Neste blogue, vou escrever sobre Águas Belas, deixando memória de um tempo que já não existe, mas que temos a obrigação de não esquecer. Dedico-o à minha mãe, sem o saber dela, o que escrevi não teria sido possível, e a todas as pessoas de cá, andem por onde andarem.
domingo, 23 de janeiro de 2022
Os jogos que jogávamos - o charrás
4 O charrás
É um jogo com muitas regras, mas todas as meninas o aprendiam rápido. Podia ser jogado por duas ou mais crianças. Com um pau ou um prego grande, desenhava-se no chão o charrás. Havia dois desenhos de charrás:
- Num, começava-se por desenhar um pequeno quadrado central; de cada vértice, tirava-se uma linha e uniam-se os vértices, dando origem a quatro casas. No exterior de uma delas, desenhavam-se três casas retangulares, na vertical – onde se iniciava o jogo.
- No outro, desenhavam-se oito casas retangulares: duas na vertical; três na horizontal; uma (ao centro) na vertical; e duas na horizontal.
Jogavam-se com uma “cheta”, um pedacinho de telha. Lançava-se a cheta para a primeira casa e, ao pé-coxinho, arrastava-se, de casa em casa, até se chegar à última. Terminada a primeira volta, lançava-se a cheta para a segunda casa e, assim, sempre, da mesma maneira, até chegar à última casa do charrás; a seguir, jogava-se ao contrário, da última para a primeira casa.
Quem terminasse começava a ganhar casas: em pé, de costas para o charrás, lançava a cheta e se calhasse dentro de uma casa ganhava-a; a casa ganha tinha de ser assinalada, podia ser com a inicial do nome da menina que a tinha ganho, a partir dessa altura só ela podia passar nessa casa.
Perdia-se, se a telha, ao ser lançada, não caísse na casa certa, ou se, ao jogar de casa em casa, a jogadora pisasse os riscos ou a cheta não fosse para o lugar certo; nessa altura, dava o lugar a outra menina e ficava à espera até voltar a ter vez e poder recomeçar na casa onde tinha perdido. O jogo terminava quando todas as casas estivessem assinaladas; ganhava quem tivesse mais casas.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2022
Os jogos que jogávamos: o pião
3. O pião
Era um jogo, sobretudo, dos rapazes. Não havia menino, pequeno ou maiorzinho, que não tivesse um pião. Antes de se lançar, enrolava-se, de forma correta e bem ajustadinho, o cordel ao pião, chamava-se a baraça; depois, lançava-se o pião, com a força toda que se tinha; ao ser lançado, desenrolava-se a baraça e o pião, ao chegar ao chão, começava a rodar, a rodar, a rodar...; quanto mais força levava, mais bailava.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
Os jogos que jogávamos - o berlinde
2. O berlinde
Os berlindes eram bolinhas maciças de vidro, muito pequeninas e duras, que não se partiam. Podiam jogar várias crianças, ao mesmo tempo. Faziam-se, na terra, três pequenas poças, com o feitio de um triângulo. A partir de um sítio de lançamento, cada criança lançava o berlinde, na direção da poça mais afastada.
O dono do berlinde que estivesse mais próximo desse buraco começava a jogar; seguiam-se os outros, pela ordem em que cada um estivesse. Com o toque do dedo polegar, fazia-se deslizar o berlinde na direção da primeira poça e depois das outras duas. Quando se conseguia chegar à última cova, fazia-se o percurso no sentido oposto. Depois de feitas estas etapas, podia-se começar a acertar nos berlindes dos colegas e a ganhá-los.
Perdia-se, sempre que não se acertava no buraco; quando isso acontecia, dava-se a vez a outro jogador e ficava-se à espera até voltar a ter vez; nessa altura, recomeçava-se no ponto onde se estava. O jogo terminava, quando todos os berlindes fossem alvejados e ganhos por alguém.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2022
Os jogos que jogávamos - o acha-brasa
Era um tempo em que não havia brinquedos, ter uma boneca ou uma bola de plástico, era o máximo a que se podia aspirar; quase sempre os brinquedos eram feitos pelas próprias crianças, carrinhos de madeira, bolas e bonecas de trapos, rodas com guiadores…
Não havia televisão, os miúdos viviam na rua e brincavam ao que sabiam. Muitos destes jogos eram realizados em qualquer lado, desde que houvesse espaço livre.
1. O acha-brasa
Jogava-se nas paredes dos cabanais, das varandas, na rua, nos terreiros…, onde houvesse espaço e sítios para esconder a “brasa”, um trapinho qualquer ou um lenço das mãos que alguém tivesse no bolso. Enquanto o jogador que tinha a brasa a escondia, os outros fechavam os olhos, até ouvirem dizer:
- Já, podem abrir.
Então, todos começavam à procura da brasa, nos buracos, debaixo de pedras…, onde calhava. Às vezes, punham a brasa em sítios tão difíceis que era muito difícil dar nela. Quando isso acontecia, quem a tinha escondido ia dando ajudas; conforme os jogadores se afastavam ou se aproximavam da brasa, dizia: - frio, frio, muito frio; ou, morno, morninho, quente, muito quente…
O que estava muito quente, estava próximo de achar a brasa e, claro, todos a iam procurar nesse sítio e não demoravam a dar nela. Quem achava a brasa, passava a comandar o jogo. Às vezes, podia-se andar, várias horas, neste jogo de esconde e acha.
sábado, 1 de janeiro de 2022
Expressões Populares
• “Olha que vêm lá os guardas; vou dizer aos guardas que te levem”.
• “Passa a vida na borga, tanto se lhe dá como se lhe deu”.
• “É muito joldeira, está sempre pronta para ficar a brincar, a conversar…; sai de casa só para ver se encontra jolda”.
• “Tem falta de modos; não tem nenhuns modos”.
• “Não tem tento. nenhum”.
• “É muito bem-mandado, nunca diz que não, faz tudo o que lhe mandam”.
• “Andam de candeias às avessas”.
• “Anda nas bocas do povo”.
• “Anda sempre de ventas.”
• “Dar a Salvação: - Venha com Deus. -Vá com Deus”.
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