sábado, 9 de outubro de 2021

Pessoas que tratavam doenças

  Por aqui, havia pessoas entendidas que tratavam doenças. Não eram médicos, não tinham estudos, mas tinham um saber, que não se sabe bem de onde lhes vinha, e em quem as pessoas confiavam.

 

O endireita

Era uma pessoa que entendia dos ossos, das articulações, da coluna... Sempre que alguém dava um mau jeito, “desmanchava” ou partia um braço, uma perna, um pé..., ia ao endireita. Conforme o mal e as queixas, assim o endireita fazia.

Andava sempre alguém, com um braço, um pé ou uma perna ligada; por vezes, punha-se uma “vima” e esperava-se que a entorse, ou o mau jeito, passasse; mas, muitas vezes, o problema, tinha uma gravidade que estava muito para além do que o endireita podia fazer. Por isso, antigamente, muitas pessoas ficavam aleijadas, desde novas, por partirem braços, pernas…, e não terem a assistência necessária. 

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Crenças - rezar às trovoadas

 

Rezar às trovoadas          

Quando havia uma trovoada muito forte, as pessoas rezavam:

 

Santa Bárbara bendita,

que no céu está “escrita”,

com um raminho de água benta,

arramai esta tormenta.

Levai-a para bem longe,

onde não haja nem pão, nem vinho

e nem flor de rosmaninho.

Em louvor de Santa Bárbara

Padre-nosso e ave-maria

                                                                                                       Rezava-se três vezes.

domingo, 3 de outubro de 2021

Rezas - o responso

 

 

O responso

Era uma reza para encontrar as coisas perdidas. Quando alguém perdia alguma coisa com valor, que queria muito encontrar, rezava ou mandava rezar, a quem soubesse, o responso a Santo António. Rezava-se, assim:

 

Santo António se levantou

E seus sapatinhos calçou.

Suas benditas mãos, lavou

e pôs-se ao caminho.

No caminho, Jesus encontrou.

Jesus lhe disse:

- Onde vais, Santo António?

- Senhor, eu Convosco vou.

- Tu Comigo não irás,

volta atrás e o (diz-se o nome do objeto perdido) tu o encontrarás.

Em louvor de Santo António

Um Padre-Nosso e uma Ave-maria.

                                                                                                      Rezava-se três vezes.

 

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Rezas - atalhar a «girpla», «girpela» e ar

 

Atalhar a “girpla”, a “girpela” e o ar


A “girpla” era uma espécie de infeção da pele. Dava comichão, as pessoas coçavam e faziam ferida. O ar era dores, nas pernas e nos ossos, por se apanhar humidade, molhas ou outras coisas. 

Havia uma reza que se acreditava podia curar estes males. Rezava-se assim:

Eu te atalho “girpla”, “girpela” e ar,

para que não cresças, nem verdeças,

 nem nesta casa permaneças.

Nem te benzo, nem te sei benzer,

benza-te Deus e a Virgem Maria,

que têm todo o poder.

Padre-nosso e Avé-maria.

                                                                                                       Rezava-se três vezes.

 

Se durante a reza, a pessoa que estava a atalhar o ar começasse a abrir a boca e a bocejar, era certo que a doente o tinha.

 

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Rezas - Atalhar a constipação de sol

 É a crença no poder de certas orações para curar ou atalhar certos males; mas não só, também, havia rezas para “arramar” as trovoadas, encontrar as coisas perdidas...

 

Atalhar a constipação de sol

Quando as pessoas apanhavam muito sol, em dias de calor, e tinham fortes dores de cabeça, mandavam atalhar a constipação de sol. Rezava-se assim:

Santo Inácio foi ao mar,

com Jesus Cristo se encontrou,

Jesus Cristo lhe disse:

- Onde vais, Santo Inácio?

- Vou ao mar, à procura de remédio,

para atalhar a constipação de sol.

- Volta atrás, Santo Inácio,

com um guardanapo de linho

e um copo de água fria

a constipação se atalharia.

Padre-Nosso e Ave-maria.

                                                                                                       Rezava-se três vezes.

 

Era preciso um copo de vidro com água e um pano de linho quadrado: dobrava-se duas vezes o pano, pelas pontas, tapava-se o copo com o pano dobrado e deborcava-se em cima da cabeça, com jeito, para se não entornar a água. Se a pessoa tivesse constipação de sol, a água do copo começava a borbulhar com força, como que a fazer um repuxo, então, a constipação tinha de ser atalhada, vários dias seguidos, até a água deixar de borbulhar.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Crenças antigas

 Nesse tempo mais antigo, quase ninguém falava em ir ao médico; não havia dinheiro. Se alguém adoecia, faziam-se rezas, chás e outros remédios caseiros, por vezes, ia-se ao “barbeiro”, na esperança de que a pessoa pudesse melhorar.

 

Crenças

 

- Acreditava-se na má sorte, no mau-olhado, no mal da inveja, no rogo de pragas, em estar possuído por espíritos..., e para todos estes males havia rezas, benzeduras e remédios caseiros.

- Acreditava-se nas luas: na lua nova, não se podia nem matar o porco, nem semear os alfobres, nem as batatas, nem muitas outras coisas; só no quarto crescente e na lua cheia se podiam fazer as sementeiras, as matanças, o que fosse.

- Acreditava-se que o mocho, com aquele piar triste e medonho, anunciava a morte de alguém. Quem o ouvia pensava, logo, no pior. Algumas pessoas diziam: - Ladrão! Vai para longe que não te quero ouvir”. Outras não lhe davam importância, diziam: - É o cantar dele.

- Acreditava-se que ver um gato preto, passar debaixo de umas escadas, entrar com o pé esquerdo num local, dava má sorte. 

- Acreditava-se que quando duas pessoas diziam a mesma coisa, ao mesmo tempo, dava má sorte. Dizia-se, logo: “O diabo seja cego, surdo e mudo” e tocava-se na madeira.

- Acreditava-se que as sextas feiras eram dia embruxados, mais ainda se fosse sexta-feira, treze. 

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Tradições Festivas - do Natal

  

No Natal, um mês muito frio, costuma-se fazer um madeiro para aquecer a noite ao Menino Jesus.

 

O madeiro

De vinte e quatro para vinte e cinco de dezembro – na noite de Natal – faz-se um grande madeiro no adro da igreja. O madeiro é uma fogueira muito grande, feito com troncos secos, há sempre alguém que os dá, e que os rapazes acartam, dias antes, juntamente com um carro de giestas e de piornos.

Antes, traziam esses troncos em carros de vacas, mas, claro, eram eles que puxavam; agora, com os tratores é muito mais fácil acartar a lenha e não é preciso começar muito tempo antes. Empilham a lenha, cobrem tudo com as giestas e os piornos, põem pneus velhos, pelo meio, para ajudar o lume a atear e deitavam-lhe o fogo.

Muitas pessoas vão ao madeiro para ver arder aquela imensa fogueira e também para conviver um pouco; alguns ficam até tarde e há mesmo quem fique até de manhã, antes, era costume os rapazes fazerem uma borga junto ao madeiro, com carne e bebidas.

 

O Menino Jesus desce pela chaminé

Não havia a tradição da árvore de Natal. Aqui, era o Menino Jesus que descia pela chaminé e deixava qualquer coisa às crianças. Pouca coisa que não havia muito para dar: uns rebuçados, umas bolachas, umas laranjas, umas meias, umas moedinhas... 

De manhã, os meninos, que tinham posto o sapatinho junto a chaminé, iam entusiasmados ver o que o Menino Jesus tinha deixado. E ficavam todos contentes, mesmo que fosse pouco.