domingo, 12 de janeiro de 2020

Património Público - ruas, largos e terreiros


Todas as aldeias se organizavam à volta de bens públicos e todas as pessoas procuravam ter os bens privados que lhes permitissem suprir as necessidades mais básicas da sua vida familiar e pessoal.

Bens públicos


Falo aqui de bens que pertenciam a toda a população e davam apoio à vida e às necessidades diárias das pessoas que aqui viviam; bens que desempenhavam uma função determinada na vida da comunidade.

As ruas, largos e terreiros

Rua do Meio

A aldeia tem duas ruas principais: a rua da Carreira e a rua do Meio que vão do largo do Fundo do Povo ao largo da Capela. Vai-se, de uma rua para a outra, através de travessas: a do Terreiro, a da Praça, a do Marques; na rua do Meio, também há várias travessas, para o largo da fonte Velha, uma à praça, outra ao forno, outra do lado de cima do forno e ainda outra quase ao cimo rua.
A seguir ao largo da capela, há um caminho que vai na direção da escola e duas ruas que vão para o Calvário, uma na direção do ribeiro, e outra na direção do cimo do povo; entre estas ruas há também travessas.
Já nos anos oitenta se começou a estender o povo para a Cruzinha, onde há um conjunto de casas novas que se prolongam à beira da estrada que vai para o Sabugal.
Os locais são identificados com os nomes de: igreja, fundo do povo, terreiro, praça, fonte velha, fonte nova, capela, calvário, ribeiro, escola, cruzinha.

O dia a dia - Os serões



Os serões de trabalho

 Quando falamos dos serões, recordamo-nos das longas noites de inverno, ao lume, à luz da candeia ou do candeeiro de manga, a petróleo. No tempo mais antigo, as mães ocupavam-se a fiar, a fazer farrapos, meias de algodão ou lã (com cinco agulhas), a remendar a roupa, a costurar à mão...; as filhas a fazer rendas e a bordar toalhas ou camas, preocupadas em fazer o enxoval; os homens teciam “moxos”, bancos de palha, faziam tamancos, coziam e deitavam “tombas”, em calçado que precisasse de conserto.

Os serões de convívio

 Mas também havia serões só para conviver e passar o tempo; as pessoas conversavam umas com as outras, contavam histórias, jogavam às cartas… Iam, muitas vezes, passar o serão a casa de familiares, de vizinhos ou de amigos – era um hábito.


O dia a dia - ir à lenha



Ir à lenha

Gastava-se muita lenha, tudo era feito e aquecido ao lume, mas o inverno não se podia comparar ao verão, no que toca a gastar lenha; o lume estava sempre aceso. Quem tinha pinhais e tapadas, com giestas e piornos, ia buscar lenha, na burra ou no carro das vacas; preocupava-se, a tempo e horas, em arranjar e em arrecadar lenha miúda e também lenha grossa, cavacos, para o tempo ruim.

Ir ao feixe

As pessoas que não tinham lenha, eram as que mais iam ao feixe; iam de fugida, com medo que aparecesse o dono. Traziam feixes de giestas, de piornos, de ramos e de galhos; não havia giestas grandes, como agora que ninguém vai à lenha. Às vezes, tinham de ir longe, para a Fonte Ferrenha, para o Grilo, para a Malhadinha...; havia rapazes fortes que traziam feixes tão grandes que nem se viam debaixo deles.
Mas, podia acontecer que o dono dissesse: - “Olha, vai, além, ao meu pinhal ou à minha tapada, buscar uns feixes de mato”. Então, a pessoa ia com ordem, sem medo de ser apanhada, levava uma burra ou um carro e trazia a lenha.
Se fosse apanhar pinhas não havia problemas; sempre se pôde ir aos pinhais alheios, os donos não diziam nada. As pessoas de mais idade, que não podiam andar ao feixe, nem tinham quem fosse a ele, quase só gastavam pinhas; entrava-se naquelas cozinhas e o que via era um “canto” cheio de pinhas.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

O dia a dia - o trabalho no campo


 Dependendo da época do ano, assim era o trabalho no campo. Não era só o trabalho nos “chões”, a semear e a tratar o renovo, era também todo o trabalho relacionado com a comida e a cama do vivo e ainda com a lenha que era preciso trazer para casa. 



Tratar do renovo 


Depois das sementeiras, março e abril, havia sempre que fazer nos “chões”. O verão era o tempo de mais trabalho e do trabalho mais duro: os fenos, as ceifas, as malhas, as regas...; saia-se logo de madrugada, para aproveitar o fresco da manhã; pela hora do dia, ninguém podia aguentar o calor, tinha-se de estar em casa; só pelas quatro, cinco, horas se voltava de novo aos campos, até ao anoitecer. No fim do verão, ainda havia muito trabalho, tinham de se tirar as batatas, de fazer as vindimas e de apanhar a castanha e a bolota...
E mesmo de inverno, o trabalho no campo nunca acabava. Era preciso acartar a comida e a cama para o vivo.
   

