domingo, 10 de maio de 2020

A agricultura - a batata

Cada um remediava a vida como podia. O principal era o cultivo dos campos e a criação de animais. Havia também pessoas que se dedicavam a determinados ofícios, mas quase ninguém podia viver só disso.

Agricultura


A agricultura era a base da subsistência de toda a gente. Todas as pessoas semeavam o muito ou o pouco que tinham. Havia lavradores maiores, com uma junta de vacas ou até mais, e havia quem não tivesse nenhuma, por não ter terrenos. As pessoas que não tinham terrenos onde semear arrendavam um chão, quando isso era possível, ou cultivavam as terras dos outros de quartas e até de quintas.   

Cultivar de quartas e de quintas

Quando se tratava de quartas, ficava uma parte para quem cultivava e três partes para o dono do chão; quando se tratava de quintas, era ainda pior, davam-se quatro partes e ficava-se com uma. Mas, apesar, de ser muito trabalho e muito pouco lucro, para algumas famílias, não havia outra saída.

Principais culturas

As culturas principais eram a batata, o feijão, o milho e o pão, também havia quem cultivasse gravanços.

A batata

A batata cultiva-se cá há mais de duzentos anos – já vem referida no livro de 1758 – chamavam-lhe nessa altura “castanha da índia”, parece ser uma cultura muito adaptada aos terrenos daqui, dá-se bem em muitos lados, sobretudo, nos terrenos mais baixos e com água.
Semeada em março e abril, é uma cultura que precisa de muito trabalho, tem de ser "esgarranchada", sachada, regada, cada oito dias, até estar criada e se poder tirar, lá para o princípio de setembro.
As batatas guardam-se numa tulha, nas lojas; quando são precisas, vão-se buscar aí, 


segunda-feira, 27 de abril de 2020

O maior brio daquele tempo


Sem dúvida que o maior brio, para quem podia, era, nos dias em que se vestia o melhor fato, colocar, também, objetos de valor.

Os cordões de ouro

Ter um cordão de ouro era um luxo e um sinal de riqueza, porque eram muito caros. Mas, havia muitas raparigas pobres que tinham cordões, andavam ao minério e noutros trabalhos, para ganharem dinheiro para o poderem comprar.
Os cordões de ouro eram compridos, podiam dar duas ou três voltas; duas se se quisessem mais longos e três se se quisessem mais curtos, junto ao pescoço.

As fieiras de ouro

Quem não podia ter um cordão, tinha uma fieira, conforme podia, mais ou menos grossa; nos mercados, havia sempre uma fila de ourives, a vender ouro.
Usava-se o ouro ao domingo, nos dias de festa ou quando se saia para fora. Deixou-se de usar; agora, ninguém fala em ter um cordão de ouro, até, algumas pessoas que o tinham dividiram-no em fieiras.
Muitas mulheres nunca tiveram um cordão, mas brincos todas as meninas tinham, desde pequeninas.

Os relógios de bolso

Ter um relógio de bolso, preso com uma fieira de ouro, era o maior luxo para os homens daquele tempo. Poucos o podiam usar, por ser caro e não haver posses para isso. Só quando começaram a vir os relógios de pulso, que já não eram aquela carestia, muitas pessoas puderam ter um.



domingo, 26 de abril de 2020

O calçado


  

Os tamancos

De inverno usavam-se, sempre, tamancos, toda a gente os tinha; havia-os bonitos, a vender nos mercados. Mas, os pobres, muitas vezes, o que tinham era tamancos, com o pau novo, mas, por cima, o cabedal já cheio de “tombinhas”, porque se faziam de botas velhas.
- “Tenho lá umas botas velhas que te dou, para fazeres uns tamancos”.
- “Bem-haja, vão-me dar jeito”.
Era assim. Sempre que havia umas “empenhas”, para se fazerem uns tamancos, quase todos os pais e avós, melhor ou pior, os sabiam fazer.

as sapatas de pano

No verão, muitas pessoas, no campo, andavam com umas sapatas de pano que se compravam aos contrabandistas, vinham da Espanha, andava-se bem nelas. Muitos garotinhos e até mais fortes andavam descalços.

botas e sapatos do sapateiro

Para os domingos ou para ir a algum lado, todos os homens tinham umas “botas do sapateiro” e todas as mulheres tinham uns “sapatos do sapateiro”, primeiro, feitos por medida e depois comprados no mercado.



quarta-feira, 22 de abril de 2020

A roupa do tempo mais antigo



A das raparigas


As raparigas andavam sempre de lenço na cabeça e de xaile aos ombros. O lenço podia ser preto ou de cores, havia aqueles de lã de merino, estampados, com uma silva a toda a volta que parecia bordada, muito bonitos. O xaile era um mais quente no inverno e um mais leve no verão, podia ser de merino, mas nem toda a gente podia tê-lo, porque era caro. As raparigas casavam-se  de saia e casaco ou saia preta e blusa branca, não se olhava, não havia para mais. Era como se podia, muita gente o que mais comprava era chita, só para alguma festa se comprava um tecido melhor.

A das mulheres


As mulheres andavam com aquelas saias compridas, plissadas ou rodadas, com uma blusa branca ou de cores e, por cima, um casaco de aba, daqueles apertadinhos à cintura. Esse casaco era o luxo, daquele tempo, ainda mais, os que eram de veludo, mas nem toda a gente os podia ter, porque o tecido era muito caro. 
Quase nunca se comprava roupa nova, só nalguma festa ou nalgum dia assinalado. 

