segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Contos tradicionais - A raposa e a cegonha

 

11. A raposa e a cegonha

Era uma vez uma raposa que se julgava mais esperta do que outro qualquer animal da floresta. Um dia, encontrou-se com a cegonha e convidou-a a jantar em casa dela. A cegonha aceitou o convite e no dia marcado lá estava em casa da raposa.

A raposa fez papas para o jantar e colocou-as num prato largo e pouco fundo. A pobre cegonha, como tem um bico comprido, não conseguiu comer nada, picava, mas não conseguia apanhar nada com o bico.

Depois do jantar, não se deu por achada, despediu-se, agradeceu o jantar e convidou também a raposa para ir lá jantar a sua casa. A raposa aceitou o convite e no dia combinado lá estava na casa da cegonha.

A cegonha também fez papas para o jantar, mas meteu-as numa garrafa de gargalo estreito. A raposa não pode comer, não conseguia meter a língua no gargalo da garrafa, só apanhava os restos que caiam do bico da cegonha.

A raposa ficou aborrecida, mas entendeu a lição: não é só ela que é esperta, a cegonha também é esperta e pagou-lhe com a mesma moeda. Quem faz mal, não pode esperar bem.

 

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Contos tradicionais - A lenda das rosas

  

10. A lenda das rosas      

Era uma vez uma rainha muito bondosa, casada com o rei D. Dinis (no tempo em que foi construído o castelo do Sabugal), que todos os dias saia do seu palácio para distribuir dinheiro pelos pobres.

Um dia o rei, estranhando as saídas da rainha, sempre escondendo alguma coisa no regaço, perguntou-lhe:

- O que levais no regaço, senhora? São esmolas para os vossos pobres?

- Não, meu senhor. São rosas; rosas colhidas no jardim.

A rainha abriu o manto e, em vez de moedas, começaram a cair rosas do seu regaço. A partir desse dia, o povo chama, ao que aconteceu, o milagre das rosas e à rainha, a rainha Santa Isabel.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Contos Tradicionais - A cigarra e a formiga

 

9. A cigarra e a formiga   

Era uma vez uma cigarra que, durante todo o verão, passou os dias a cantar, sempre em grande diversão. Um dia encontrou-se com uma formiga que levava um grãozinho de cereal para o buraco e perguntou-lhe:

- Por que trabalhas tanto? Vem divertir-te, aproveitar estes dias de sol, gozar a vida, enquanto podes.

A formiga convenceu-se que era verdade, juntou-se à cigarra e puseram-se as duas a cantar. Passados dois ou três dias, apareceu a formiga rainha que lhe disse:

- No mundo das formigas, todas têm de trabalhar, não é umas a trabalhar e outras a olhar, vem já para o formigueiro fazer a tua parte, senão no inverno não comes o que as companheiras guardaram.

A formiga viu que a formiga rainha estava certa, deixou a cigarra e foi para o formigueiro fazer o seu trabalho. A cigarra não quis saber, continuou a cantar e a descansar. No inverno, não tinha nada, nem para comer nem para se aquecer. Estava a passar muito mal, quando resolveu bater à porta do formigueiro a pedir ajuda:

- Ajudem-me que tenho muito frio e muita fome!

- Passaste os dias de verão a cantar, não trabalhaste, agora, não te podemos ajudar – responderam as formigas que vieram à porta.

- Se não me ajudam vou morrer, já estou muito mal!

Chamaram a formiga rainha e contaram-lhe o que se passava com a cigarra. Decidiram, então, ajudá-la, por essa vez, apenas. Mandaram-na entrar e deram-lhe comida.

Mas, a cigarra aprendeu a lição: ficou a saber que tem de trabalhar e de guardar o alimento suficiente no verão para ter o que comer no inverno.

 

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Contos tradicionais - A lenda da mulinha doirada

 

8. A lenda da mulinha doirada

Dizem que no tempo dos romanos, que andaram por estes lados, um senhor muito rico enterrou, no campo, um tesouro para que os mouros o não levassem: uma mulinha de oiro com freio e sela. Do cabeço das Fráguas, Pousafoles, a olhar na direção da Guarda, até ao cabeço do São Cornélio, Dirão da Rua, a olhar na direção de Sortelha, quem o tesouro procurar o irá encontrar, sem muito cavar. Um tesouro que será encontrado por sacho de homem ou relha de arado, em sítio cultivado.

Apesar destas pistas, ainda, ninguém o encontrou.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Contos tradicionais - Nosso Senhor, o discípulo e as cerejas

  

7. Nosso Senhor, o discípulo e as cerejas

No tempo em que Nosso Senhor andava por este mundo, ia muitas vezes pregar de terra em terra. Certo dia, deslocava-se, acompanhado por um discípulo, debaixo de um sol abrasador. A certa altura do caminho, viram uma moeda caída no chão.

- Apanha a moeda – disse Nosso Senhor ao acompanhante.

- São só cinco réis, não dão para nada. Não vale a pena apanhá-la.

Então, Nosso Senhor baixou-se, apanhou a moeda e meteu-a no bolso.

