quarta-feira, 18 de março de 2020

Bens Privados - os terrenos



Bens privados


Talvez os bens privados mais importantes fossem uns “bocadinhos” de terra e a casa; mas há um outro tipo de bens, os móveis, os utensílios e o vestuário, igualmente importantes, de que aqui também falo.
  

Os terrenos




Há várias qualidades de terrenos: hortas, perto de casa, para a hortaliça; “chões”, com terra boa e água, para cultivar batatas, feijão, milho...; lameiras para erva e feno; lameiros para feno e pastagem; tapadas com mato e ervagens, na primavera; tapadas com mato e terreno “secadal”, para pão; pinhais, com pinheiros para madeira, caruma e pinhas; os soitos, com castanheiros que davam castanha e lenha e pão.
Ter terrenos era muito importante para a vida daquele tempo, sem uns “bocadinhos” para se poder cultivar renovo, dificilmente se podia governar a vida. Mas, muita gente tinha só umas leiras que não davam para quase nada.


domingo, 15 de março de 2020

Árvores de todos - a amoreira




A amoreira 



Ficava ao fundo do adro, quase no meio da estrada que ia para o Quinta do Clérigo e do caminho que ia para o Vale de Igreja. Lá esteve, anos e anos, até atingir aquela altura e aquela quantidade de ramos. Foi arrancada, quando arranjaram a estrada, lá pelos finais dos anos oitenta. Dava muitas amoras, mesmo que os miúdos começassem a comê-las, ainda, meias verdes, as que sobravam tinham tempo de ficar maduras, doces e saborosas.
Parece que cresceu já com a intenção de ser de toda a gente, com um tronco grande, alto, mas fácil de subir. Também, tinha ramos fortes, uns mais altos, outros mais baixos, para que, em segurança, todos pudessem comer amoras, à vontade. Havia crianças, rapazes e raparigas, que, no tempo das amoras, todos os dias, subiam à amoreira. As mãos fincavam tingidas, a roupa igual, mas isso não importava.
Quando já havia menos gente, muitas amoras caiam no chão, pareciam um tapete negro, de tantas que eram e de tão maduras que estavam!

As árvores de todos - as cerdeiras

Havia várias cerdeiras e uma amoreira que eram públicas, quem quisesse podia subir e colher os frutos.

As cerdeiras


Havia cerdeiras públicas, na Fonte Velha, quando se ia para as hortas, e junto ao adro da igreja, no caminho que ia para a Quinta do Clérigo. Algumas eram árvores grandes, difíceis de subir, só os rapazes mais fortes subiam sem dificuldade. As cerejas nem chegavam a amadurar, começavam a comê-las, mal começavam a pintar; depressa se acabavam. Às vezes, só já se viam cerejas, nas pontas dos ramos mais altos; mas, mesmo a essas arranjavam maneira de lá chegar, com uns galhos, que tivessem um gancho na ponta, puxavam os ramos para baixo e colhiam as cerejas.

segunda-feira, 9 de março de 2020

Bens públicos: os baldios, o campo de futebol...


Os baldios

São terrenos do povo que a junta de freguesia administra. Alguns eram arrematados todos os anos a quem mais desse; outros ficavam por arrendar e quem quisesse podia andar lá, sobretudo, os que davam mato e pastagens, como os baldios dos Barreiros, do Brejo, da Açude….
Ao longo do tempo, a maior parte dos baldios foi vendida; mas, ainda hoje, a junta de freguesia recebe a renda das torres eólicas do campo da bola, um baldio.

O campo de futebol

O campo da bola fica num baldio, lá para os lados da Sangrinheira. Há muito que não é utilizado, mas tempos houve em que os jovens, daqui, jogavam lá à bola, entre eles. ou com equipas de aldeias vizinhas, da Sobreira, da Quarta-feira...