Ir à comida e à cama do vivo 


Todos os dias se tinha de tratar da comida do vivo, ir à erva, ao milho, à ferrem, aos nabos..., ao que houvesse nos campos e os animais pudessem comer na loja.
Também, a cama do vivo era um trabalho diário, feita com rama de giestas, cortadas para isso, com palha, “figueitos” (fetos) e outro palhiço que houvesse nos campos e se pudesse trazer. De vez em quando, tirava-se o estrume da loja e renovava-se toda a cama.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

O dia a dia - o trabalho do vivo


 Era um trabalho diário que ocupava mais do que uma pessoa. Era preciso tratar dos animais na loja de manhã e à noite e durante o dia levá-los a pastar.

Na loja

 Logo de manhã cedo, mais, os homens, iam deitar de comer a todo o vivo da loja, erva, milho, ferrem, nabos...; também, ordenhavam as vacas e as cabras, se fosse altura disso. Às vacas, no tempo frio, davam “beberagens”, caldeiros de água quente, com nabos partidos e farelo. À noite, outra vez, era preciso deitar comida, fazer a cama, ordenhar..., chamavam-lhe “acomodar o vivo”.


Na pastagem 


Um lameiro de feno e pastagem

  Todos os dias, se o tempo estivesse bom, se levava o vivo a pastar, para lameiros, tapadas e “chões”, onde houvesse erva e pudessem comer. No verão, por causa do calor, levava-se umas horas, pela manhã, depois, trazia-se para a loja e só voltava a sair, pela tarde. No inverno, muitas vezes, por causa do tempo mau, o vivo não podia sair, então, deitava-se-lhe mais comida na loja.
Havia certas pastagens, com paredes ou arame farpado e cancelas, onde se podia fechar o vivo, nesses casos, ia-se levar de manhã e só se ia buscar à tarde, mas o que acontecia, mais vezes, era ter-se de guardar.
Guardar o vivo era um trabalho que ocupava os mais velhos e também as crianças; não era difícil, mas exigia responsabilidade, não podiam deixá-lo saltar para os “chões” das outras pessoas, a comer o renôvo ou a fazer outros estragos. Sempre, os pais recomendavam: “não tires os olhos do vivo, cuidado com as cabras, não quero que saltem para lado nenhum, não quero queixas de ninguém”. Podia, uma vez, isso acontecer, mas quem guardava o vivo tinha todo o cuidado.

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

O dia a dia - lavar a roupa


A presa do Marques ou da Fonte Nova 

Lavar na presa 

A roupa era lavada nas presas e nos ribeiros; nesse tempo, não se mudava a roupa a toda a hora, andava-se a semana inteira com o mesmo fato, às vezes, andava já muito sujo, claro. Mas, também havia quem não gostasse de andar sujo e, então, muitas vezes, lavava-se a camisa à noite para se vestir de manhã.
Lavar era uma tarefa difícil e demorada, mais, para quem tinha uma família grande e muitos filhos pequenos, eram sempre grandes alguidares de roupa; passavam-se manhãs e tardes inteiras na presa.

O banco de lavar


Muitas pessoas levavam para a presa um banco de madeira, para não se molharem, enquanto lavavam a roupa; ajoelhavam-se nesse banco, uma espécie de caixa, com uma base, os lados e a frente.

sábado, 28 de dezembro de 2019

O dia a dia - ir à fonte

A fonte Velha

Ir à fonte

Era um trabalho que todos os dias se tinha de fazer, até, mais do que uma vez. Ia-se de manhã, à noite e quando se precisava; quem gastava muita água, andava o dia todo a caminho da fonte.
A fonte era também um ponto de encontro e de conversa, nunca se ia lá que não se encontrasse alguém a ir, a vir ou parada no caminho a descansar; trazer um cântaro cheio, em cada mão, não era fácil, pelo menos para os que tinham menos força. Era até mais fácil trazer dois do que só um, porque ficava a força dos braços mais equilibrada.

O carrinho da fonte

Muitas pessoas, pelo menos, as que viviam mais afastadas da fonte, tinham um carrinho de mão, com uma espécie de estrado, com dois buracos circulares, onde se colocavam os cântaros. Facilitava muito, mas era preciso saber levá-lo, ter força, direção e escolher o caminho; não era para os mais novos que podiam, sem querer, deixá-lo virar.