domingo, 1 de março de 2020

As presas do ribeiro e do ribeirinho



As presas do ribeiro e do ribeirinho


Durante o inverno e grande parte da primavera, lavava-se também a roupa em dois ribeiros: o ribeiro do cimo do povo e o ribeirinho ao fundo do povo. A água é de uma barroca que vem lá dos lados da Sangrinheira, atravessa o povo e corre para os lados de Vale Mourisco. Entancava-se a água numa espécie de presa e lavava-se lá bem, tinha lavadoiros e sítios para pôr a corar e para estender, embora pequenos; quando havia água no ribeirinho, as pessoas do fundo do povo não iam para outro lado lavar a roupa, tal como as do Calvário, quando havia água no ribeiro, não iam lavar a outro lado. O problema é que, ainda antes de entrar o verão, a água da barroca já não era suficiente para poder ser desviada para estas presas, chegando mesmo a secar.
Mais tarde, quando começou a haver água em casa, as pessoas compraram pequenos tanques de cimento para lavarem a roupa e deixaram de lavar nas presas. Agora, já nem esses tanques se usam, todas as pessoas têm máquinas para lavar a roupa.


As presas para lavar a roupa



As presas



Perto das fontes, havia uma presa para lavar a roupa. A presa da fonte Velha já não existe, foi desfeita, tiraram os lavadouros e aterraram-na, primeiro para fazer um grande largo, onde faziam os bailes, pelas festas e outros encontros e convívios; mais tarde, fizeram a sede da Associação e o pavilhão multiusos.

A presa da Fonte Velha


Junto à presa da fonte Velha, havia uma lameirinha, sempre de erva rente, para se pôr a roupa a corar – quando se punha roupa a corar, ensaboava-se muito bem e ia-se molhando, de vez em quando, porque, se secasse, ficava com uns vincos difíceis de sair – o sol tirava as nódoas e punha tudo branquinho. Não havia nem fios, nem molas, a roupa punha-se a secar naquelas paredes e silvas. Era preciso muito cuidado, para não rasgar a roupa.

A presa da Fonte Nova


A presa da fonte Nova ainda hoje lá está, ao cimo da rua da Carreira, do lado direito[1]. A água vem da fonte Nova atravessa a rua, por um pequeno aqueduto, empedrado, agora, com manilhas de cimento. Os lavadoiros, ainda lá estão, são pedras retangulares, grandes e linhas para se poder lavar sem romper a roupa. Como ficava num lameiro com dono, havia pouco espaço para pôr a corar e para estender, por isso, muitas pessoas preferiam a outra presa, embora a água da presa da fonte Nova estivesse mais limpa que a da fonte Velha.



[1] Foi há muito pouco tempo reabilitada; pode lavar-se nela, mas as pessoas já não têm esse costume.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

As fontes e os bebedouros



As fontes

A fonte nova
Havia duas fontes, que ainda existem, para abastecer de água toda a aldeia: a fonte Nova e a fonte Velha. De início, eram fontes de mergulho, funcionavam como poços, onde as pessoas com cântaros de barro e depois com cantaras ou baldes de plástico, iam buscar água para a sua alimentação e higiene e também para a comida do vivo e a limpeza das casas.
Mais tarde, fecharam as fontes, com uma porta de ferro e puseram em cima uma bomba manual; era preciso dar à bomba, para encher os cântaros. Era a mesma água, mas já não se mergulhava, ficava mais limpo; nas fontes de mergulho, muitas pessoas não tinham cuidado e a água sujava-se com palhiço e outras coisas, às vezes, até criava limos. Uma vez por ano, ou mais, era preciso limpar as fontes; despejava-se a água e roçava-se tudo bem “roçadinho”: o chão, as paredes e o teto. A limpeza das fontes era feita pelo povo, num dia combinado.

Os bebedouros     

O bebedouro da fonte velha
Junto às fontes, havia um bebedouro para o vivo; eram feitos de pedra, com uma fundura suficiente para todos os animais beberem. De vez em quando, mais à noite, quando vinham do campo, formava-se uma fila de vacas a querer beber; era preciso esperar pela vez. Os donos tinham de estar de olho nas vacas, senão, até, se podiam marrar. Primeiro, quando as fontes eram de mergulho, tirava-se a água da fonte com baldes, depois dava-se à bomba manual e a água corria para o bebedouro.
Mais tarde, construíram-se outros bebedouros, junto aos chafarizes, na Cruzinha, à igreja, ao cimo do povo... 



