terça-feira, 9 de novembro de 2021

Contos tradicionais - O pastor e o lobo

 

4. O pastor e o lobo         

Era uma vez um pastor que guardada um rebanho de ovelhas. Todas as manhãs, saia para o monte, mesmo nos dias mais frios de inverno, quando a neve cobria tudo de branco. Nos dias mais quentes de verão, nem sequer vinha a casa, as ovelhas ficavam no bardo, durante a noite, guardadas por um cão, enquanto ele dormia na choça.

Às vezes, cansava-se daquela vida de pastor, de andar tanto tempo sozinho no monte, sem falar com ninguém. Um dia, resolveu pregar uma partida às pessoas da aldeia e começou a gritar:

- Aí vem lobo, aí vem lobo… é o lobo, é o lobo…

As pessoas, ao ouvirem aquele grito de aflição, tocaram o sino para juntar o povo e todos juntos foram ajudar o pastor a salvar o rebanho do lobo.

Mas, chegaram lá e não viram lobo nenhum, nem lobo nem pastor e as ovelhas continuavam a pastar descansadas no campo.

Disseram, então, uns para os outros:

- O malandro do rapaz enganou-nos, nunca houve lobo nenhum. Foi só para se rir à nossa custa.

E era verdade, o pastor tinha-se escondido, atrás de um monte, a ver tudo e a rir-se por ter enganado as pessoas.

Passados uns tempos, resolveu repetir o que tinha feito e começou a gritar:

- Aí vem lobo, aí vem lobo…, acudam-me, acudam-me…

As pessoas, ao ouvir os gritos do pastor, disseram:

- Pode ser engano, mas também pode ser verdade, vamos lá outra vez ajudá-lo.

Tocaram o sino, juntou-se a gente e lá foram para o monte salvar o rebanho do lobo. Mas quando chegaram, foi outra vez a mesma coisa, não viram nem lobo nem pastor e as ovelhas continuavam a pastar. Ele lá estava no mesmo sítio, escondido e a rir-se por ter de novo enganado o povo.

Mas desta vez, as pessoas ficaram ainda mais zangadas e disseram umas para as outras:

- Não voltamos cá a vir. Então, não tem nenhum jeito esta brincadeira do rapaz! Quando voltar a pedir ajuda, já ninguém vai acreditar nele.

E assim foi. Um dia o lobo apareceu de verdade, entrou para dentro do bardo e preparava-se para dar cabo do rebanho. O pastor começou a gritar com toda a força que tinha:

- É lobo, é lobo…, é mesmo o lobo, é mesmo o lobo…, ajudem-me…

Mas, desta vez, as pessoas, julgando que era outra mentira do rapaz, cumpriram o que tinham dito, não foram ajudá-lo.

O pastor sozinho não pode lutar contra o lobo que comeu mais de metade das suas ovelhas. Nem a ajuda do cão lhe valeu.

Tantas vezes mentiu que, quando disse a verdade, ninguém acreditou nele. É assim que acontece aos mentirosos.

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Contos Tradicionais - O velho, o rapaz e o burro

 

3.O velho, o rapaz e o burro

Era uma vez um homem já de idade que vivia sozinho com um neto, numa aldeia, no cimo de um monte. Um dia foram até ao mercado da vila com o burro que tinham. Saíram de casa com o burro aparelhado, com a albarda e os alforges, o velho à frente e o rapaz atrás.

Passaram por umas pessoas que ao vê-los disseram:

- Ora, ora, com um burro tão forte e vão os dois a pé!

Disse, então, o velho para o neto:

- Rapaz, sobe para o burro que eu continuo a pé.

O rapaz assim fez, saltou logo para cima do burro.

Passado algum tempo, passaram por outro grupo de pessoas e ouviram dizer:

- Ora, ora, que jeito tem, o rapaz novo sentado no burro e o pobre do velho a pé.

- Salta do burro rapaz que agora monto eu, a ver se já não têm que dizer.

O rapaz assim fez. Desceu do burro, para subir o avô.

Mas, pouco depois, voltaram a passar por outro grupo de pessoas e ouviram dizer:

- Ora, ora, uma destas, o velho descansado em cima do burro e o pobre do rapaz a pé.

