Neste blogue, vou escrever sobre Águas Belas, deixando memória de um tempo que já não existe, mas que temos a obrigação de não esquecer. Dedico-o à minha mãe, sem o saber dela, o que escrevi não teria sido possível, e a todas as pessoas de cá, andem por onde andarem.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2022
Os jogos que jogávamos: o pião
3. O pião
Era um jogo, sobretudo, dos rapazes. Não havia menino, pequeno ou maiorzinho, que não tivesse um pião. Antes de se lançar, enrolava-se, de forma correta e bem ajustadinho, o cordel ao pião, chamava-se a baraça; depois, lançava-se o pião, com a força toda que se tinha; ao ser lançado, desenrolava-se a baraça e o pião, ao chegar ao chão, começava a rodar, a rodar, a rodar...; quanto mais força levava, mais bailava.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
Os jogos que jogávamos - o berlinde
2. O berlinde
Os berlindes eram bolinhas maciças de vidro, muito pequeninas e duras, que não se partiam. Podiam jogar várias crianças, ao mesmo tempo. Faziam-se, na terra, três pequenas poças, com o feitio de um triângulo. A partir de um sítio de lançamento, cada criança lançava o berlinde, na direção da poça mais afastada.
O dono do berlinde que estivesse mais próximo desse buraco começava a jogar; seguiam-se os outros, pela ordem em que cada um estivesse. Com o toque do dedo polegar, fazia-se deslizar o berlinde na direção da primeira poça e depois das outras duas. Quando se conseguia chegar à última cova, fazia-se o percurso no sentido oposto. Depois de feitas estas etapas, podia-se começar a acertar nos berlindes dos colegas e a ganhá-los.
Perdia-se, sempre que não se acertava no buraco; quando isso acontecia, dava-se a vez a outro jogador e ficava-se à espera até voltar a ter vez; nessa altura, recomeçava-se no ponto onde se estava. O jogo terminava, quando todos os berlindes fossem alvejados e ganhos por alguém.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2022
Os jogos que jogávamos - o acha-brasa
Era um tempo em que não havia brinquedos, ter uma boneca ou uma bola de plástico, era o máximo a que se podia aspirar; quase sempre os brinquedos eram feitos pelas próprias crianças, carrinhos de madeira, bolas e bonecas de trapos, rodas com guiadores…
Não havia televisão, os miúdos viviam na rua e brincavam ao que sabiam. Muitos destes jogos eram realizados em qualquer lado, desde que houvesse espaço livre.
1. O acha-brasa
Jogava-se nas paredes dos cabanais, das varandas, na rua, nos terreiros…, onde houvesse espaço e sítios para esconder a “brasa”, um trapinho qualquer ou um lenço das mãos que alguém tivesse no bolso. Enquanto o jogador que tinha a brasa a escondia, os outros fechavam os olhos, até ouvirem dizer:
- Já, podem abrir.
Então, todos começavam à procura da brasa, nos buracos, debaixo de pedras…, onde calhava. Às vezes, punham a brasa em sítios tão difíceis que era muito difícil dar nela. Quando isso acontecia, quem a tinha escondido ia dando ajudas; conforme os jogadores se afastavam ou se aproximavam da brasa, dizia: - frio, frio, muito frio; ou, morno, morninho, quente, muito quente…
O que estava muito quente, estava próximo de achar a brasa e, claro, todos a iam procurar nesse sítio e não demoravam a dar nela. Quem achava a brasa, passava a comandar o jogo. Às vezes, podia-se andar, várias horas, neste jogo de esconde e acha.
sábado, 1 de janeiro de 2022
Expressões Populares
• “Olha que vêm lá os guardas; vou dizer aos guardas que te levem”.
• “Passa a vida na borga, tanto se lhe dá como se lhe deu”.
• “É muito joldeira, está sempre pronta para ficar a brincar, a conversar…; sai de casa só para ver se encontra jolda”.
• “Tem falta de modos; não tem nenhuns modos”.
• “Não tem tento. nenhum”.
• “É muito bem-mandado, nunca diz que não, faz tudo o que lhe mandam”.
• “Andam de candeias às avessas”.
• “Anda nas bocas do povo”.
• “Anda sempre de ventas.”
• “Dar a Salvação: - Venha com Deus. -Vá com Deus”.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
Ditados populares
• Não venha ao corpo, o que ele pode aguentar.
• Tuas janelas fecharás e teus vizinhos louvarás, se quiseres viver em paz.
• Quem não tem cabeça, não precisa de carapuça.
• Diz-me com quem viveste, digo-te o que aprendeste.
• Quem tudo quer, tudo perde.
• Vale mais um pássaro na mão, do que dois a voar.
• Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele.
• Não podemos ter sol na eira e chuva no nabal.
• Fevereiro quente traz o diabo no ventre.
• Abril águas mil, as que caibam num barril.
• Junho, foice em punho.
• Quem malha em agosto, malha com desgosto.
• Pelo São Martinho baldeia o teu soito e prova teu vinho.
• Quem não trabuca, não manduca.
• Mais vale só, do que mal-acompanhada.
• Nem oito, nem oitenta
• Quem guarda acha, quem poupa tem.
• Quem tem telhados de vidro, não atira pedras.
• Quem não se sente, não é filho de boa gente.
• O que é barato, sai caro.
• O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita.
• Água mole em pedra dura tanto dá até que fura.