As lajes

Para malhar o pão, havia lajes com grandes e boas “laijeiras”, algumas em propriedades que pertenciam a determinadas famílias, embora se pudesse malhar nelas, tinha de se ter ordem dos donos. Pedia-se-lhes: “posso levar o pão para a vossa laje?” Ninguém dizia que não.
Mas, a laje da Rã é pública, as pessoas que queriam punham lá o pão e o milho sem terem de pedir ordem ou favor ao dono da laje. Lá para o cimo do povo, bem perto da escola e também do lado de cima, há várias lajes. Há ainda a laje da Reduta, não longe do fundo do povo; não é do povo, pertence a uma família, mas punha-se lá o que se queria, pão ou milho, sem ser preciso pedir ordem, os donos não diziam nada a ninguém.

sexta-feira, 6 de março de 2020

A rede de água - os chafarizes



Os chafarizes

 
O chafariz do fundo do adro
Talvez, no início dos anos oitenta, explorou-se a água, para os lados da Sangrinheira, ainda lá está o depósito, e canalizou-se para três chafarizes: à capela, à praça e ao fundo do povo. Passados anos, foram construídos mais chafarizes: ao fundo do adro, à cruzinha e ao calvário.

A rede da água do povo


Alguns anos mais tarde, canalizou-se esta água para as habitações das pessoas. Como tinha sido explorada pelo povo, ligava-se a canalização das casas à rede e não se pagava nada. Nem sempre tinha a pressão adequada, às vezes, falhava, sobretudo, no verão, quando havia muita gente, mas foi uma coisa muito boa; quando há poucos anos se teve de ligar a rede doméstica à rede municipal, todos puderam ver a despesa que a água dá.

domingo, 1 de março de 2020

As presas do ribeiro e do ribeirinho



As presas do ribeiro e do ribeirinho


Durante o inverno e grande parte da primavera, lavava-se também a roupa em dois ribeiros: o ribeiro do cimo do povo e o ribeirinho ao fundo do povo. A água é de uma barroca que vem lá dos lados da Sangrinheira, atravessa o povo e corre para os lados de Vale Mourisco. Entancava-se a água numa espécie de presa e lavava-se lá bem, tinha lavadoiros e sítios para pôr a corar e para estender, embora pequenos; quando havia água no ribeirinho, as pessoas do fundo do povo não iam para outro lado lavar a roupa, tal como as do Calvário, quando havia água no ribeiro, não iam lavar a outro lado. O problema é que, ainda antes de entrar o verão, a água da barroca já não era suficiente para poder ser desviada para estas presas, chegando mesmo a secar.
Mais tarde, quando começou a haver água em casa, as pessoas compraram pequenos tanques de cimento para lavarem a roupa e deixaram de lavar nas presas. Agora, já nem esses tanques se usam, todas as pessoas têm máquinas para lavar a roupa.


As presas para lavar a roupa



As presas



Perto das fontes, havia uma presa para lavar a roupa. A presa da fonte Velha já não existe, foi desfeita, tiraram os lavadouros e aterraram-na, primeiro para fazer um grande largo, onde faziam os bailes, pelas festas e outros encontros e convívios; mais tarde, fizeram a sede da Associação e o pavilhão multiusos.

A presa da Fonte Velha


Junto à presa da fonte Velha, havia uma lameirinha, sempre de erva rente, para se pôr a roupa a corar – quando se punha roupa a corar, ensaboava-se muito bem e ia-se molhando, de vez em quando, porque, se secasse, ficava com uns vincos difíceis de sair – o sol tirava as nódoas e punha tudo branquinho. Não havia nem fios, nem molas, a roupa punha-se a secar naquelas paredes e silvas. Era preciso muito cuidado, para não rasgar a roupa.

A presa da Fonte Nova


A presa da fonte Nova ainda hoje lá está, ao cimo da rua da Carreira, do lado direito[1]. A água vem da fonte Nova atravessa a rua, por um pequeno aqueduto, empedrado, agora, com manilhas de cimento. Os lavadoiros, ainda lá estão, são pedras retangulares, grandes e linhas para se poder lavar sem romper a roupa. Como ficava num lameiro com dono, havia pouco espaço para pôr a corar e para estender, por isso, muitas pessoas preferiam a outra presa, embora a água da presa da fonte Nova estivesse mais limpa que a da fonte Velha.



[1] Foi há muito pouco tempo reabilitada; pode lavar-se nela, mas as pessoas já não têm esse costume.