- Rapaz sobe também, vamos os dois no burro.

Mas não tardou nada, passaram por outro grupo de pessoas que logo disseram:

- Ora, ora, os dois em cima do pobre burro que mal pode com um!

- Rapaz: andámos de todas as maneiras e sempre houve quem dissesse que não estava bem, vamos descer do burro e caminhar os dois a pé, eu à frente e tu atrás, como quando saímos de casa.

Não podemos agradar a todos, umas pessoas pensam de uma maneira e outras pensam de outra, por isso cada um deve pensar pela sua cabeça e fazer o que acha melhor.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Contos tradicionais - O rapaz e o ceguinho

 

2- O rapaz e o ceguinho              

Era uma vez um ceguinho que andava, de porta em porta, a pedir esmola, guiado por um rapaz. Naquele dia, uma senhora deu-lhe um bocado de pão com chouriça.

O rapaz, que era muito espertalhão, pensou logo em meter a chouriça no bornal, para a ir comendo às escondidas e dar o pão seco ao ceguinho.

O ceguinho começou a comer o pão e disse ao rapaz:

- Cheira-me o pão a chouriça!

- Não cheira a chouriça. Pode acreditar que não me deram chouriça, só me deram pão seco.

- Nada disso, meu velhaco, comeste a chouriça e deste-me o pão sozinho.

Começaram, logo, uma discussão: um a dizer que não, outro a dizer que sim, até que o ceguinho pegou no bordão e deu umas bordoadas nas costas do rapaz.

- Também não é para tanto – grita o rapaz cheio de dores.

Ficou tão zangado que pensou logo que o cego lhe ia pagar aquelas pancadas. Mais à frente, no caminho, quando passaram junto de umas árvores, o rapaz orientou o ceguinho para uma árvore e disse-lhe:

- Salte que é um muro.

O ceguinho, julgando que era um muro, saltou e bateu com a cara no tronco de um sobreiro. Ficou com a cara toda esmurrada e também cheio de dores.

O rapaz disse-lhe, então:

- Cheira-lhe o pão a chouriça e não lhe cheira o sobreiro a cortiça!

- Seu velhaco, não posso confiar em ti!

O ceguinho andava pela mão do rapaz, pensando que ele era de confiança e afinal não podia confiar nele. 

 

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Contos tradicionais - A lebre e o caracol

 

Contos tradicionais

 

Todas as crianças gostam de ouvir histórias e quase todos os adultos as sabem contar, mesmo que lhes acrescentem um ponto ou outro. O mesmo faço aqui, conto algumas das histórias que ouvi e que todos ouviram às mães, aos pais e aos avós, para que não se percam e continuem a ser contadas.

 

1- A lebre e o caracol

Era uma vez uma lebre e um caracol que combinaram fazer uma corrida, a ver quem chegava primeiro à meta. A lebre riu-se e pensou para si: “pobre caracol, como vai ele fazer uma corrida comigo”!

Partiram ao mesmo tempo e, num instante, a lebre apanhou uma grande dianteira. Quando olhou para trás, viu que o caracol, ainda, tinha andado muito pouco.

- Posso bem descansar, aqui debaixo desta árvore, que o caracol não me apanha tão depressa – pensou a lebre.

Assim, foi. Pôs-se a descansar, mas logo se deixou dormir. O caracol continuou a corrida, devagar, como são os passos do caracol, mas sem nunca parar. Quando passou pela lebre, ao vê-la a dormir, pensou que podia chegar, ao final da corrida, em primeiro lugar.

E foi isso o que aconteceu. Quando a lebre finalmente acorda, olha para todos os lados e não vê o caracol, começa a correr o mais que pode, mas o caracol já a tinha ultrapassado há muito tempo e preparava-se para cortar a meta.