Quando chegaram à terra mais próxima, com a moeda, comprou cerejas.

Continuaram o caminho e o calor cada vez era mais forte. O discípulo começou a sentir muita sede, mas não havia fonte, onde pudesse beber água. Ao vê-lo aflito com tanta sede, Nosso Senhor meteu a mão ao bolso, tirou uma cereja e deixou-a cair.

O discípulo ao ver a cereja no chão, baixou-se, rapidamente, apanhou- a e comeu-a.

A seguir, Nosso Senhor deixou cair, uma a uma, todas as cerejas que tinha comprado. E sempre o discípulo se baixou para apanhar cada uma das cerejas que o Mestre deixava cair ao chão, para as comer e assim ir matando a sede.

No final, Nosso Senhor disse-lhe:

- Então, não te quiseste baixar, uma única vez, a apanhar a moeda e baixaste-te tantas vezes para apanhar as cerejas que eu fui deixando cair?

- Tinha muita sede, Senhor!

- Ah, meu amigo, quem deita fora o achado, por pouco que seja, vem mais tarde a pedir, com trabalho dobrado, o que tinha desaproveitado.

 

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Contos tradicionais - O sapateiro pobre

  

O sapateiro pobre         

Era uma vez um sapateiro pobre que vivia com a mulher e os muitos filhos que tinha. Ganhava pouco, mas vivia feliz. À noite, pegava na sua viola, tocava e cantava com os filhos à volta.

Em frente da casa do sapateiro pobre, vivia um homem muito rico que, ao ver aquela pobreza, pensou em dar um saco cheio de dinheiro ao sapateiro. Chamou-o e disse-lhe:

- Tenho pena que passe tanta necessidade, aqui tem este saco cheio de dinheiro para poder melhorar a sua vida e a dos seus filhos.

O sapateiro pobre nem queria acreditar, com aquele dinheiro podia mudar a sua vida para muito melhor. Nessa noite já não tocou viola e já não houve cantoria. Meteu-se num quarto com a mulher a contar o dinheiro. Mas os filhos, que andavam pela casa a fazer barulho, fizeram com que ele se enganasse mais do que uma vez. Foi difícil contarem tanto dinheiro, mas o pior veio a seguir, não sabiam o que fazer com ele.

- Metemos o dinheiro dentro de um cântaro de barro e vamos enterrá-lo – disse a mulher.

-Não, podemos esquecer-nos do sítio e perder o dinheiro, para sempre.

- Então, vamos metê-lo numa arca cá em casa.

- Não, porque podem vir cá e roubar a arca.

- O melhor, então, é comprar terras que ninguém as leva.

- Não, o melhor é levantar a casa e arranjar a oficina.

- Não, se levantamos a casa, gastamos tudo e ficamos outra vez sem nada.

Discutiram e voltaram a discutir, sobre o que fazer com o dinheiro, mas não chegaram a um acordo. O homem zangou-se, ralhou com a mulher e com os filhos e, nessa noite, em vez de alegria, houve choro e tristeza. O sapateiro pobre pensou: “se eramos felizes antes termos o saco do dinheiro o melhor é entregá-lo de volta ao vizinho rico”.

Assim fez. Foi entregar o saco do dinheiro ao vizinho rico. 

- Ó homem, então, traz-me o dinheiro de volta?

- Não quero esta riqueza, porque só me trouxe tristeza. Quero voltar para a minha vida de sapateiro pobre, ganhar o pão de cada dia e, à noite, tocar e cantar, como dantes, com os meus filhos à volta.

Afinal, ter muito dinheiro, pode não fazer as pessoas mais felizes.

 

sábado, 13 de novembro de 2021

Contos tradicionais - O rato do monte e o rato do moinho

 

. O rato-do-monte e o rato do moinho

Um dia um rato-do-monte encontrou-se com um rato do moinho e começaram a conversar.

- Estás tão magrinho. Estás doente ou passas fome no monte – perguntou o rato do moinho?

- Estou magrinho, porque no monte há pouca comida.

- Anda comigo para o moinho que lá nunca falta nem grão nem farinha de trigo, de centeio e de milho. Olha para mim como estou gordinho!

- Não sei se me vou lá dar bem, sempre vivi no monte.

- Vais-te dar bem, sim; de barriguinha cheia, só podes ficar melhor, mais gordinho e mais luzidio.

Assim foi. Lá foram os dois a caminho do moinho. Chegados à porta, o rato-do-monte disse para o rato do moinho:

- Entra tu primeiro que sabes os cantos ao moinho e eu vou atrás.

Mas, mal entraram, apareceu um gato que saltou logo para cima deles. O rato do moinho, que conhecia bem todos os cantinhos, enfiou-se, logo, num buraco para fugir das garras do gato. O rato-do-monte, que não conhecia os cantos ao moinho e não sabia onde se esconder, só teve uma saída: saltar porta fora e fugir de novo para o monte.

Já no monte e a salvo, pensou: “mais vale magro no mato, do que gordo na barriga do gato”.