O forno

O forno comunitário 

A casa do forno fica na rua do Meio, entre a praça e o cimo do povo. Entra-se e tem, à frente, o forno circular, todo de pedra, do lado direito, o local onde se colocavam os tabuleiros do pão, e, do lado esquerdo, uma pia onde se colocava a água que servia para molhar o varredouro que varria o chão do forno. Foi reconstruído, há pouco tempo, tem no exterior uma placa: “forno comunitário”; na verdade assim era, foi usado durante muito tempo por toda a comunidade.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

A cantina escolar



A cantina escolar

 Numa certa altura, nos anos sessenta, o Estado dava uma espécie de almoço: uma sopa, um copo de leite (leite em pó, dissolvido em água), uma fatia de pão com um queijo alaranjado (holandês) e uma colher de óleo fígado bacalhau (recordo que tinha um sabor muito ruim e de nem todos os meninos o conseguiam tomar). Esta cantina funcionava numa espécie de loja[1], com mesas e cadeiras, lá mesmo no alto Calvário; quem fazia o almoço e cuidava da cantina era uma senhora chamada Marcelina.


[1] Pertencia ao senhor António Costa. Houve outras senhoras e outros locais, posteriormente.

A escola



A escola




A primeira escola foi na praça, no tempo da senhora professora Andrade, as pessoas mais antigas, ainda, se recordam. Depois, foi construída a escola que hoje existe, embora desativada, há muito, por falta de alunos. Foi construída naquele sítio, por causa das crianças do Dirão da Rua que vinham cá à escola, sempre ficava um bocadinho mais perto.
É uma escola do plano centenário (um modelo de construção do Estado Novo para edifícios escolares, por muitos lados, há escolas iguais a esta, neste caso, com uma sala de aula, um telheiro, duas casas de banho, uma para os alunos e outra para a professora (mas sempre fechadas, porque não havia água canalizada), um campo de recreio murado e um portão de entrada.

A sala de aula

A sala de aula com três ou quatro filas de carteiras, de madeira, antigas, ainda, daquelas que tinham tinteiros, na parte de cima, onde se sentavam duas crianças; uma secretária e uma cadeira para a professora; na parede da frente, um quadro preto, ao fundo da sala, um armário com livros e a um canto um fogão a lenha que, no inverno, é impossível estar-se sem aquecimento.
Por cima do quadro, havia uma cruz e dois quadros, um com o presidente da república e o outro com o presidente do concelho (no meu tempo, eram o Américo Tomás e o Salazar). Todos os dias, quando chegávamos à escola, antes de começar a aula, rezava-se e cantava-se o hino nacional. A seguir ao 25 de Abril, esta prática terminou, tiraram-se, das escolas, a cruz e as fotografias dos presidentes.

Os meninos do Dirão-da-Rua

Quero aqui homenagear estas crianças que faziam mais ou menos três quilómetros de manhã e outros tantos à tarde para virem à escola, chovesse, fizesse sol, houvesse frio ou calor. Pode imaginar-se a situação difícil em que o faziam, sempre a pé, com a sacola dos livros às costas e, muitas vezes, ainda, com o saco da merenda.  
Apesar destas condições, não facilitarem o aproveitamento escolar, havia bons alunos.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

A Casa Paroquial




A casa paroquial

Antigamente, os senhores padres residiam nas aldeias, em casas quase sempre construídas com a ajuda de toda a freguesia. Esta casa paroquial para a época da sua construção, tinha tudo o que era preciso, mas, agora, não tem condições para ser habitada. É uma construção de pedra, rebocada e pintada de branco, com janelas em todas as divisões. Com divisões espaçosas, soalho e tetos de madeira, o material da época. Pode dizer-se que está desaproveitada, embora possa servir para arrumações de coisas da igreja.

A horta do senhor padre

Havia na fonte velha uma horta ligada à casa paroquial, onde se cultivavam hortaliças e legumes. Deixou de ser cultivada e esteve muitos anos ao abandono. Anos mais tarde, exploraram a água, nesta horta, construíram dois poços.[1]



[1] Uma parte da horta, é hoje o bar da Associação