cumprindo o ditado popular: “Pelo São Martinho, vai à adega e prova o vinho”.
A aguardente
Do bagaço que ficava na dorna ou na lagariça fazia-se a aguardente; quase sempre, era um senhor do Espinhal, que tinha uma caldeira, que vinha fazê-la a quem quisesse.
Tinha de ser numa loja ou num cabanal, um sítio onde se pudesse fazer um bom lume, porque a caldeira era grande. Enchia-se de bagaço; por cima, colocava-se o alambique com água fria e, por um processo de destilação, o vapor que saia da caldeira passava a líquido e ia correndo em fio para uma vasilha; depois, era despejada para garrafões de vidro, tecidos de verga, de cinco ou dez litros; esses garrafões, quase, desapareceram, quem os tinha, foi-os deitando fora, por já não terem utilidade.
Quem tinha pouco bagaço, menos de uma caldeira, podia juntar-se a outra pessoa e ambas faziam a aguardente e dividiam-na conforme o bagaço que cada uma tinha posto. Também havia pessoas que não a faziam, por terem pouco; davam o bagaço a alguém.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

A agricultura - o feijão, o milho, o pão



O feijão

Também precisa de muito trato, semeia-se em leiras e tem de se sachar, mondar e não deixar passar sede, pelo menos, naquele período do choro (das flores). O feijão que mais se cultivava cá eram o argentino, o vermelho, o de estaca e o riscado. Algumas espécies podem ser para seco ou para comer verde, como o vermelho e o de estaca, as “beiginas” (vagens) podem ser comidas verdes; o feijão seco, depois de descascado e limpo, é guardado e vai-se comendo ao longo do ano.

O milho

Semeava-se milho “zaburro”, bastinho, para a comida do vivo, que se cortava quando começava a ter bandeira e, também, se semeava milho para seco. O milho não precisa nem de terra tão boa e nem de tanto trato: semeia-se, sacha-se e deixa-se crescer até ter a maçaroca madura; nessa altura, corta-se, descamisa-se – tiram-se as maçarocas.
A seguir, põem-se a secar e depois de bem secas, malham-se. O milho é limpo, outra vez posto a secar e no final guarda-se em arcas. O milho era dado às galinhas e também servia para a alimentação das pessoas, moía-se e da farinha faziam-se papas.

O milho-miúdo

Como toda a gente “deitava pitas” – punha galinhas a chocar ovos – era necessário semear milho-miúdo para os “pitinhos”. Um campo de milho-miúdo tinha sempre muita passarada, mal começava a amadurar; era preciso pôr espantalhos, no meio do milho ou caravelas altas, para meter medo aos pássaros, senão o dono ficava com pouco ou nada. Nem toda a gente o semeava, mas claro, quem tinha terras disponíveis, semeava umas leiras dele.

O pão (o centeio)[1]

Era semeado nas tapadas e nos terrenos altos, com mais areia e sem água, os que não podiam ser para o cultivo de outros produtos agrícolas. Deitava-se a semente, lavrava-se ao arado com as vacas e ficava todo o inverno e toda a primavera; só em junho, estava bom para ser ceifado. Depois, era malhado e guardado, em arcas ou "tulhas", para se moer e da farinha fazer o pão.



[1]Aqui sempre se utiliza a palavra “pão”, seja para designar o cereal em grão, seja para designar o alimento.

domingo, 10 de maio de 2020

A agricultura - a batata

Cada um remediava a vida como podia. O principal era o cultivo dos campos e a criação de animais. Havia também pessoas que se dedicavam a determinados ofícios, mas quase ninguém podia viver só disso.

Agricultura


A agricultura era a base da subsistência de toda a gente. Todas as pessoas semeavam o muito ou o pouco que tinham. Havia lavradores maiores, com uma junta de vacas ou até mais, e havia quem não tivesse nenhuma, por não ter terrenos. As pessoas que não tinham terrenos onde semear arrendavam um chão, quando isso era possível, ou cultivavam as terras dos outros de quartas e até de quintas.   

Cultivar de quartas e de quintas

Quando se tratava de quartas, ficava uma parte para quem cultivava e três partes para o dono do chão; quando se tratava de quintas, era ainda pior, davam-se quatro partes e ficava-se com uma. Mas, apesar, de ser muito trabalho e muito pouco lucro, para algumas famílias, não havia outra saída.

Principais culturas

As culturas principais eram a batata, o feijão, o milho e o pão, também havia quem cultivasse gravanços.

