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O rapaz e o ceguinho
Era uma vez
um ceguinho que andava, de porta em porta, a pedir esmola, guiado por um rapaz.
Naquele dia, uma senhora deu-lhe um bocado de pão com chouriça.
O rapaz, que
era muito espertalhão, pensou logo em meter a chouriça no bornal, para a ir
comendo às escondidas e dar o pão seco ao ceguinho.
O ceguinho
começou a comer o pão e disse ao rapaz:
- Cheira-me
o pão a chouriça!
- Não cheira
a chouriça. Pode acreditar que não me deram chouriça, só me deram pão seco.
- Nada
disso, meu velhaco, comeste a chouriça e deste-me o pão sozinho.
Começaram,
logo, uma discussão: um a dizer que não, outro a dizer que sim, até que o
ceguinho pegou no bordão e deu umas bordoadas nas costas do rapaz.
- Também não
é para tanto – grita o rapaz cheio de dores.
Ficou tão
zangado que pensou logo que o cego lhe ia pagar aquelas pancadas. Mais à
frente, no caminho, quando passaram junto de umas árvores, o rapaz orientou o
ceguinho para uma árvore e disse-lhe:
- Salte que
é um muro.
O ceguinho,
julgando que era um muro, saltou e bateu com a cara no tronco de um sobreiro.
Ficou com a cara toda esmurrada e também cheio de dores.
O rapaz
disse-lhe, então:
- Cheira-lhe
o pão a chouriça e não lhe cheira o sobreiro a cortiça!
- Seu
velhaco, não posso confiar em ti!
O ceguinho
andava pela mão do rapaz, pensando que ele era de confiança e afinal não podia
confiar nele.