A lebre teve de aceitar a vitória do caracol. Se não se tivesse posto a dormir, a pensar que era muito fácil vencer o caracol, não tinha perdido a corrida.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Mezinhas - ventosas, defumadoiros e lavagens

 

As ventosas

Serviam de remédio para dores e inflamações. Eram como pequenos copos, acendia-se um bocadinho de algodão em rama, molhado em álcool, para aquecer a ventosa; depois de quente, era colocada no sítio onde a pessoa sentia as dores, em cima da pele. “Deitar ventosas” era uma prática corrente, mas, como nem toda a gente as tinha, quem precisava de as deitar e não as tinha pedia a caixa das ventosas emprestada a alguém.

 

Os defumadoiros

Colocavam-se determinadas ervas, numa malga ou numa barranha pequena, misturava-se tudo com azeite e deitava-se-lhes o lume. Ao arder aquela mistura, acreditava-se que o fumo que penetrava no sítio do mal, fazia bem.

 

As lavagens

Havia ervas que eram consideradas boas para desinfetar feridas ou outras “inflamações” do corpo: as malvas e as urtigas. Coziam-se, coavam-se e com aquela água lava-se a parte do corpo que se queria desinfetar.

 

 

 

 

sábado, 16 de outubro de 2021

Mezinhas - chás, mel e aguardente

 

Mezinhas

 

Eram remédios feitos em casa. Para quase todas as maleitas, havia qualquer coisa que se podia fazer e tomar. Os mais usados eram os chás, mas também se usava o mel, a aguardente, os defumadoiros, as lavagens e outros.

Por exemplo:

- Para a dor de dentes, punha-se uma pedrinha de sal no buraco do dente, ou bochechava-se com aguardente, ou punha-se a cara a apanhar o vapor de uma panela com água a ferver, ou fumava-se um cigarro, na esperança que o fumo adormecesse a dor.


- Para calar os bebés, faziam-se chupetas de açúcar. Pegava-se num pano limpinho, podia ser de linho, de pano cru ou um farrapinho que fosse mole, cortava-se e punha-se-lhe dentro um bocadinho de açúcar; a seguir dobrava-se, atava-se com uma linha e dava-se a chupar aos meninos; eles sossegavam.

 

Os chás

Os chás eram ervas que se apanhavam nos campos, nos lameiros, nas tapadas e nos montes. Escolhiam-se, lavavam-se bem lavadas, secavam-se e guardavam-se para poderem ser utilizadas para fazer o chá.

Os poejos e as “marcelas” eram para a dor de barriga; as barbas do milho e as flores do sabugueiro eram indicados para as constipações; a pimpinela era para o fígado; a flor da laranjeira e a flor da tília eram utilizadas como calmantes. Para além destes, mais usados, havia muitos outros chás.

 

O mel

O mel das abelhas foi desde sempre considerado um remédio natural. Muitas pessoas tomavam-no simples, uma colher de mel, como um fortificante que fazia bem aos ossos e a outras doenças.

Também se faziam remédios com o mel, por exemplo, leite quente com uma colher de mel para as constipações, as dores de garganta e a gripe.

 

A aguardente

Era usada como desinfetante e como remédio para curar as gripes e as constipações. Fazia-se uma ferida, limpava-se e desinfetava-se com aguardente; doía que eu sei lá, mas, como era para curar, aguentava-se.

Também se usava tomar com leite quente, quando se tinha dor de garganta, se estava constipado ou com gripe. Tinha de ser tomado antes de ir para a cama para servir de remédio.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Pessoas que tratavam - o barbeiro e o bento

 

O barbeiro

Era uma espécie de médico, alguns até pareciam saber mais, davam receitas da farmácia mais “inteligentes” do que os médicos. Também davam remédios caseiros, davam dietas tiravam os dentes... O de Pousafoles era um grande barbeiro; ao médico quase ninguém ia naquele tempo.

 

O bento

Acreditava-se que era uma pessoa com poderes especiais; viam e sabiam tudo, nem era preciso a pessoa, que precisava de ajuda, estar presente, bastava levar uma peça de roupa, para o bento ou a benta falar e poder ajudar na cura da doença ou na solução do assunto que se tinha lá ido tratar.

Era uma coisa quase secreta, quem acreditava, ia, quase em segredo, tomava e fazia o que lhe era recomendado e esperava-se que o mal desaparecesse ou o assunto se resolvesse. Não levavam nada, mas, quem lá ia, sempre deixava alguma coisa.