• Não é pela tigela, mas pelo que vai atrás dela.
• Água na mesa, sinal de tristeza.
• A cavalo dado, não se olha o dente.
• Por causa dos santos, beijam-se as pedras.
• Só sabe o que está na panela, quem mexe nela.
• Quando a esmola é grande, o santo desconfia.
• Quem corre por gosto, não cansa.
• Mal vai à corte, onde o boi velho não tosse.
• Vês as barbas do vizinho a arder, põe as tuas a amolecer.
• Só se lembram de Santa Bárbara, quando ouvem as trovoadas.
• Abalam os gatos, entendem-se os ratos.
• A galinha da vizinha é sempre maior do que a minha.
• Quando se fecha uma porta, abre-se sempre uma janela.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2021
Ditados Populares
Ditados populares
Os ditados são um saber popular que os mais velhos têm e ainda usam, nas suas conversas e nas suas vidas. Têm muito a ver com atitudes e com comportamentos, com o que devemos fazer e com o que nos devemos importar.
Nunca ouviste dizer...
• Não anda o pião, sem a baraça.
• O comer e o ralhar, a demora está no começar.
• Filho és pai serás, como fizeres assim acharás.
• Gato escaldado, da água fria tem medo.
• Não perde o ano, o que perde o dia ou o mês.
• Não faças aos outros, o que não queres que não te façam a ti.
• Não faças mal, à espera de encontrar bem.
• Deus dá o frio, conforme as mantas.
• Quem mal não faz, mal não pensa.
• Sol que muito madruga, pouco atura.
• A verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima.
• O diabo é tão cego, que se mete na igreja.
• Quem se assoldada ao São Miguel, não é senhor de si quando quer.
• A quem morre porque quer, não se lhe reza pela alma.
• Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso.
• Um bocado de pão, não se nega a ninguém.
• Quem não poupa a água e a lenha, não poupa mais nada que em casa tenha.
• Quem o feio ama, bonito lhe parece.
• Não deixes para amanhã, o que podes fazer hoje.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
Contos tradicionais - A raposa e o lobo
12. A raposa e o lobo
Era uma vez uma raposa que se encontrou com um lobo no campo, ambos, a espreitar um rebanho de ovelhas. Resolveram unir esforços para atacar o rebanho e conseguirem apanhar, pelo menos, um borrego. Foram tão bem-sucedidos que em vez de um apanharam dois: um foi comido, logo, ali; o outro foram-no enterrar, no pinhal mais próximo, com o rabo de fora, para não perderem o sítio e poderem comê-lo, no dia seguinte.
No outro dia, o lobo foi a casa da raposa e disse-lhe:
- Vamos comer o borrego que enterrámos?
- Hoje não posso, tenho o batizado de um afilhado que se chama “Comecei-te”. Fica para amanhã.
No segundo dia, a mesma desculpa: - Hoje, não posso, tenho o batizado de um afilhado que se chama “Mediei-te”, fica para amanhã.
Ao terceiro dia, o mesmo: - Hoje não posso, tenho o batizado de um afilhado chamado “Acabei-te”.
Combinaram, então, para o dia seguinte, irem os dois comer o borrego que tinham enterrado. Quando estavam a chegar perto, a raposa fingiu que tinha um espinho num pé e disse ao lobo:
- Vai tu à frente, desenterra o borrego, que eu já vou.
Assim foi; pensando que o borrego, ainda, estava lá inteirinho, como o tinham deixado, puxou com muita força, caiu, logo, para trás e ficou com o rabo na mão.
A raposa começou a rir: - Percebes agora os nomes que eu dei aos meus afilhados?
“Quem é que pode confiar em espertalhonas destas” – pensou o lobo.
Quando alguém nos dá desculpas que parecem mentiras, a melhor coisa é desconfiar e procurar saber a verdade.
Subscrever:
Mensagens (Atom)
-
Dependendo da época do ano, assim era o trabalho no campo. Não era só o trabalho nos “chões”, a semear e a tratar o renovo, era também t...
-
. O rato-do-monte e o rato do moinho Um dia um rato-do-monte encontrou-se com um rato do moinho e começaram a conversar. - Estás t...
-
A Igreja de Águas Belas Ser daqui é ter uma raiz, um chão, um lugar, onde regressamos, sempre que precisamos, de verdade ou em pensam...
-
A casa paroquial Antigamente, os senhores padres residiam nas aldeias, em casas quase sempre construídas com a ajuda de toda a...
-
Era assim o minério (volframite) O minério do Brejo Uma vez, ainda nem a gente sabia bem o que era aquilo, além para o cimo do p...
-
Há três cruzeiros: duas Alminhas e um Calvário. As Alminhas As Alminhas da Cruzinha As Alminhas do Fundo do Povo As A...
-
Era assim...Um caniço cheio de enchido (Foto: Capeia Arraiana) Os enchidos Só as morcelas se faziam o dia da matança, o resto do e...
-
Café de Águas Belas - há sessenta e tal anos era uma loja com taverna e mercearia As lojas de venda Mais lá atrás, houve uma taberna, do sen...
-
Pode dizer-se que a vida do país começou a mudar, a partir do 25 de Abril de 1974; todos começaram a perceber o que significava viver em d...
-
A bica/ O santoro É uma tradição ligada ao dia dos Santos, 1 de novembro. Nesse dia, os padrinhos dão aos afilhados, um pão esp...