sexta-feira, 23 de julho de 2021

Tradições festivas do carnaval: os entrudos, partidas...

  

Os entrudos

Alguns rapazes vestiam-se de entrudo, disfarçados, a jeito de ninguém os conhecer, com roupa velha e a cara tapada, com uma meia ou um pano. Na noite do entrudo, já se estava à espera deles. Chegavam às cozinhas, cumprimentavam, faziam gestos, moafas…, mas não falavam, para não se darem a conhecer.

- Olá, estás muito bonito! De onde é que vens, vestido dessa maneira? Estás muito bem, sim senhor!

No dia de Carnaval, também, andavam os entrudos; de vez enquanto, aparecia uma maltinha, até, com crianças pequenas que vinham pela mão dos mais velhos, lá iam todos dar a volta ao povo. Os garotinhos, às vezes, tinham medo, porque os entrudos corriam atrás deles, com aqueles paus grandes que traziam, mas era só para assustar, não faziam mal, eram até divertidos.

Continua esta tradição, mas agora quase já não há entrudos de cara tapada, vão com disfarces engraçados.

 

As partidas de Carnaval

Uma partida que os rapazes faziam, nesse tempo, era trocarem os vasos das flores que as raparigas tinham nas varandas. Punham os do cimo ao meio ou em baixo, os de baixo em cima ou ao meio, uma mistura. De manhã, quando as raparigas davam conta do que tinha acontecido, iam à procura dos vasos que lhes pertenciam.

Era uma brincadeira divertida, ninguém levava a mal. Os rapazes em geral faziam isto às raparigas com quem tinham mais confiança.

 

O galo para a professora

Todos os anos, os alunos da escola compravam um galo para oferecerem à senhora professora, no último dia de aulas, antes das férias do Carnaval. Enfeitavam-no com fitas e punham-no numa cesta de verga. A professora costumava, nessa altura, dar qualquer coisa às crianças, quase sempre, uns rebuçados. 

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Tradições festivas do carnaval: os chocalhos (1)

 

 

O Carnaval

 

Quando nos lembramos do Carnaval, vêm-nos logo à ideia os chocalhos, os entrudos e outras partidas divertidas. Era um tempo alegre.

 

Os chocalhos        

Duas semanas antes do Carnaval, começavam a tocar os chocalhos; esta tradição teve lugar até há poucos anos, terminou por não haver crianças e jovens suficientes. O grupo de rapazes reunia-se, cada noite, para ir aos chocalhos. Não tocavam só chocalhos, também batiam em latas e em tachos velhos.

Lá andavam, rua abaixo, rua acima, parando uma noite numas casas e a noite seguinte noutras, para darem vivas aos moradores.

Um dos rapazes dizia: - Viva o senhor tal (diziam o nome)! Viva a mulher! Vivam os filhos!

Todo o grupo repetia: - Viva! Viva! Vivam!

As pessoas iam à porta, agradeciam e algumas davam rebuçados, vinho, dinheiro ou outras coisas. No último dia, antes do Carnaval, paravam em todas as portas e davam vivas a todas as pessoas. Como a tradição era oferecer vinho, entre outras coisas, alguns dos rapazes bebiam uns copinhos a mais e, pela primeira vez na vida, começavam a ver o caminho a dobrar.[1]



[1]Claro que se pode dizer: “é incompreensível dar vinho a rapazes tão jovens”, mas temos de situar esta e outras tradições no tempo, bem lá atrás.

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Tradições festivas: a borga das janeiras

  

A borga das janeiras

 

No dia 1 de janeiro, era dia de pedir as janeiras, mas não era para os Santos, era para a malta nova fazer uma festa. Ia-se de casa em casa, a pedir a janeira. Muitas vezes, cantava-se:

- Ainda agora aqui cheguei/ logo pus o pé na escada/ logo o meu coração me disse/ aqui mora gente honrada.

- Levante-se lá senhora/ desse banco de cortiça/ venha-nos dar a janeira/ ou morcela ou chouriça.

As pessoas davam coisas do porco; nessa altura, quase toda a gente matava. Ia-se para uma casa desabitada, que alguém arranjava, onde se pudesse fazer lume e fazia-se a festa. Levavam-se umas panelas de ferro grandes, numa cozia-se o enchido, na outra coziam-se as batatas. Muitas vezes, a seguir, havia baile.

 

terça-feira, 6 de julho de 2021

Tradições festivas - Cantigas de roda

 

Cantigas de roda 

Não era preciso haver bailes, para a malta nova se divertir. Cantavam e dançavam, ao mesmo tempo, quadras como estas:

-“Ó menina que vai passar/que leva na canastrinha/ Que a fruta para ser boa/ deve ser bem madurinha. A fruta é boa/ todos a podem comprar/ É laranja escolhida/ para gente particular/Se o senhor duvida disso/ posso lha dar a provar.

