quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Artes e ofícios - os carpinteiros e os serradores



Os carpinteiros

Não havia oficinas de carpintaria abertas, mas havia carpinteiros que faziam portas, janelas e todo o trabalho de madeira que era preciso fazer nas casas que se construíam. Cá havia um senhor chamado Carlos Costa e na Quinta do Clérigo um senhor chamado Fernando que trabalhavam muito bem na madeira.

 

Os serradores

Um outro trabalho do tempo antigo, feito com a força dos braços, era a serração de madeira. Com umas serras grandes, dois homens, um em cada ponta, serravam um pinho ou outra árvore, em tábuas mais grossas ou mais finas, conforme o destino da madeira. Saber serrar bem era uma coisa que tinha de se aprender; os serradores tinham de ter movimentos certos, um com o outro; também, tinham de saber como colocavam o tronco, como o seguravam ou como o moviam.

Havia no Espinhal um senhor, chamado Sebastião, que era um grande serrador, ensinou os filhos, todos serravam, e até rapazes de cá aprenderam com ele a arte de serrar madeira.


segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Costureiras, alfaiates e sapateiro

Maquina Costura Antiga - Antiguidades e Coleções no Mercado Livre ...

Uma máquina de costura antiga 

 

 

As costureiras

Apesar de em quase todas as casas haver uma máquina de costura e de, bem ou mal, todas as senhoras darem um jeito na costura – fazerem para casa – havia costureiras que trabalhavam para fora.

No tempo mais antigo, uma senhora chamada Etelvina e uma senhora chamada Amélia faziam roupa de mulher, combinações, saiotes, saias, blusas e casacos; a primeira, também, fazia roupa de homem, camisas, calças, ceroulas e camisas.

 

Os alfaiates

Só faziam roupa de homem, calças, camisas e casacos; houve, primeiro, um senhor chamado Joaquim Ângelo que trabalhou até ir para a França. A seguir, houve outro alfaiate que era da Bendada, um senhor chamado Júlio. Mas não esteve muito tempo, começou a haver fábricas de confeção e a aparecer roupa feita nos mercados e o trabalho dos alfaiates foi acabando.

 

O sapateiro

Havia cá uma oficina de sapateiro, montada com tudo o que era preciso para fazer sapatos de raiz, com moldes e todas as ferramentas necessárias, de um senhor chamado Manuel Fernando, que funcionou durante algum tempo. Mas, quando começaram a aparecer sapatos a vender nos mercados, esta e outras oficinas semelhantes foram acabando.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

As tecedeiras

CURIOSIDADES: – TEARES PELO MUNDO (c/fotos e vídeo) | A Tecelagem ...
Tecedeira num tear antigo


Havia vários teares cá no povo, uma pessoa ou outra teciam para fora, por exemplo, uma senhora chamada Josefa Máxima. Primeiro, quando ainda se cultivava o linho, urdiam-se teias de linho fino, para fazer lençóis, toalhas de mesa e lavatório e até camisas para os homens..., e teias de linho grosso, estopa, para fazer sacos para o pão, para as batatas e para o que fosse preciso.
Quando se começou a comprar tecido nos mercados, as tecedeiras quase deixaram de urdir teias de linho, muitas passaram só a tecer mantas de farrapos.

Fiar, fazer meadas e novelos

O linho fiava-se com uma roca e um fuso. Colocava-se na roca, depois de passar pelo “sedeiro”, na posição correta; o fio passava pela roca, era torcido pelos dedos e enrolava-se no fuso.
Depois de fiado, tirava-se do fuso e colocava-se numa “rodinha” para se fazerem as meadas. As meadas eram cozidas e lavadas, várias vezes, as que fossem precisas, até ficarem branquinhas; usavam-se cestos com palha e cinza, como se fazia nas “barrelas”. Quando estivessem bem lavadas, punham-se a enxugar.
Por último, depois de tratadas e secas, as meadas eram colocadas, uma a uma, num “argadilho” para se fazerem os novelos que serviam para urdir as teias nos teares.

Mantas de farrapos

Os farrapos faziam-se da roupa velha, já rota; cortavam-se em tirinhas, um centímetro e meio, era a olho, e enrolavam-se num novelo. Iam-se guardando os novelos que se iam fazendo, uns ao pé dos outros, e, quando se tivesse o suficiente, mandava-se tecer uma manta. Nesse tempo, serviam para tudo, até na cama se deitavam, faziam peso sobre as mantas de pêlo e ajudavam a aquecer.

sábado, 1 de agosto de 2020

Artes e ofícios - Os ferreiros



É hoje impossível imaginar como era a vida, nas aldeias desse tempo. “Ia-se pelo povo acima e o que se ouvia era o baralho dos teares e das máquinas de cozer”. Também, existiam pequenas oficinas para transformar produtos ou fazer pequenas reparações.