A dos homens

 Os homens vestiam sempre o mesmo, ceroulas, calças, camisas, coletes e casacos; no tempo frio, usavam samarras e capotes de um tecido quente e forte, chamava-se burel. Havia quem usasse “safões”, uma espécie de sobre-calça, de lã de ovelha, usados para aquecer as pernas. No verão e para o trabalho o que mais se usava era o "cotim", um pano azul, resistente, que durava muito.


domingo, 19 de abril de 2020

O vestuário - a roupa



O vestuário


Vestir e calçar, em casas com muita gente, tinha de ser uma grande preocupação. A roupa ficava de uns irmãos para os outros, havia meninos que nunca tinham roupa nova, nem se falava nisso, até, o vestido do batizado era sempre o mesmo, servia para os filhos todos. Claro que, em algumas famílias, não era assim.

A roupa da «cote» e dos domingos


Aos bebés punham-se cueiros, uma espécie de fralda, presos com um alfinete de segurança, que se comprava na farmácia; por cima do cueiro, uma envolta, um pano quadrado, que desse bem para enrolar. O mais eram casaquinhos e garruços de lã, quase sempre já usados. Quando começavam a andar, às meninas vestiam vestidinhos e aos rapazes calças e camisas.
A roupa resumia-se à da “cote” e à dos domingos.  A da “cote” era roupa velha, de todos os dias, muitas vezes, remendada. A dos domingos era roupa boa, mas não precisava de ser nova, bastava estar lavadinha e passada a ferro. As meninas vestiam uma saia e uma blusa e punham um lenço ou um “véuzinho” na cabeça, não iam “destapadas” à igreja. Os rapazes vestiam umas calças, uma camisa e um casaco por cima.


quarta-feira, 15 de abril de 2020

A loiça -de ferro, barro, latão, lata e alumínio



A loiça

A loiça daquele tempo eram as panelas de ferro e o resto em barro ou lata e alumínio. Só muito mais tarde, nos anos setenta, começou a aparecer o plástico, então, passaram a usar-se baldes e cântaras desse material, muito levezinho e que não partia; ir à fonte, tornou-se bem mais fácil.

As panelas de ferro

Para cozinhar eram sempre as panelas de ferro; tinham-se duas ou três, para todos os dias e uma ou duas maiores, para os dias em que se juntava a família e se cozinhava para muita gente. Nesses dias, por exemplo, para o jantar de uma boda ou de uma matança, se fosse preciso, pediam-se emprestadas aos vizinhos ou à família.
Algumas pessoas tinham também uma caldeira de cobre para fazerem o arroz doce, cozerem as morcelas..., mas, como eram muito caras, pouca gente as podia ter.

A loiça de barro

Muita da loiça que se usava era de barro, havia um barro mais grosso, para as barranhas, púcaros, potes, cântaros, bilhas, malgas, pratos..., 
Esta loiça partia-se muito, o que era um prejuízo, porque não podia estar sem estes utensílios, tinham que se comprar outros; por isso, no caso do cântaro, por exemplo, mesmo sem uma asa ou “esbocelado”, não se deitava; o mesmo se fazia com o resto das coisas, arranjavam-se, com uma espécie de arco, feito de arame ou de um prego miudinho, de modo a ligar os cacos partidos uns aos outros.
Para os dias de festa havia loiça melhor, copos de vidro, pratos de fundo e raso, terrina, travessas, colheres e garfos, que se guardava num armário na sala.


A loiça de latão, lata e alumínio


Também, existiam utensílios em latão: ferradas, baldes e caldeiros, de vários tamanhos; serviam para muita coisa, para pôr o leite da ordenha das vacas, para pôr ao lume, para aquecer coisas, para levar para os campos, para ir à fonte...; havia também já alguma loiça em alumínio, pratos, copos, travessas..., não se partia, o que era bom; quase toda a gente tinha um copo de alumínio, pendurado na cantareira, para se beber água.


domingo, 12 de abril de 2020

Móveis - barras de ferro, arcas e berços



As barras de ferro


Quase sempre se tinham uma ou duas barras de ferro, com enxergas de palha. Havia também umas melhores do que as outras, umas eram simples, quase como uma grade, pintadas duma cor, sem qualquer luxo; outras eram brancas, com feitios e desenhos na parte central da barra e nas pontas, com uma espécie de “pináculos” prateados e dourados. Ainda há estas barras, muita gente não as deitou fora, até as recuperaram.

As arcas


As arcas serviam para tudo, nesse tempo, eram cómodas, guarda-fatos e o mais que fosse preciso; havia-as de todos os tamanhos e de várias madeiras, de carvalho, de castanheiro, de pinho...; serviam para pôr roupa da cama, toalhas de mesa e de rosto e roupa das pessoas; também havia arcas para pôr alimentos, mesmo em casa.
As arcas das lojas serviam para guardar pão, sacos de farinha, feijão, milho...; tudo se podia pôr nas arcas 

Os berços


Eram feitos com tabuinhas de madeira, com a forma de um barco, a parte central assentava no chão e as extremidades ficavam no ar, para se poderem embalar os meninos; bastava tocar no berço, com a ponta do pé, para começar logo a baloiçar de um lado para o outro. Punha-se-lhe uma enxerga de palha ou de feno para ser mais macio e um cobertor; havia também quem pusesse como que um lençol e mantinhas de lã.