- Ó sopeira encantadora/ onde vais tão apressada/ Quem tem tanta formusura/ não devia ser crida. Que lhe importa a onde eu vou/ se vou depressa ou devagar/ Se eu ganho muito ou pouco é deitar-se a adivinhar/ com os seus elogios pouco pode aproveitar.

- Palavras leva-as o vento/ aquelas que leves são/ mas a mim ninguém me leva/ as penas do coração.

- Não se prenda quem é livre, nem se pratique a maldade, fechando numa gaiola quem nasceu para a liberdade.

- Está o céu enevoado/ está para chover não chove/ está o meu amor doente/ está para morrer não morre.

- Meu amor, amor de outra/ não te posso chamar meu/ tu amas a quem tu queres/ e só na fama fico eu. O meu amor eras tu/ se não te fosses gabar/ pela língua morre o peixe/ quem te manda a ti falar.

 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Tradições festivas - as «Bicas» e o dia da inspeção

  

As bicas

 

Sempre que uma jovem rapariga ficava noiva de um rapaz “de fora”, um rapaz que não fosse da terra, tinha de pagar as “bicas”. Era uma festa, havia quase sempre um baile e uma “borga”, comida e bebida para toda a malta. Eram os rapazes solteiros que iam pedir as bicas ao noivo. Também se dizia “pagar o vinho”, ouvia-se dizer: - já se vão casar, o rapaz já pagou o vinho.

 

O dia da inspeção

 

Iam à inspeção os rapazes da freguesia que, nesse ano, fizessem dezoito anos. Era um alvoroço nas terras, nesse dia, havia alegria e tristeza, ao mesmo tempo.

Os que ficavam apurados, não tinham razões para festejar, pois, a partir de 1961, a maioria, era quase certo, acabaria na guerra colonial, a não ser que pudessem ficar como “amparo de mãe”, se já não tivessem pai e fossem eles a trabalhar para o sustento da família. Os que ficavam livres, poucos, por terem algum problema de saúde ou não terem a capacidade física exigida, também sentiam também alguma tristeza, compreensível.

Ainda assim, quase sempre, a malta da inspeção ajustava um tocador e havia, logo que chegavam, uma ronda pelo povo, foguetes e um baile.

 

domingo, 6 de junho de 2021

Os bailes - a ronda, chamar as raparigas

 Os bailes

Havia bailes com concertina, em dias assinalados: Carnaval, Páscoa, São João, dia da inspeção militar, bicas, dias de festa e noutros dias; havia alturas, que todos os domingos havia baile. Havia cá dois tocadores, o senhor Aníbal e o senhor Clemente, mas também vinham tocadores de outras terras. 

Dançava-se ao fundo do povo, mas a maior parte das vezes, era no largo da capela, ao fundo das escadas do ti João da Costa ou atrás da capela.

 

A ronda

Nessa altura, os bailes eram à tarde e à noite. Quando chegava o tocador, os rapazes da malta davam logo umas voltas ao povo, a anunciar que o baile ia começar. Às vezes, podiam começar poucos, mas, no fim da ronda, era já uma “maltinha” grande; eram só rapazes, as raparigas não andavam à ronda. Nos dias de festa, havia sempre um foguete ou outro que alguém, dos da ronda, deitava.

 

Chamar as raparigas

Antigamente, os rapazes iam às casas, a seguir à ceia, chamar as raparigas para o baile. Se não as fossem chamar, os pais não as deixavam ir de noite, a não ser que tivessem irmãos mais velhos. Era uma espécie de responsabilidade:

- Deixa ir a sua filha para o baile?

. Deixo-a ir, porque tu a vieste chamar. Mas vê lá, não quero que aconteça nada de mal.

- Fique descansado.

Este uso acabou há muito tempo.

terça-feira, 1 de junho de 2021

Dias de Festa - A Romaria da Senhora da Póvoa (3)

 

As tendas

Havia de tudo a vender na Senhora da Póvoa; as tendas estavam por todo o lado, só ao pé da igreja é que não. Sempre se comprava qualquer coisa, para quem ficava em casa, sobretudo, para as crianças que estavam sempre à espera de amêndoas, uma pandeireta, um pífaro, um balão..., mas também se podiam comprar outras coisas, chapéus, calças, aventais, blusas, sapatos... No dia a seguir, havia sempre pessoas com coisas novas: “tens um chapéu bonito”! “Trouxeram-mo da Senhora da Póvoa”.

A romaria da Senhora da Póvoa continua, o recinto foi melhorado, fizeram um grande altar, há outro apoio para as pessoas, mas não tem, pelo menos, aqui no povo, o impacto que tinha. Era um acontecimento, não passava em branco. Quando se deixou de ir a pé e de burra, ia-se de excursão, numa camioneta. Agora, pouca gente já lá vai, os que vão, fazem-no em transporte próprio, já não em grupo e naquele espírito de romagem que existia dantes.