Profissões Antigas - Ferreiro. | Profissões, Fotos antigas, Antiga
O ferreiro

Os ferreiros

As forjas eram pequenas oficinas, onde trabalhavam os ferreiros. Cá houve sempre a de um senhor chamado Júlio Tracana, primeiro, aqui ao terreiro, quando se volta para a travessa que vai para a rua da Carreira, uma casinha pequena; depois, mudou-se lá para o cimo do povo. Nas forjas, havia sempre o lume aceso e uma grande “borralha”, onde o ferreiro punha o ferro a aquecer, para o destemperar, para ficar “a modo” de poder ser batido, com um martelo; o ferro destemperado, tomava a forma que o ferreiro queria.
Não havia soldas, nem nada, consertavam as coisas com pequenos arranjos; partia-se um pé a uma panela de ferro, tinha de se arranjar maneira de não vazar a água, colocavam-lhe uma espécie de parafuso, com uma chapinha. Os ferreiros, daqui, não faziam peças de ferro: sachos, enxadas, panelas, cadeias…, eram só um fraco remedeio.
Os ferreiros, também, ferravam as burras e as éguas, nessa altura, o meio de transporte mais usado e, por isso, tinham de andar sempre bem “calçadas”.
No Espinhal, havia um ferreiro, um senhor chamado José, que já fazia outras coisas, portas e janelas para as casas e grades para as varandas e os varandins.


sexta-feira, 24 de julho de 2020

O minério - o rolho e o lucro (3)



O rolho
- O que era o rolho, explique lá?
- O rolho era para lavar o minério, eram três tábuas, duas de lado e uma no fundo, era como uma caleira, deitava-se o balde de terra e a seguir um balde ou mais de água; a água corria pelo rolho abaixo, levava a terra e ficava a areia e o minério, porque eram mais pesados. Se não havia água, não se podia fazer o rolho, tinha de se trazer água de algum lado.
Depois disso, deitava-se num alguidar, bandeava-se de um lado para outro e ficava o minério limpinho.
O lucro
- Como é que dividiam o minério ou dinheiro?
- Quando se tinha combinado com o dono, dava-se-lhe o que se tinha combinado e dividia-se em partes iguais o dinheiro. Às vezes, andava-se um dia inteiro a arear terra e tirava-se um quilo ou dois de minério, outras vezes, aparecia um “ninho” dele, em poucos baldes de terra, fazia-se um alguidar de minério. Quando íamos só as raparigas não podíamos fazer poças fundas, eram pequenas, não trazíamos tanto, claro. O minério foi uma riqueza, depois, acabou, deixaram de o comprar.
- Sabe porquê?
- Não sei, sei que umas vezes era mais caro, outras mais barato e, às vezes, nem o queriam, era conforme eles (os negociantes de cá) o vendiam ou não. Gostava muito de ir ao minério, mais do que estar no tear, era duro, mas falava-se, conversava-se, aquilo era uma paródia, uma alegria, quando a noite trazia um quilinho dele ou isso.

terça-feira, 21 de julho de 2020

O minério no baldio do Brejo (2)

 Era assim o minério (volframite)

O minério do Brejo

Uma vez, ainda nem a gente sabia bem o que era aquilo, além para o cimo do povo, num terreno baldio, no Brejo, descobrimos lá minério, eu e as que andavam comigo. Não dissemos nada a ninguém, mas, lá desconfiaram e, claro, como era um terreno baldio, juntou-se lá a gente toda e o minério acabou num instante.
- Como é que sabiam que era minério?
- Sabia-se logo; quando havia aqueles grãozinhos muito negros, era minério. Às vezes, era muito bastinho…, o pior foi que logo se acabou. Se fosse numa tapada particular, podia-se combinar com o dono, mas num baldio não, enquanto lá houve alguma coisa, toda a gente aproveitou.
- Andou noutros lados?
- Andei, o minério aparecia em qualquer lado; na Lameira, não era fundo, levava-se uma enxada e um alguidar e já se trazia minério. Para o Chão de Henrique, havia muito minério e para Malhadinha, também, mas esse não era bom, tinha muito “vermelho”, era difícil para se apartar. Na Moita, havia, mas era muito fundo, ali são terrenos fundeiros, era preciso umas poças grandes, com seis ou sete metros de fundura e duas pessoas a baldeá-lo; fazia-se um andaime ao meio, uns iam lá para o fundo a deitar pás de terra para o andaime e os outros do andaime para fora. A terra que saía do poço era toda lavada num “rolho”.

sábado, 18 de julho de 2020

O minério (1)


O minério

Mulheres ao minério nos anos quarenta 

- O minério foi, durante uns anos, uma fonte de rendimento importante, melhorou a vida de todas as pessoas?
- O tempo do minério foi uma riqueza. Os negociantes de cá enriqueceram com o minério, compravam-no às pessoas e vendiam-no a negociantes de fora.
- Sabe que esse negócio começou na altura da II Guerra Mundial, por isso é que era tão caro, aqui eram os ingleses que pagavam altos preços pelo minério, sabia disso?
- Não sabia, nunca ouvi falar disso. Sei que era uma carestia, mas acabou, não ficou explorado em todo o lado, deixaram de o comprar, haverá, por aí, muito minério, em muitos lados.
-E sabe que nome tinha esse minério?
- O das minas tinha um nome, mas o minério daqui, não sei se era diferente se não, chamava-se só minério, mais nada.