sábado, 16 de outubro de 2021

Mezinhas - chás, mel e aguardente

 

Mezinhas

 

Eram remédios feitos em casa. Para quase todas as maleitas, havia qualquer coisa que se podia fazer e tomar. Os mais usados eram os chás, mas também se usava o mel, a aguardente, os defumadoiros, as lavagens e outros.

Por exemplo:

- Para a dor de dentes, punha-se uma pedrinha de sal no buraco do dente, ou bochechava-se com aguardente, ou punha-se a cara a apanhar o vapor de uma panela com água a ferver, ou fumava-se um cigarro, na esperança que o fumo adormecesse a dor.


- Para calar os bebés, faziam-se chupetas de açúcar. Pegava-se num pano limpinho, podia ser de linho, de pano cru ou um farrapinho que fosse mole, cortava-se e punha-se-lhe dentro um bocadinho de açúcar; a seguir dobrava-se, atava-se com uma linha e dava-se a chupar aos meninos; eles sossegavam.

 

Os chás

Os chás eram ervas que se apanhavam nos campos, nos lameiros, nas tapadas e nos montes. Escolhiam-se, lavavam-se bem lavadas, secavam-se e guardavam-se para poderem ser utilizadas para fazer o chá.

Os poejos e as “marcelas” eram para a dor de barriga; as barbas do milho e as flores do sabugueiro eram indicados para as constipações; a pimpinela era para o fígado; a flor da laranjeira e a flor da tília eram utilizadas como calmantes. Para além destes, mais usados, havia muitos outros chás.

 

O mel

O mel das abelhas foi desde sempre considerado um remédio natural. Muitas pessoas tomavam-no simples, uma colher de mel, como um fortificante que fazia bem aos ossos e a outras doenças.

Também se faziam remédios com o mel, por exemplo, leite quente com uma colher de mel para as constipações, as dores de garganta e a gripe.

 

A aguardente

Era usada como desinfetante e como remédio para curar as gripes e as constipações. Fazia-se uma ferida, limpava-se e desinfetava-se com aguardente; doía que eu sei lá, mas, como era para curar, aguentava-se.

Também se usava tomar com leite quente, quando se tinha dor de garganta, se estava constipado ou com gripe. Tinha de ser tomado antes de ir para a cama para servir de remédio.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Pessoas que tratavam - o barbeiro e o bento

 

O barbeiro

Era uma espécie de médico, alguns até pareciam saber mais, davam receitas da farmácia mais “inteligentes” do que os médicos. Também davam remédios caseiros, davam dietas tiravam os dentes... O de Pousafoles era um grande barbeiro; ao médico quase ninguém ia naquele tempo.

 

O bento

Acreditava-se que era uma pessoa com poderes especiais; viam e sabiam tudo, nem era preciso a pessoa, que precisava de ajuda, estar presente, bastava levar uma peça de roupa, para o bento ou a benta falar e poder ajudar na cura da doença ou na solução do assunto que se tinha lá ido tratar.

Era uma coisa quase secreta, quem acreditava, ia, quase em segredo, tomava e fazia o que lhe era recomendado e esperava-se que o mal desaparecesse ou o assunto se resolvesse. Não levavam nada, mas, quem lá ia, sempre deixava alguma coisa.

 

sábado, 9 de outubro de 2021

Pessoas que tratavam doenças

  Por aqui, havia pessoas entendidas que tratavam doenças. Não eram médicos, não tinham estudos, mas tinham um saber, que não se sabe bem de onde lhes vinha, e em quem as pessoas confiavam.

 

O endireita

Era uma pessoa que entendia dos ossos, das articulações, da coluna... Sempre que alguém dava um mau jeito, “desmanchava” ou partia um braço, uma perna, um pé..., ia ao endireita. Conforme o mal e as queixas, assim o endireita fazia.