A batata

A batata cultiva-se cá há mais de duzentos anos – já vem referida no livro de 1758 – chamavam-lhe nessa altura “castanha da índia”, parece ser uma cultura muito adaptada aos terrenos daqui, dá-se bem em muitos lados, sobretudo, nos terrenos mais baixos e com água.
Semeada em março e abril, é uma cultura que precisa de muito trabalho, tem de ser "esgarranchada", sachada, regada, cada oito dias, até estar criada e se poder tirar, lá para o princípio de setembro.
As batatas guardam-se numa tulha, nas lojas; quando são precisas, vão-se buscar aí, 


segunda-feira, 27 de abril de 2020

O maior brio daquele tempo


Sem dúvida que o maior brio, para quem podia, era, nos dias em que se vestia o melhor fato, colocar, também, objetos de valor.

Os cordões de ouro

Ter um cordão de ouro era um luxo e um sinal de riqueza, porque eram muito caros. Mas, havia muitas raparigas pobres que tinham cordões, andavam ao minério e noutros trabalhos, para ganharem dinheiro para o poderem comprar.
Os cordões de ouro eram compridos, podiam dar duas ou três voltas; duas se se quisessem mais longos e três se se quisessem mais curtos, junto ao pescoço.

As fieiras de ouro

Quem não podia ter um cordão, tinha uma fieira, conforme podia, mais ou menos grossa; nos mercados, havia sempre uma fila de ourives, a vender ouro.
Usava-se o ouro ao domingo, nos dias de festa ou quando se saia para fora. Deixou-se de usar; agora, ninguém fala em ter um cordão de ouro, até, algumas pessoas que o tinham dividiram-no em fieiras.
Muitas mulheres nunca tiveram um cordão, mas brincos todas as meninas tinham, desde pequeninas.

Os relógios de bolso

Ter um relógio de bolso, preso com uma fieira de ouro, era o maior luxo para os homens daquele tempo. Poucos o podiam usar, por ser caro e não haver posses para isso. Só quando começaram a vir os relógios de pulso, que já não eram aquela carestia, muitas pessoas puderam ter um.



domingo, 26 de abril de 2020

O calçado


  

Os tamancos

De inverno usavam-se, sempre, tamancos, toda a gente os tinha; havia-os bonitos, a vender nos mercados. Mas, os pobres, muitas vezes, o que tinham era tamancos, com o pau novo, mas, por cima, o cabedal já cheio de “tombinhas”, porque se faziam de botas velhas.
- “Tenho lá umas botas velhas que te dou, para fazeres uns tamancos”.
- “Bem-haja, vão-me dar jeito”.
Era assim. Sempre que havia umas “empenhas”, para se fazerem uns tamancos, quase todos os pais e avós, melhor ou pior, os sabiam fazer.

as sapatas de pano

No verão, muitas pessoas, no campo, andavam com umas sapatas de pano que se compravam aos contrabandistas, vinham da Espanha, andava-se bem nelas. Muitos garotinhos e até mais fortes andavam descalços.

botas e sapatos do sapateiro

Para os domingos ou para ir a algum lado, todos os homens tinham umas “botas do sapateiro” e todas as mulheres tinham uns “sapatos do sapateiro”, primeiro, feitos por medida e depois comprados no mercado.



quarta-feira, 22 de abril de 2020

A roupa do tempo mais antigo



A das raparigas


As raparigas andavam sempre de lenço na cabeça e de xaile aos ombros. O lenço podia ser preto ou de cores, havia aqueles de lã de merino, estampados, com uma silva a toda a volta que parecia bordada, muito bonitos. O xaile era um mais quente no inverno e um mais leve no verão, podia ser de merino, mas nem toda a gente podia tê-lo, porque era caro. As raparigas casavam-se  de saia e casaco ou saia preta e blusa branca, não se olhava, não havia para mais. Era como se podia, muita gente o que mais comprava era chita, só para alguma festa se comprava um tecido melhor.

A das mulheres


As mulheres andavam com aquelas saias compridas, plissadas ou rodadas, com uma blusa branca ou de cores e, por cima, um casaco de aba, daqueles apertadinhos à cintura. Esse casaco era o luxo, daquele tempo, ainda mais, os que eram de veludo, mas nem toda a gente os podia ter, porque o tecido era muito caro. 
Quase nunca se comprava roupa nova, só nalguma festa ou nalgum dia assinalado. 

A dos homens

 Os homens vestiam sempre o mesmo, ceroulas, calças, camisas, coletes e casacos; no tempo frio, usavam samarras e capotes de um tecido quente e forte, chamava-se burel. Havia quem usasse “safões”, uma espécie de sobre-calça, de lã de ovelha, usados para aquecer as pernas. No verão e para o trabalho o que mais se usava era o "cotim", um pano azul, resistente, que durava muito.