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A ceifa |
As
ceifas
Quando o pão
estava maduro, com a palha bem seca, tinha de se ceifar. Os “ceifadores” iam
deixando paveias de pão que depois outros homens atavam em molhos. Ao pão que
se ceifava de uma vez, o que cabia numa mão, chamava-se gavela; três gavelas era
uma paveia e três paveias era um molho; mas, às vezes, as paveias eram tão
grandes que duas davam para um molho. O molho atava-se com as espigas todas
para o mesmo lado.
Quando se
terminava de ceifar um chão, acartavam-se os molhos para um rolheiro; o rolheiro
era um entrançado de molhos, sempre com a espiga a descoberto, de maneira a que
a chuva não entrasse para dentro. Os rolheiros ficavam nos campos, até à altura
do pão ir para a laje.
Os
ranchos
- Fale-me
dos ranchos que andavam a ceifar pão.
- Eram
ranchos de sete, oito, pessoas ou até mais, cada rancho tinha um “manajeiro”,
um rapaz ou um homem, que era quem mandava, toda a gente lhe obedecia. Era quem
resolvia as coisas, até as discussões, quando alguém começava a picar ou a
discutir com outra pessoa, separava-as punha uma num sítio e a outra noutro,
mesmo a dormir, não ficavam juntas para evitar as discussões.
Íamos até
para terras de fora, para o Carvalhal, Quinta do Clérigo..., ganhava-se ao dia,
às vezes, ajustava-se, mas no geral era ao dia. Ao nascer do sol, a essa hora,
já se estava à porta dos patrões, para comer o almoço.
- O que é
que comiam?
-
Almoçava-se sopa, pão e vinho. Levava-se pão e queijo para o “cravelo”, ao meio
da manhã, pelas nove, dez, horas; muitas vezes, já se levava, à cabeça, o
“barranhão” das papas de milho, para se comerem ao jantar, punha-se lá a uma
sombra e depois os patrões iam, à hora do jantar, com o resto da comida.
- E para
beber?
- Havia
sempre cântaros ou bilhas de barro para a água, o calor era muito, tinha-se de
beber muita água. Ia-se a um poço ou a uma presa buscar água, mas, nem sempre
havia, ou a gente não conhecia bem aqueles sítios e não se sabia aonde ir.
Outras vezes, só se encontravam poços fundos, mas se fossem empedrados, as
pedras serviam de escada e, de pedrinha em pedrinha, ia-se ao fundo do poço
buscar água.
-
Trabalhavam até que horas?
- Até à
noite, mas, às vezes, estava quase a anoitecer e ainda havia ali um bocado bom
para ceifar, já não dava para andar com aquela calma, tínhamos de acelerar para
o acabar, então, o patrão dizia: - Se acabarem o pão até à ponta, ganham um
cântaro de vinho doce.
Para ganhar
o vinho doce, acabava-se já tarde. À noite, cantava-se e dançava-se, até às
tantas, muitos não se lembravam que tinham de se levantar cedo no outro dia.
- O que era
mais difícil nas ceifas?
- O mais
difícil era o cansaço acumulado de uns dias para os outros. Também, quando o
pão era pequenino, umas “peladinhas”, baixinho, fartava-se a gente de ceifar e
ceifar para fazer um molho de pão; mas depois dava mais grão que um molho de
palha grossa.
- E o pior?
- Nesse
tempo, os homens ganhavam o dobro das mulheres, a não ser que fossem
“galfarros” novos, de quinze ou dezasseis anos, esses rapazes ganhavam como as
mulheres, ainda, não ganhavam como os homens.
- O que
achava de os homens ganharem o dobro?
- Não achava
bem, mas era assim; também, as mulheres ganhavam todas o mesmo e umas faziam o
dobro das outras.
- Como é que
andavam vestidas nas ceifas?
- Normal,
com uma saia e umas meias grossas para não se picarem as pernas, de lenço e
chapéu que o calor era muito; o avental punha-se para trás, para tapar as
pernas, mas não era só nas ceifas, se tivéssemos de andar baixas, fazia-se
isso, a pessoa ficava mais à vontade.
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