Andava sempre alguém, com um braço, um pé ou uma perna ligada; por vezes, punha-se uma “vima” e esperava-se que a entorse, ou o mau jeito, passasse; mas, muitas vezes, o problema, tinha uma gravidade que estava muito para além do que o endireita podia fazer. Por isso, antigamente, muitas pessoas ficavam aleijadas, desde novas, por partirem braços, pernas…, e não terem a assistência necessária. 

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Crenças - rezar às trovoadas

 

Rezar às trovoadas          

Quando havia uma trovoada muito forte, as pessoas rezavam:

 

Santa Bárbara bendita,

que no céu está “escrita”,

com um raminho de água benta,

arramai esta tormenta.

Levai-a para bem longe,

onde não haja nem pão, nem vinho

e nem flor de rosmaninho.

Em louvor de Santa Bárbara

Padre-nosso e ave-maria

                                                                                                       Rezava-se três vezes.

domingo, 3 de outubro de 2021

Rezas - o responso

 

 

O responso

Era uma reza para encontrar as coisas perdidas. Quando alguém perdia alguma coisa com valor, que queria muito encontrar, rezava ou mandava rezar, a quem soubesse, o responso a Santo António. Rezava-se, assim:

 

Santo António se levantou

E seus sapatinhos calçou.

Suas benditas mãos, lavou

e pôs-se ao caminho.

No caminho, Jesus encontrou.

Jesus lhe disse:

- Onde vais, Santo António?

- Senhor, eu Convosco vou.

- Tu Comigo não irás,

volta atrás e o (diz-se o nome do objeto perdido) tu o encontrarás.

Em louvor de Santo António

Um Padre-Nosso e uma Ave-maria.

                                                                                                      Rezava-se três vezes.

 

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Rezas - atalhar a «girpla», «girpela» e ar

 

Atalhar a “girpla”, a “girpela” e o ar


A “girpla” era uma espécie de infeção da pele. Dava comichão, as pessoas coçavam e faziam ferida. O ar era dores, nas pernas e nos ossos, por se apanhar humidade, molhas ou outras coisas. 

Havia uma reza que se acreditava podia curar estes males. Rezava-se assim:

Eu te atalho “girpla”, “girpela” e ar,

para que não cresças, nem verdeças,

 nem nesta casa permaneças.

Nem te benzo, nem te sei benzer,

benza-te Deus e a Virgem Maria,

que têm todo o poder.

Padre-nosso e Avé-maria.

                                                                                                       Rezava-se três vezes.

 

Se durante a reza, a pessoa que estava a atalhar o ar começasse a abrir a boca e a bocejar, era certo que a doente o tinha.

 

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Rezas - Atalhar a constipação de sol

 É a crença no poder de certas orações para curar ou atalhar certos males; mas não só, também, havia rezas para “arramar” as trovoadas, encontrar as coisas perdidas...

 

Atalhar a constipação de sol

Quando as pessoas apanhavam muito sol, em dias de calor, e tinham fortes dores de cabeça, mandavam atalhar a constipação de sol. Rezava-se assim:

Santo Inácio foi ao mar,

com Jesus Cristo se encontrou,

Jesus Cristo lhe disse:

- Onde vais, Santo Inácio?

- Vou ao mar, à procura de remédio,

para atalhar a constipação de sol.

- Volta atrás, Santo Inácio,

com um guardanapo de linho

e um copo de água fria

a constipação se atalharia.

Padre-Nosso e Ave-maria.

                                                                                                       Rezava-se três vezes.

 

Era preciso um copo de vidro com água e um pano de linho quadrado: dobrava-se duas vezes o pano, pelas pontas, tapava-se o copo com o pano dobrado e deborcava-se em cima da cabeça, com jeito, para se não entornar a água. Se a pessoa tivesse constipação de sol, a água do copo começava a borbulhar com força, como que a fazer um repuxo, então, a constipação tinha de ser atalhada, vários dias seguidos, até a água deixar de borbulhar.